quinta-feira, 11 de março de 2021

Calça Larga e o ajutório

 Calça Larga e o ajutório


Ontem conversando com o amigo Pedro Cazlza de Treze Tílias, uma das cidades mais bonitas e agradáveis  do mundo, lembramos outras dezenas de causos que vivenciamos percorrendo estradas e cidades por toda Santa  Catarina.


E por falar em lageanos, como contei a história do lockdown, lembramos de outro vivente serrano. O ícone emedebista Calça Larga, um dos fundadores da sigla em Lages. Nunca arredou o pé, sempre no mesmo o partido passando por dificuldades de escândalos e ostracismo. Continuou firme acreditando e lutando pelas cores emedebistas.


Mas esta história pode já ter sido contada pelo Tio Dorva, biógrafo do governador e senador Casildo Maldaner nas duas edições do Casildário. 


Era 1999, século passado. O Casildo, que presidia a sigla,  empreendeu a Jornada da Unidade para percorrer o Estado e unir os vários segmentos do PMDB. Na época eu trabalhava com o Luiz Henrique que era prefeito de Joinville e pretendia concorrer a governador em 2002, quando se elegeu sem ninguém acreditar que seria possível tal vitória. Num dos roteiros pelos municípios serranos estávamos já em Campo Belo do Sul ou Cerro Negro, não lembro mais precisamente. Chegou um sujeito de boné, camisa aberta, calça larga meio caindo e  puxou prosa:

  • Não te conheço! Interpelou.

  • Sou o Benhur, assessor de comunicação do Luiz Henrique, é a primeira vez que venho neste roteiro- respondi

  • Ahhh. Tá bom home. Eu sou o Calça Larga de Lages, fundador do MDB e ali naquele auto em “truxe” a minha amante e os “fíos” dela- disse apontando para o chevette meio ruinzinho.

Olhei, assenti com a cabeça e disse que era um prazer conhecê-lo.

O Casildo já chegou? Perguntou e respondi que o Casildo e o Luiz Henrique vinham em outro carro que estavam chegando porque fomos até Anita Garibaldi e Celso Ramos onde visitamos as obras da barragem que estava sendo construída.

Logo após  uns 40 minutos chega o Casildo e Luiz Henrique com uma camioneta emprestada de alguém da região porque era impossível trafegar com carros pequenos. Não havia asfalto ainda.

Mas foi o tempo de avistar Casildo que o Calça se achegou.

Cumprimentou a todos, adulou e foi direto ao assunto:

  • Casildo, me arruma cinquenta reais pro combustível. Pediu

  • Calça, tá difícil não tenho mais. Cada cidade é um ajutório para dar para vereador, candidatos, povaréu vendendo rifa e até número de sorteio de bolo. Respondeu e ia seguindo pelo salão rumo ao palco para a reunião que começaria em seguida.

Mas o Calça Larga que era um caboclo matreiro puxou do bolso da camisa do Casildo uma carteirinha dessas que dizia Senador. E a surpresa. Tinha uns 200 pilas ali. Quatro notas de 50. Rápido nem teve dúvidas, fez o confisco. Pegou três notas e devolveu uma de 50 para o senador.

  • Casildo pode ficar com essa aqui  para ajudar o pessoal - disse ele esticando o braço e alcançando ao senador a carteirinha a nota de R$ 50,00.

Esta é mais uma personagem que encontramos pelas cidades e estradas de Santa Catarina nas batalhas eleitorais. Gente boa, de coração grande como é o Casildo Maldaner e tantos outros líderes que enobreciam a atividade política.




quarta-feira, 10 de março de 2021

O lageano e o lockdown



O lageano e o lockdown






Na segunda-feira (8) um amigo meu lageano acordou cedo. Vestiu bombacha nova com favo de mel feito lá em Vacaria. Calçou as botas lá no Cerrito, Lustrou com um pedaço de sebo de ovelha, deu uma cuspida para abrir o brilho antes de passar uma flanela. Inaugurou um lenço novo que um sobrinho trouxe lá de Bagé e um chapéu que comprou durante a Festa do Pinhão no Conta Dinheiros há uns 20 anos. Com a indumentária completa seguiu para o ponto de ônibus bem cedo, lá no Gethal. Ele mora bem perto da 282.




