Raios, vendaval e dor de barriga
Em 2006 o chefe Zé Gayoso me escalou para cobrir o roteiro feminino da campanha de reeleição de Luiz Henrique ao governo de Santa Catarina. Era um grupo liderado pelas esposas dos candidatos
- Tio Ben, você acompanha as senhoras. É “molezinha”, leva a máquina faz as fotos, dirige e aproveita os cafés – Aconselhado aceitei na hora a pauta e me preparei para a viagem. Coisa pouca uns 1.200 km ida e volta.
Seguimos ao Planalto Norte. Roteiro por Campo Alegre, São Bento com pernoite no tradicional e magnífico Stelter Hotel, cujo padrão de qualidade, especialmente da culinária faz inveja aos melhores do mundo. Dia seguinte seguimos viagem Rio Negrinho caminhada pelas ruas e café da tarde. Excelente. O roteiro previa seguir direto para Porto União e depois voltar para Canoinhas e Mafra. Tudo dando certo.
Em Porto União fizemos a caminhada liderada pelas senhoras e o prefeito Eliseu Mibach, bom de voto e de prestígio. O almoço estava agendado em um restaurante perto da Igreja Matriz Nossa Senhora das Vitórias, na subida da ladeira que leva a Matriz. Pancinha cheia, cada um no seu carro seguiríamos para Canoinhas e Mafra.
Só que na saída de Porto União o tempo fechou, nublado, ventania, trovões. Tempestade feia. Roteiro cancelado e deveríamos retornar a Florianópolis. Só mais 521 quilômetros de estrada. Fácil, fácil se não fosse a intoxicação do almoço. Após 15 minutos de estrada eu suava gelado, barriga inchada e não saia nada nem por cima nem por baixo. Desespero tomando conta e muita estrada pela frente. Tempo fechado. Eu não atinava mais nada, nem ouvia, nem via e era uma tontura um mal estar que parecia que o coisa ruim tinha vindo me buscar. Já estava até ouvindo: “Gordinho, chegou tua hora. Vim te buscar, pecador”. Assim foi esta agonia por quilômetros. Cheguei na BR 116. Mais uma agonia para atravessar a pista e pegar o sentido Mafra. E a barriga enorme, parecia Dona Redonda da novela Saramandaia. Pensei. Vou explodir aqui no meio do nada. Chegou meu fim, e suava frio. Suspense e terror. E naquela região naquela época, há 15 anos, celular nem pensar. Era mais fácil sinais de fumaça e tambor.
Cambaleando cheguei no trevo de Mafra que dá acesso a rodovia BR 280 que vai a Rio Negrinho e o tempo fechado com trovões, chuva grossa e aumentando. E começou a apertar a ventania. Pouco antes do acesso a Rio Negrinho tem uma ponte com uma rotatória de entrada para rodoviária e ao centro. Só vi outdoors voando, placas de propaganda e sinalização. Encostei o carro e só me restava rezar. Imagina morrer aqui no temporal e ainda com a pancinha desse jeito. Se me encontrarem todo cagado? O que será que vai na lápide: Aqui jaz...Fica por conta de vocês.
Rodovia parada, rio subindo, ventania, raios e trovões. Era o fim do mundo, o apocalipse. A besta veio buscar os hereges. Retornei a pista e mais um outdoor passou riscando o teto da Doblò Adventure que eu tinha. Tentei chegar num posto de gasolina próximo. Embiquei o carro para me abrigar, e lá se foi o teto do posto. Saiu voando. Rapidamente virei à esquerda e voltei para pista. Devagarito só cuidando o vendaval que derrubava árvores, placas, postes. Logo em seguida na subida que vai para São Bento tem uma churrascaria Amigos da Estrada, que estava aberta ainda. Não tive dúvida. Parei, estacionei e corri para dentro, atravessei o salão rapidinho porque os banheiros ficavam do outro lado no canto esquerdo. A moça da recepção saiu correndo atrás de mim para me entregar a comanda. Já volto, já volto, avisei. Não poderia perder nem um segundo. Só pensava na salvação divina.
Passado o pior retornei despacito para Joinville e liguei para o chefe Gayoso:
- Gayoso, olha pauta legal essa, “bem molezinha” como você disse que seria, mas preciso dormir em Joinville e um dia de folga.
- Bacana Tio Ben, te prepara para São Miguel do Oeste na sexta.
Desliguei o telefone e fui para o banho e dormir após um chá de boldo, bem quentinho. Pauta “molezinha” e almoço daqueles, Nunca mais. E a pauta de São Miguel do Oeste? Esta conto outra hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário