Filosofadas do gringo da churrascaria
A prosa sem compromisso com o gringo dono da churrascaria sempre era boa. Além da boa carne, de procedência não verificada, pois fofocavam que era de abigeato, os aperitivos de entrada faziam a alegria dos clientes.
Os aperitivos ficavam numa ampla mesa, na entrada da churrascaria, à esquerda do salão, encostada numa parede com duas flâmulas fixadas na parede milimetricamente a do Inter e a do Grêmio e tinha mais para o lado a do Ypiranga Futebol Clube. Havia um sortido de garrafas de aperitivos. Agradava a todos.
Tinha cachaça com butiá, com morango, abacaxi, ervas e uma garrafa esquisita cheia de formigas. O gringo jurava que o veneno da formiga era poderoso para várias doenças, inclusive “ficar forte com as mulheres”.
Como o gringo era zoneiro, o pessoal até acreditava. Era casado com uma italiana vistosa, mais bonita que laranja de amostra. Ela sim atraia olhares e encantava os clientes.Muitos iam na churrascaria só para ver a Sofia Loren da churrascaria, pois a beleza era igual a da artista italiana. Quando ela atravessava o salão, a churrascaria parava e não se ouvia nem zunido de mosquito.
De vez em quando meu sobrinho Fábio Pichler quando sobrava uns trocados ia almoçar lá na churrascaria, mais para ouvir a filosofia profunda do gringo.
Num sábado por volta das 11 horas os dois estavam no balcão do caixa e a prosa ia esquentando. O gringo no caixa e Fábio sentado num banco daqueles alto de balcão de bar. Se aventurou na dose da formiga com cachaça, pensando “vai que faz efeito”. O gringo começou a “queimar campo” contando as façanhas e aventuras na zona de Erechim e meu sobrinho viu o perigo das confissões. Gringo não viu a Sofia Loren se aproximar e ouvir a conversa toda. Ela Só pegou uma toalha dessas que usam para limpar as mesas e tacou na orelha do gringo. Ele nem viu de onde veio o marimbondo. Ficou dois dias com o ouvido zunindo.
Te fiz sinal, seu gringo carniça! disse meu sobrinho e o gringo desatou no gemido e na filosofia.
Esta gringa do demônio não sabe o quando eu amo ela. Ela que nem chega perto de mim e o pior de tudo é não ser amado.
- Mas como não ser amado? Ela vive aqui, trabalha com você e cuida de tudo e ainda ficou com ciúmes das tuas mentiras, argumentou meu sobrinho.
Nada! é uma ingrata. Dorme no outro quarto e você tem que entender meu sofrimento, disse o gringo abrindo o coração. Pegou um garrafão de vinho que guardava nos pés dele, embaixo do balcão do caixa da churrascaria. Encheu um bicherote de tinto seco e tacou nos beiços. Tomou tudo num gole só. Os olhos já ficaram vermelhos, a pele mudou de cor e uma lágrima caiu de seus olhos.
O que houve vivente?. Para com isso- disse Fábio tentando acalmar o gringo que suspirou profundamente e largou uma filosofia que traduzia sua vida
“Muié feia é que nem pantufa. Dentro de casa vai, mas na rua dá uma vergonheira” Mas esta daí que me maltrata é bonitona mas não me quer e eu nem quero mais saber de ninguém nem da vida porque “um homem amar sem ser amado é que nem se limpar sem ter cagado”.
Depois desta filosofada profunda, só restou ao meu sobrinho terminar a dose de cachaça com formiga e correr para casa para ver se faz efeito, antes que “Sofia Loren” voltasse com o pano de louça molhado.
Conselho, sempre olhem pelo espelho ou dêem uma olhada para trás.