Agoniado que o ônibus não passava por causa da Covid, Voltou para casa pegou a bicicleta do piá e se mandou para o centro. Não queria se atrasar de jeito nenhum, Chegaria cansado por causa do mormaço, mas lageano não se entrega. Um hora depois estava na praça João Ribeiro. Chegou, amarrou a bicicleta num poste e se sentou num dos bancos.




Olhou para um lado, olhou para outro e nada. Esperou mais ou menos meia hora. Estava cansado de esperar e não surgia nenhuma novidade. Nem trouxe um mate e nem o palheiro para ajudar no pensamento.




Passado um tempo, e o sol véio esquentando o lombo do vivente, resolveu dar uma bombeada lá pelos lados do calçadão. Desceu pela Coronel Córdova, que dá uns 400 metros a pé e se encostou na parede da farmácia da esquina. Ficou chuleando o pessoal, e nada de novidade.




Caminhou um pouco até o final da rua, voltou e meio emburrado se escorou na frente de uma loja. Ficou pensando

Será que me passaram a perna. Não pode ser verdade. Um homem véio desses não faria um serviço mal feito assim - ficou matutando.

Já era perto das 11h e o vivente estava nervoso. Tinha ainda que subir até a praça da Prefeitura pegar a bicicleta e ir para casa almoçar neste calorão. E pedalar com bombacha não é para qualquer um. Quase desistindo viu um conhecido e puxou prosa.

Buenas home véio. Cumprimentou o amigo.


Buenas Negão. O que faz por estas bandas do centro? - questionou o amigo.


Mas home do Céu, vim ver aquilo que o Ceron prometeu hoje pros lageano.


Nem tô sabendo o que ele prometeu?


Disse que hoje vinha o tal de lokidau, locodau, alguma coisa assim. Tá todo mundo falando.


Ahh! Sei, mas Negão este de tal de lockdown é uma palavra inglesa que significa fechamento. É só o fechamento temporário do comércio até diminuir a covid.


Mas bah! Que serviço mais mal feito deste véio. Me faz passar esta trabaiera toda. Forcejei de bicicreta desde o Gethal até aqui. Podia ter falado na Crube o que era direitinho invés de inventar palavrório dificir.


Concordo contigo, mas não vai ter nada para ver. Pega o rumo antes que os brigadianos te recolham.

Parece que o Calçadão estava lotado de lageano esperando para ver a hora que iria chegar o lockdown.

segunda-feira, 8 de março de 2021

170 anos de uma ótima cidade

 170 anos de uma ótima cidade



Sim, claro que Joinville é uma ótima cidade. Vivo aqui há 29 anos e aqui nasceram meus filhos e me estabeleci. Infelizmente nos últimos anos temos pouco a comemorar. Não só por gestões públicas fracassadas, mas também pelo aumento da violência urbana. Como uma facção criminosa promove uma festa de aniversário? Pois é. Aconteceu com direito a foguetório. 

Há 30 anos não tínhamos isso. A droga mais pesada era maconha que só tinha do trilho para o sul. Agora a indústria do tráfico mata mais pessoas que doenças.

Há 20 anos preparamos uma grande programação para os 150 anos de Joinville. Era um tempo que entregamos pavimentação, grandes avenidas, grandes obras, escolas de primeiro mundo, creches, postos de saúde, serviços públicos bons, éramos referência em educação no Brasil.

Hoje temos  pouco a comemorar, e vivemos com medo. Não só de bandidos, traficantes, intolerantes, mas vivemos com medo de uma doença que não sabemos quantos vai matar, ainda, e nem quando teremos vacinas para todos.

Vamos torcer para que Joinville volte a sorrir, que a nossa população volte a ser feliz, com saúde, com trabalho, com satisfação e orgulho de ser joinvilense.

A foto foi tirada na Sociedade Cultural Lírica, no almoço dos ex-prefeitos que todos os anos integrava a programação. Este fofinho de óculos sou eu, na época Secretário de Comunicação da Prefeitura de Joinville e responsável pela programação e de costas o ex-prefeito Baltasar Buschle (morto em 2009), que governou Joinville entre os anos 1958 e 1961. Ele sempre participava dos eventos comunitários. 

Parabéns Joinville, neste 9 de março. Espero comemorar os 200 anos.