domingo, 29 de outubro de 2023

O puxadinho no galinheiro

 

     

No pequeno galinheiro moravam três galinhas poedeiras. Sempre com boa convivência, cada qual com sua bacia de ração e suas folhas de alface e outras hortaliças. Em retorno produziam um ovo cada qual, de boa qualidade. Criadas sem hormônios e as verduras ao natural da grande horta. É o que os moderninhos chamam de orgânico.

 

Certo dia uma delas morreu. As duas outras até ensaiaram um choro, enfim a comadre faria falta no galinheiro. Consternado com o sofrimento das que ficaram em luto, meu sobrinho Fábio tratou de arrumar uma outra para que as três cajazeiras voltassem a sorrir cacarejamente e dar bons ovos.

 

Chegou com uma penosa que mais parecia uma perua, mais jovem e mais ativa e toda prosa. Desfilava no galinheiro e cacarejava forte a cada ovo “ponhado”. No primeiro instante o santo não cruzou. As duas mais antigas partiram para cima, e dá-lhe bicada na cabeça, nas asas e não perdoaram nem a sambiquira da novata. Da janela da casa o patrão fiscalizava e viu que a coisa estava feia, iria acontecer uma tragédia no galinheiro.

 

Soltou as três no terreno para ver se era um stress pelo confinamento. Ao se verem soltas aí sim o bicho pegou mais forte, as duas veteranas corriam atrás da novinha e era pena para todo lado. Bicada, coice de espora, unha no olho, asada, coisa feia, pior que briga de torcida de grenal com umas serramaltes a mais na cabeça.

 

Foi uma confusão. Corre atrás de uma, pega duas, foge de novo e assim foi. Separadas, duas amigas mais antigas ficaram em seu galinheiro e a terceira recém chega apartada. Solução foi fazer um puxadinho no galinheiro e separar as três.

 

Voltou a reinar a paz no galinheiro. As duas irmãs acham que venceram a parada e a novinha ganhou um apartamento só para ela. E olha, nem galo tinha por ali para alimentar a ciumeira.

 

Os ovos? Grandes, gema bem amarela, deliciosos numa gemada para passar no pão, ou fritos na frigideira para começar bem o dia. E num domingo de chuva nada melhor que isso.


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Boas recordações de uma infância saudável, alegre e farta


As recordações que tenho de minha infância são ótimas, mas entendo que milhares de crianças no mundo não as tiveram. Em casa tínhamos um  clima de harmonia, de respeito, de carinho e amor. Fatura na mesa e aquecimento humano. Era tempo de novelas de rádio, visitas dos compadres e comadres em nossa casa e também de passarmos o dia na casa de amigos. 


As brincadeiras na rua iam até tarde da noite. Brincadeiras inocentes entre garotas e garotos, jogos de futebol, amarelinha, se esconder e pegador, caçar vagalumes e dependendo da situação tinha guerra de bosta de cavalo, que juntávamos nas ruas para atirar uns nos outros. Tudo coisa saudável. Era comum, devido ao cansaço, ir para cama sem banho, principalmente no terrível inverno.


Era uma criação direta sem mimimi sem as chatices do politicamente correto que estamos amarrados na atualidade. Comíamos de tudo, os lanches da tarde eram com K-Suco que deixava os beiços pintados de encarnado, bolachas que nem sabíamos a validade, compradas no armazém de secos e molhados.  Nada fazia mal.


Íamos em grupos para a escola, com frio, com chuva e sempre a pé. Nada de carro ou van escolar. Tudo era alegria e após as aulas, era rua, brincadeira até ouvir o grito da mãe para entrar em casa. A mãe dizia que eu era vacinado com poeira da rua. Mas era divertido.


Todos respeitavam pai, mãe, professoras e os vizinhos que controlavam a criançada apenas com um olhar, porém a mais temida era a vara de marmelo que ficava pendurada num prego na cozinha, bem sequinha atrás do fogão à lenha.


Existia a meritocracia e merecimento. Cada laçaço, por merecimento, levantava vergão na pele. Mas hoje é dia 12 de outubro, Dia da Criança e da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Melhor rezar para ter juízo e evitar os vergões da vara de marmelo. Vamos aproveitar o feriado.