Conheço o pau pelo cheiro!
Te acalma, Não loqueia que vou explicar. Este causo começa há mais de 40 anos no Guanabara, na Ilha do Sapo, onde ficava o Bar do Beato próximo a Escola Municipal Anna Maria Harger, que foi considerada a melhor escola pública do Brasil, quando Luiz Henrique era prefeito.
Depois de sumir uns anos, o piazote voltou, chegou no bar e o dono se espantou.
Ué onde andava?
Estava estudando. Me formei e agora estou trabalhando. Me dá uma gelada e uma cachacinha.
Mas estudou para ser o que? Questionou o bolicheiro.
Engenheiro Florestal - respondeu
Você tem motoserra? Faz poda?
Não, nada disso, é engenharia que trata de manejo florestal, reflorestamento, licenciamento ambiental, inventário florestal, pesquisas de fauna e flora. Coisa complicada- explicou
Tá bom, concluiu concordando o dono do bar, onde o engenheiro, quando cidadão do Guanabara frequentava.
Gostava de matar aula no Anna Maria para ver o carteado, que futuramente seria útil no orçamento doméstico e também gostava de sinuca bebericando uma branquinha vinda de um alambique de São João do Itaperiú.
A esta altura os habituais frequentadores, malandragem do Guanabara, Itaum, alguns do Fátima e dois velhos do Bucarein se achegaram e lembraram do sujeito e já desafiaram.
Conhece madeira é? quero ver..
Conheço o pau pelo cheiro! Se exibiu.
Essa quero ver - gritou um mais exaltado em tom desafiador e já com três cervejas na cachola. Em seguida a gambazera toda combinou que no final da tarde cada um traria um pedaço de madeira para testar os conhecimentos do engenheiro de madeireira.
Lá pelas seis e meia da tarde começam a chegar os conhecidos, cada qual com uma amostra para o desmascaramento do topetudo. Imagina um piazote metido desses querer se agigantar. Reunidos meia dúzia em volta do balcão gasto pelos cotovelos e pelos joelhos que firmavam na parede pressionados pela banqueta onde sentavam para bebericar. E na parede atrás do balcão, várias garrafas de uísque barato, conhaque, bitter bonnekamp, outra cheia de cachaça com formiga saúva dentro que é bom para circulação e mordida de bichos em geral. E quem sentava nas banquetas ficava sempre de cara com uma “folhinha” calendário antigo, já amarelado pelo tempo do Luiz Henrique, quando havia sido deputado estadual. “Fez a ponte do Trabalhador, quando se elegeu prefeito”, alguém sempre citava. Era quase um oráculo para quem colocou Guanabara no mapa.
O especialista já estava lá. Pediu uma porção de linguiça frita, sem questionar a procedência. Uma branquinha daquela que mata o guarda e uma Antarctica. Iria começar o teste:
Primeiro item um tamanco feito em Rio dos Cedros;
Fácil. Canela-branca, que já está em extinção. Só se encontrava no alto vale. Se olharam e desafiaram. Vamos ver esta amostra.
Pegou o pedaço de madeira, olhou cheirou, virou e deu mais uma cafungada. E deu o veredito:
Lâmina de Jacarandá, usada nos anos 60 nos móveis finos da Cimo de Rio Negrinho. Aí a platéia começou a ficar preocupada pois se ele acertasse tudo teriam de pagar um engradado de Antarctica e a porção de linguiça de procedência duvidosa.
E veio a terceira amostra. Também muito fácil
Mogno vindo do sul do Pará e foi utilizado em fino móvel de luxo. Pelo perfume era de uma penteadeira de uma casa de tolerância. Acertou.
Quinta amostra uma lasca de madeira bem encharcada, mau cheirosa e com pontinhos de fungos.
Com certeza Carvalho. Cortado há 70 anos no Mato Grosso, virou tonel de vinícola e a vida toda fermentou vinho tinto com uva Itália e pelos pontos de zinabre da oxidação também foi usado para vinagre. A esta altura todos estavam fazendo contas do prejuízo em rachar a caixa de cerveja. Afinal não ia ficar barato. Até que chegou outro e fez um último desafio:
Você identifica mais uma amostra. Se acertar ganha a cerveja, a linguiça frita de procedência incerta, a cachacinha e ainda apostamos um carteado. Aceito o desafio, trouxeram a última e decisiva amostra.
Vocês estão querendo perder dinheiro mesmo. Podem ir se coçando, disse rindo o papudo.
É brincadeira né? Esta amostra é Handroanthus Serratifolius, coberta por secreção de cannis guanabariensis sofrendo de coprofagia. Silêncio total no boteco. Todos se olharam, sentiram que o piazote ia levar os pilas deles.
Você é muito papudo. Inventa palavreado difícil para nos enrolar como fazia no jogo de cartas. Desafiou um mais exaltado. E tranquilamente o doutor das árvores traduziu.
É um galho de Ipê Amarelo, que está ali na frente melado com merda de de cachorro que comeu o próprio cocô. Lambeu todo o graveto mas deixou vestígios. Como eu disse o Pau conheço pelo cheiro!
Dado o laudo só restou pagar a conta
Perdemos! o piá tem repertório. Foram para a mesa do baralho perder mais uma mão.
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