segunda-feira, 26 de abril de 2021

Nunca fui beijada assim

 Nunca fui beijada assim




A cena era de dar inveja aos mais icônicos beijos do cinema. Nem Hollywood conseguiria retratar nas telas  tamanha paixão, entusiasmo, envolvimento e amor. Uma cena mais picante, quente,  atraente do que Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em Casablanca, ou a do marinheiro beijando uma enfermeira desconhecida ao final da segunda guerra mundial na na Times Square. Nem mesmo Rose (Kate Winslet)  e Jack (Dicaprio) em Titanic ou a dupla de protagonistas do filme  E o Vento Levou Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) e Rhett Butler (Clark Gable) tiveram a mestria de tal cena ardente.


Era uma manhã clara de sol, dia bonito em  13 de abril último,  no Dia Internacional do Beijo. Cheguei na janela da rádio onde trabalho, no Centreventos Cau Hansen para verificar o tempo e o movimento da vacinação. Vi a cena e fiquei observando o carro vermelho estacionado e um casal num beijo fabulosamente lindo, longo, demorado, cinematográfico. Era muito carinho, amor e paixão. Imaginei, quem seria o felizardo, afinal é meio desprovido de beleza natural, mas deve ter algum talento. 


Sujeito baixinho, de boné, barba descuidada em tom meio acaju/ruivo. Eu com despeito já desvalorizando o Don Juan. Imaginei como pode este sujeitinho metido a artista, barba pintada e boné de aba reta. Só pode ser corintiano. 


O tórrido beijo durou alguns minutos e sempre que ele se despedia, ela voltava a abraçá-lo. Ele queria logo ir bater o ponto para não chegar atrasado, afinal era quase 8 horas  e ela insistia em mais um beijinho.


Antes de ele ir, ela estende a mão e lhe entrega um pacote. Imaginei. Não pode, o cara ainda ganha presente?


Fique observando e logo abaixo da janela duas idosas que estavam seguindo para o local de vacinação pararam olharam e uma cutucou a outra e comentou:

  • Veja lá, olha só que pouca vergonha - disse uma senhora aparentando uns 70 anos.

  • Deixa de ser invejosa e fofoqueira. É bonito. Pior é você que nunca teve alguém assim- retrucou a amiga em tom provocativo.

  • É verdade. Nunca fui beijada assim - confessou a reparadora

  • Quer que ele te beije assim também? Eu chamo o moço aqui - propôs rindo.

  • Vamos lá se vacinar que está na nossa hora. Despistou a colega que nunca foi beijada e seguiram


Pouco minutos depois para minha surpresa surge o conquistador e Don Juan de estacionamento. Entrou na rádio com cara de quem foi pego no meio do crime e com um pacote. Daí liguei os fatos, Afinal era ele o galã dos beijos ardentes, boné de mano da periferia. Minha curiosidade agora era saber o que tinha no pacote.

Fiquei sem saber até hoje. Presente? Lanche? ou algo mais instigador?



domingo, 25 de abril de 2021

Plano feito para o senhor

Pela insistência do número de chamadas, resolvi atender a ligação. Nunca atendo telefone, se não tiver o identificador. Por causa dessa mania, já perdi exames e consultas. Mas é muito chato a gente não saber quem está ligando, geralmente são bancos, operadoras de 

cartões de crédito, financeiras oferecendo dinheiro em empréstimos consignados por um jurinho amigo. O telefone de casa está silencioso e nunca se atende. Pode ser o Papa, nem pensar. Quem é amigo passa um whatsapp ou telefona mesmo e fala. 


Mas no feriado de Tiradentes, na última quarta-feira, dia 21 de abril, foi diferente. Como sempre acordei cedo, chimarrão com erva de Erechim, uma olhada na cachorrada que ainda dormia e certamente pensavam, com apenas um olho aberto: - “O que este xarope já está aqui de madrugada fazendo barulho”. Não me deram bola, nem fizeram menção de se levantar. Dei de costas e fui tratar de chimarrear solito observando o passaredo. Nesta hora da manhã é quando os morcegos vão embora. Coisa mais linda. Eles chegam no início da noite e quando vai surgir o sol já se mandam para suas tocas. eles gostam de frutas: ameixa, acerola, pitanga, goiaba. Estes não são vampiros. Vai que descobrem meu sangue azul e me atacam na jugular. Mas passo no meio da revoada só para ver se desviam de mim. São cegos e se guiam por sonar. 


Para inticar com a vampirada ando em círculos e quando termina a cuia de mate faço roncar a bomba. Só para atazanar a mocergaiada. Me vingo também quando levo a JBL e solto um Ozzy Osbourne. Daí sim, somem de vez e se eu vestir minha camiseta do Black Sabbath de 1982, eles vão lembrar do fato. Saio com um risinho sarcástico no canto da boca e sento no meu banco embaixo das árvores e ali vou mateando até o sol raiar.

Mas voltando ao telefone. Resolvi atender meio desenxabido:

  • Alô, atendi

  • Bom dia é o seu Benhur Antonio Cruz de Lima?

