Un regalo de Dios
Reconstituído da pauta “molezinha” no Planalto Norte, o Zé Gayoso chegou ao nosso escritório, que ficava ali na subida da rua Emílio Blum , lateral da Hercilio Luz, quase ao lado da sede da Casan, em Fkorianópolis e começou a distribuir os roteiros de viagem. Fulano para cá, cicrano pra lá e preciso de um que faça fotos e faça o roteiro das senhoras no extremo oeste. Adivinhem para quem caiu a missão. Pois é. Sempre gostei do Oeste catarinense onde o povo é hospitaleiro, amigo, recebem as visitas muito sempre com uma cuia de chimarrão, balinhas e na hora da comida não há miséria. Mesa farta.
Vamos lá.Coisa tranquila 855 km de estrada cortando as terras Por Toda Santa Catarina. No mínimo 12 horas sovando dentro de um carro. O corpinho chegava moído, só querendo um bom chuveiro quente, sopa leve, chá de cidreira ou camomila e cama. No dia seguinte o roteiro por Maravilha, São Lourenço do Oeste, São Miguel do Oeste e terminaria em Dionísio Cerqueira.
Mas chegando em Dionísio, a tentação de cruzar a aduana e comer uns alfajores, comprar dulce de leche e uns vinhos era muito grande.
Me aventurei. Cheguei na aduana e a polícia argentina mandou parar. Perguntaram onde iria , quando voltaria, revistaram o carro e mandaram voltar para preencher la tarjeta.
De donde viene y a donde va? - questionou o policial argentino
Vengo de Florianópolis y solo quiero dar un paseo, comprar algunos regalos y ya vuelvo, respondi
Regresa, estaciona y llena el formulario y luego puedes asegurar el viaje- orientou.
Si señor, gracias- respondi e com a identidade preenchi e retornei.
Adentrei a República Argentina, em Bernardo de Irigoyen. Segui adelante e fui experimentando os doces, visitando lojas de vinhos, olhando e percebendo as diferenças de arquitetura e a pobreza do lado argentino. Caminhando pela rua Andrés Guacurari já se encontra mercados, lojas de perfume, de bebidas e doces. É só encher as sacolas. Aceitam reais, pesos, guaranis, dólares, euros. Se quiser trocar por um leitão gordo ou umas galinhas, também tem negócio.
Comprei alguns alfajores e doces de leite e também resolvi comprar uma caixa de bom vinho. Tudo acondicionado no porta-malas com cuidado de não exceder a cota permitida pela Receita Federal.
Tudo ia bem já me preparando para voltar ao lado brasileiro, Tudo legalizado nada de problemas, mas eis que veio uma voz do além me lembrando de um comentário feito pelo Grando em São Miguel do Oeste no dia anterior: - Não passem pro lado de lá para fazer compras. Se a turma do 11 desconfiar vão fotografar e fazer um carnaval.
Daí olhei para a caixa de vinhos com dor no coração. E imaginei eu tentando atravessar, com a poliçada argentina abrindo , vistoriando e se alguém do 11 estivesse ali para flagrar. Quais manchetes poderiam sair: “LHS manda contrabandear vinho”; “LHS prefere vinhos argentinos em detrimento dos catarinenses da Serra”; “Equipe de campanha faz contrabando”, “Estado perde com evasão de divisas”. Na hora deixei de lado meu desejo de trazer a caixa de Catena Zapata, de uvas cultivadas em Mendoza.
Sentei dentro do carro, olhando a aduana, abri uma garrafa bebi no bico mesmo alguns goles para degustar com alguns alfajores. Meti os dedos dentro o pote de doce de leite e apreciei demoradamente o doce derreter na boca e adoçar a alma sofrida com a situação que viria a seguir. Peguei a caixa com seis garrafas, uma aberta e já bebericada e chamei um dos habituais borrachos que vivem pelas ruas de Bernardo;
Hola amigo tengo un regalo para ti - chamei o gambá e lhe entreguei a caixa.
Dios mío, no creo.A que le debo este regalo?- questionou agradecido.
Es un regalo do Zé Gayoso lá de Florianópolis. Disfrute! E retornei para a aduana, sem problemas e sem temor.
E ainda tinha mais 855 quilômetros de volta. Mais uma pauta “molezinha”. Bem que eu poderia cobrar a conta do Gayoso com juros após 15 anos. Bela poupança. Poderia ser pior. Outra equipe tinha um motorista que queria trazer um curió no porta-malas. Imagina seria crime federal inafiançável se pego nas barreiras da PF, PRF e Receita. Saiu barato!
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