domingo, 24 de dezembro de 2023

O valente que enfrentou o Papai Noel

 


Este fato verdadeiro, real, verídico e com testemunhas ocorreu por volta de 1968. O personagem era metido a valente, chamava todos de imbecil, pois achava a palavra bonita, sonora e uma ofensa muito grande quando dita de boca cheia e alongava a sílaba final esticando o iiillll. Com certeza não sabia o significado, mas xingava quando contrariado.

 

Era comum as famílias saírem à noite para ver as vitrines das lojas, coloridas com novidades e muitos nem compravam, mas iam pelo espetáculo, pela iluminação, enfeites e também para dar uma volta e se refrescar no verão com alguma brisa noturna. O ponto tradicional e chic era o Café Grazziotin, localizado no coração da cidade na avenida Maurício Cardoso, em Erechim. Lá havia gente, movimento, música, café, lanches e gasosinhas, incluindo a Laranjinha Balvedi.

 

Naquele dia durante a tarde avisaram o valente que iriam ver o Papai Noel no centro que ele se arrumasse para dar uma volta, ver as vitrines e fazer um lanche no Café Grazziotin, que era o ponto alto do passeio.

 

Lá por volta das sete da noite todos arrumados, perfumados saíram de casa da rua Liberato Salzano, subiram a íngreme rua Itararé, na época sem calçamento, ainda. Era uma lomba de doer as batatas das pernas e chegar sem fôlego no topo. O valente com ar de sobra foi contando vantagens de que enfrentaria o velho de vermelho, já que todos em sua casa eram gremistas, que daria um coice no Velho Noel com sua botinha ortopédica, pesada e de material duro para dar formato ao pé chato do valentão, pois antigamente era necessário corrigir, já que pé chato não ia para o Quartel.

 

Feita a conquista da subida da lomba da Itararé, seguiram em direção ao centro e o valentão firme discursando do que faria e o casal provocava o metido.

- Mas o que você vai fazer quando ver o Papai Noel, ele dá balas e traz presentes? – indagou a irmã do maleva.

- Vou dar um coice- respondeu.

- Mas e as balas que ele tem no saco, não vai querer? Retrucou o cunhado.

- Vou dar um coice e um soco.Disse o valentão.

- Então está bem, aproveita agora que ele está aqui bem pertinho. Desafiou a irmã. Já que estavam próximos do Papai Noel que vinha pela avenida distribuindo balinhas para a criançada.

 

Ao ver o Noel, o valentão ficou branco, olhos arregalados e aquele sujeito enorme seria difícil de abatê-lo. Deu um salto e pulou nos braços do cunhado para se proteger.

- Não foi nesta noite que ele enfrentaria o velho fantasiado.

 

Refeito do susto seguiram para ver as lojas e fazer o lanche no Café Grazziotin. Mal conseguia segurar a pequena xícara de expresso, com seus dedinhos pequeninos. Nunca mais tocaram no assunto.

 

Mas lembro com carinho de meu ato de valentia aos 4 ou 5 anos de idade em uma noite que minha irmã Belmy (Pepita) e meu cunhado Pedro Pichler me levaram para ver o centro iluminado e principalmente vitrines encantadoras como da Plasticolândia onde havia brinquedos de todos os encantos como Forte Apache, trenzinho elétrico e autorama.

 

Enfim sobrevivi ao enfrentamento e já se passaram quase 60 anos.

 

Feliz Natal para todos nós e nunca banquem valentia se o Noel for maior.