  • Sim, do que se trata?

  • Aqui é Ericléia e sei que o senhor está bem, mas sabe que os tempos atuais estão complicados, iniciou a conversa.

  • Sim, imagino, concordei com a moça.

  • Senhor Benhur, o senhor deve estar acompanhando a situação atual e os perigos que existem, muitas vezes nem dá tempo para organizar tudo.

  • Claro, o tempo passa rápido, muitas vezes nem sentimos os anos que chegam, entabulei  a conversa.

  • Estamos lhe ligando para oferecer um ótimo plano de vida.

  • Sim, pode explicar do que se trata? - Questionei com certa paciência, afinal era feriado e as pessoas também precisam trabalhar, tentar vender algo para sobreviver. A vida é dura para quem precisa batalhar todos os  dias e continuei ouvindo, um plano de vida deve ser bom.

  • Somos uma empresa de assistência para as  horas difíceis. O senhor pode fazer um plano funerário com direito a enterro, flores e até cremação com fornos modernos.Explicou

É claro que não me contive e comecei a rir. Porém argumentei que no momento eu não tinha interesse neste plano de vida e que quando a hora chegar quero que Enterrem meu Coração na Curva do Rio , parafraseando a obra do professor e escritor Dee Brown que trata do genocídio de índios americanos pelo governo dos Esatados Unidos no final do século 19. A moça não entendeu.

  • Agradeço sua ligação, mas eu já tratei deste assunto. Já deixei pago um vivente para recolheu meu santo corpo, queimar numa fogueira no alto da montanha, no Castelo dos Bugres, entre Joinville e Campo Alegre e as cinzas devem ser jogadas na curva do Rio Uruguai, mais precisamente no Goio-Ên.

  • Goi o que? perguntou a atendente.

  • No momento não vou querer, despistei

  • Posso lhe telefonar daqui alguns meses? vai que precise, insistiu

  • Sim, pode ligar, sem problemas, agora me dá licença que tenho compromisso urgente, tenha um bom dia de trabalho. Desliguei.


Continuei sentado no banco azul embaixo do pé de acerola. Acho que os morcegos ouviram a prosa e foram embora. O feriado estava perfeito, chimarrão de erva boa e o sol despontando no horizonte. Tudo nos conformes até que um artilheiro voador dá um vôo rasante e bombardeia minha camiseta do Black Sabbath. Era o início do mau presságio. Começaram uma guerra comigo. Agora só vou usar camisas do Ozzy para matear no meio da vampirada.


Bom domingo para todos nós e cuidem com a morcegaiada.


Plano feito para o senhor

Pela insistência do número de chamadas, resolvi atender a ligação. Nunca atendo telefone, se não tiver o identificador. Por causa dessa mania, já perdi exames e consultas. Mas é muito chato a gente não saber quem está ligando, geralmente são bancos, operadoras de

cartões de crédito, financeiras oferecendo dinheiro em empréstimos consignados por um jurinho amigo. O telefone de casa está silencioso e nunca se atende. Pode ser o Papa, nem pensar. Quem é amigo passa um whatsapp ou telefona mesmo e fala.


Mas no feriado de Tiradentes, na última quarta-feira, dia 21 de abril, foi diferente. Como sempre acordei cedo, chimarrão com erva de Erechim, uma olhada na cachorrada que ainda dormia e certamente pensavam, com apenas um olho aberto: - “O que este xarope já está aqui de madrugada fazendo barulho”. Não me deram bola, nem fizeram menção de se levantar. Dei de costas e fui tratar de chimarrear solito observando o passaredo. Nesta hora da manhã é quando os morcegos vão embora. Coisa mais linda. Eles chegam no início da noite e quando vai surgir o sol já se mandam para suas tocas. eles gostam de frutas: ameixa, acerola, pitanga, goiaba. Estes não são vampiros. Vai que descobrem meu sangue azul e me atacam na jugular. Mas passo no meio da revoada só para ver se desviam de mim. São cegos e se guiam por sonar.


Para inticar com a vampirada ando em círculos e quando termina a cuia de mate faço roncar a bomba. Só para atazanar a mocergaiada. Me vingo também quando levo a JBL e solto um Ozzy Osbourne. Daí sim, somem de vez e se eu vestir minha camiseta do Black Sabbath de 1982, eles vão lembrar do fato. Saio com um risinho sarcástico no canto da boca e sento no meu banco embaixo das árvores e ali vou mateando até o sol raiar.

Mas voltando ao telefone. Resolvi atender meio desenxabido:

Alô, atendi


Bom dia é o seu Benhur Antonio Cruz de Lima?


Sim, do que se trata?


Aqui é Ericléia e sei que o senhor está bem, mas sabe que os tempos atuais estão complicados, iniciou a conversa.


Sim, imagino, concordei com a moça.


Senhor Benhur, o senhor deve estar acompanhando a situação atual e os perigos que existem, muitas vezes nem dá tempo para organizar tudo.


Claro, o tempo passa rápido, muitas vezes nem sentimos os anos que chegam, entabulei a conversa.


