domingo, 25 de agosto de 2024

E ELA VEIO POR CIMA

Geralmente acordo de madrugada e neste domingo, meio sonolento vi dois olhinhos na porta, me observou e entrou sorrateiramente no quarto. Veio em direção a minha cama e pé ante pé, sem fazer qualquer barulho e com muito cuidado se aproximou.


Chegou aos pés da cama e subiu. Deitou em cima, se aconchegou, virou de um lado para o outro até se sentir confortável. Me olhava e eu com vontade de ficar um pouco mais acobertado e sonolento, dormindo a conta-gotas. Virava a cabeça, me olhava com olhar provocante. Nem dei bola.


Meia hora depois levantei, tirei ela de cima e sai da cama. Afinal um domingo bonito como este, de sol, melhor ir tomar uma xícara de café preto e depois caminhar um pouco.


Tirei ela de cima da minha alpargatas, porque não queria pisar no piso gelado.Esta tartaruga é abusada, se apaixonou pela minha alpargatas e todos os dias deita em cima para dormir. Ali fica.


Só que me falta perder minha chinela para uma tartaruga.


sexta-feira, 2 de agosto de 2024

A CASTELHANA DISPUTADA

 Cheguei na casa de um amigo de longa data e bati palmas no portão. Nada de ele aparecer. Insisti e logo em seguida veio um cusco latindo, mas me reconheceu a já pulava na cerca e abanava o rabo. Era o Leonel Brizola. Sim este era o nome do cusco de pelagem preto e branco. Logo apareceu Luiz Carlos arrastando as alpargatas trazendo um lamento de tristeza e desamor. Cada passo deixava o rastros de sua dor. Imaginei, só pode ser coração partido.


  • Buenas vivente. Que cara é essa? Te descobriram com cartas a mais escondidas na  guaiaca na carpeta?

  • Entra aí. Nada disso. Foi pior, aquela castelhana hija de una p…

  • Não louqueia e me conte, falei.


Sentamos no cepo nos fundos da casa, tomamos um mate com uma cachacinha da boa e umas balas de menta para espantar o gosto na hora de ir embora.


  • A castelhana se enrabichou por um colafina com tufo. Um tal de Adair, metido a peão de rodeio, desses exibidos que fazem apresentações. Para mim não passa de mais um palhaço de circo. 

  • Mas também, o que você quer, criado xucro, todo lanhado pelo aramado, e nem adianta ameaçar que vai sangrar o sujeito com a prateada. Argumentei.

  • Isso não vai  ficar assim. Vou amarrar as tripas dele no mourão da estância.Ameaçou com olhos vermelhos.

  • Sossegue. Seja inteligente. Amarre uma carreira em cancha reta e quem vencer fica com a castelhana. E não adianta ficar embretado, corcoveando porque vão te dar relhaço nas orelhas.


No domingo de tarde, conforme acertada a carreira, Luiz Carlos preparou um bagual baio mais brabo que enxame de lecheguana. Adair se apresentou com um tordilho mais enfeitado que cavalo de cigano.


Marcava três da tarde quando os dois se alinharam no partidor e foi dado o tiro de 22. O baio saiu na frente e logo em seguida o tordilho avançou por dois focinhos. Matreiro como era nas cartas Luiz Carlos gritou para o oponente: 


  • A castelhana está te abanando…E o enfeitado sofrenou o tordilho para retribuir o galanteio da correntina. Assim o bagual baio ganhou terreno no  prado e cruzou a linha vencendo a cancha por três corpos. 


Disputa limpa, e a castelhana que era muito boa na milonga e louca por chamamé jogou seu lencinho para Luiz Carlos que não arrasta mais alpargatas e sim as chilenas de prata acompanhado de seu cusco Leonel.


  • Leonel, desta vez ganhamos no jogo e no amor. O cusco entendeu e abanou o rabo e abocanhou um generoso pedaço de charque.