Na última semana eu estava entrando em um supermercado e no alto da escada rolante um velho amigo me vê, para e me espera para me cumprimentar e conversar. A conversa agradável de tempos em que trabalhávamos juntos.
E volta e meia, durante a prosa em pé mesmo no alto da escada, ele me aconselhava a voltar para a “loja” que eu não deveria abandonar, que eu repensasse. Assim percebi que ele estava me confundindo com outro caboclo que de vez em quando me confundem com ele. eu só queria o patrimônio e a conta bancárias deste outro. Não esclareci na hora, pois seria indelicado lembrá-lo que eu sou o Benhur, jornalista e não o caboclo de São João do Itaperiú que tem um colchão cheio de notas de 200 e que frequentava a “loja”. Nos despedimos e segui para as compras, mas fiquei lembrando de um episódio que envolve o vivente que confundem comigo.
Este personagem quando jovem morava na Boa Vista. Sujeito forte, com um metro e sessenta e cinco de altura era forte como um cepo de angico. Acostumado a ombrear sacos de cimento na loja do pai. Com uns 15 anos era o terror alí perto da rua São Miguel no Boa Vista. Brigava, arrumava encrenca e não perdia uma briga.
Certa vez ele e mais dois amigos resolveram que tinham de ir na soiree do Salão Jacob, no Piraí, conhecer umas “alemoa”. E se foram de bicicleta pelo Boa Vista, atravessaram o centro, pegaram a rua 15 e foram em frente.Com a vontade de chegar percorreram os 20 quilômetros em cerca de uma hora não dando folga ao pedal.
Chegaram no Salão Jacob, o baile estava fervendo na tarde de domingo. Deixaram as bicicletas ao lado, ajeitaram as roupas, tiraram as borrachas da perna da calça que se usava para não enroscar na corrente e nem sujar de graxa as pantalonas novas. Espelhinho, pente no cabelo, desodorante que traziam numa sacola de mercado. Se achavam o galã da novela.
No salão a alemoada bailando com um conjunto afamado da região. Um bandoneon, bateria, baixo, guitarrista e outro com um instrumento feito de lata de margarina Primor, uma haste de madeira, cordas e que tocava com um serrote. Era tudo festa. Chopp bom feito em Joinville e uma cozinha de dar água na boca.
Os galãs do Boa Vista já espicharam os olhos para as “alemoas” e sem cerimônia começaram a tirar as moças para dançar. rodopiavam no salão, trocavam de prendas e assim se foi até que cada uma se afeiçoasse a cada um deles. Lá pelas seis e meia da tarde, meia hora antes de terminar o matinezão já estavam apaixonados e convidaram as moças para dar uma volta ali pela região para se conhecer melhor.
Os três mosqueteiros do Boa Vista saíram do Salão Jacob e tiveram uma recepção bem forte. Os “alemão” não gostaram de ver os caboclos cortejar as moças do Piraí e o paredão todos com braços cruzados e sem caras de bons amigos parecia o intransponível muro de Berlim.
Um olhou para o outro e cochicharam. No três corremos pegamos as bicicletas e vamos sair daqui.
Assim fizeram, só que as “zikas” as estavam com os pneus vazios. Sem chance de fuga. O mais esperto, aquele que me confundem às vezes gritou Macaco, Tomaz corre que tá ruim para nós.
Pegaram a Estrada Comprida e sumiram na braquiária. Pararam a corrida já perto do posto de gasolina no final da rua 15 no bairro Vila Nova, respiraram e voltaram a pé. Após quatro horas de caminhada de volta, pela meia-noite chegaram em casa no Boa vista. Quietos, cada um na sua casa foram dormir. No dia seguinte o pai do vivente perguntou:
E a bicicleta nova que te dei?
Não sei, Ontem estava aí. Acho que algum alemão levou, respondeu e já falou para o pai que tiraria uns dias de folga para visitar os parentes em São João do Itaperiú. Assim se foi e ficou uns 15 dias até baixar a poeira, se recompor e saber o que faria para comprar outra bicicleta. Voltar ao Piraí para buscar estava fora de questão.
As bicicletas dos malevas? Parece que foram usadas para a “alemoada” construir uma “centopéia” de bicicletas para os desfiles.
Os namoradores do Boa Vista nunca mais foram vistos nas soirées por aqueles lados.