Estamos lhe ligando para oferecer um ótimo plano de vida.


Sim, pode explicar do que se trata? - Questionei com certa paciência, afinal era feriado e as pessoas também precisam trabalhar, tentar vender algo para sobreviver. A vida é dura para quem precisa batalhar todos os dias e continuei ouvindo, um plano de vida deve ser bom.


Somos uma empresa de assistência para as horas difíceis. O senhor pode fazer um plano funerário com direito a enterro, flores e até cremação com fornos modernos.Explicou

É claro que não me contive e comecei a rir. Porém argumentei que no momento eu não tinha interesse neste plano de vida e que quando a hora chegar quero que Enterrem meu Coração na Curva do Rio , parafraseando a obra do professor e escritor Dee Brown que trata do genocídio de índios americanos pelo governo dos Esatados Unidos no final do século 19. A moça não entendeu.

Agradeço sua ligação, mas eu já tratei deste assunto. Já deixei pago um vivente para recolheu meu santo corpo, queimar numa fogueira no alto da montanha, no Castelo dos Bugres, entre Joinville e Campo Alegre e as cinzas devem ser jogadas na curva do Rio Uruguai, mais precisamente no Goio-Ên.


Goi o que? perguntou a atendente.


No momento não vou querer, despistei


Posso lhe telefonar daqui alguns meses? vai que precise, insistiu


Sim, pode ligar, sem problemas, agora me dá licença que tenho compromisso urgente, tenha um bom dia de trabalho. Desliguei.


Continuei sentado no banco azul embaixo do pé de acerola. Acho que os morcegos ouviram a prosa e foram embora. O feriado estava perfeito, chimarrão de erva boa e o sol despontando no horizonte. Tudo nos conformes até que um artilheiro voador dá um vôo rasante e bombardeia minha camiseta do Black Sabbath. Era o início do mau presságio. Começaram uma guerra comigo. Agora só vou usar camisas do Ozzy para matear no meio da vampirada.


Bom domingo para todos nós e cuidem com a morcegaiada.

domingo, 11 de abril de 2021

Me meto ou não me meto?

 Me meto ou não me meto?



Meses atrás estava caminhando perto da minha casa e fui testemunha de uma situação que me fez parar e observar meio de longe. Uma DR pesada. Ouvi de longe, pois sentei num murinho perto de um clube na rua Benjamin Constant e fiquei de ouvido em pé esperando se iria precisar interferir. Estava a poucos metros e conseguia ver e ouvir tudo com precisão.


  • Vamos, te mexe, me fez sair e agora fica desse jeito? Eu não te aguento mais. Está ficando louca, é sempre assim, dia de chuva, dia de sol sempre a mesma coisa! - falava um senhor aparentemente de 60 anos, alto, forte e visivelmente contrariado.


Possivelmente morador das imediações andou mais um pouco e voltava a se virar e insistir na discussão do relacionamento. 


  • Não te falta nada. Tem comida, tem casa. Te dei abrigo e agora fica assim. Quando eu quero alguma coisa nunca pode? Vou te largar onde te encontrei, daí você vai gostar - ameaçou.


Pensei mais uma vez, comigo mesmo: me meto ou não me meto? Mas como diz o ditado antigo e verdadeiro: “ em briga de homem e mulher não se mete a colher”. Segui meu rumo, caminhando despacito para ver se o caldo não engrossava. Volta e meia, me ajoelhava, fingia apertar o cadarço e dava uma bombeada na dupla. 


Não é que neste domingo de sol, após vários dias de chuva, voltei ao mesmo roteiro e novamente a mesma cena, os mesmos personagens. Desta vez me meti e falei:

  • Bonita hein vizinho? - Qual é o nome?

  • Madalena. Mas não tem jeito, respondeu sorrindo. Dai falei:

  • Todo Golden é brincalhão. tente dar a  guia na boca dela para ver se anda sozinha.


Resolvi o caso. A Golden Retriever de uns 40 quilos, que caminhava 2 metros, empacava e sentava. E isto gerava a discussão e aborrecimento do dito senhor. Agora estava feliz com a guia na boca caminhando junto com seu parceiro. E seguiram pela calçada aproveitando o sol de outono na manhã de domingo. Segui meu rumo, novamente, mas voltei a olhar para trás para ver o progresso da terapia.


sábado, 3 de abril de 2021

Utilidades do Pinhão

 Utilidades do Pinhão



Tenho um amigo lageano, de muitos anos. Coração do tamanho do mundo. Sujeito bom de conversa de alma pura como todo lageano.

Mas o tal sujeito é meio queimador de campo, como se diz no Rio Grande, para quem conta vantagem. 


Acordei, como faço diariamente às 5h, vi algumas coisas no FB e me deparo com mais uma lorota do Negão da Ambulância, ou o Negão de Lages, como queiram. Sim, o mesmo que foi correndo ao centro de Lages para ver o Lockdown que o prefeito Ceron prometeu que traria. Pois repare só vivente, agora inventou que tem fazenda no Paraná e “cria” pinhão. Só na fuça dele.


Mas deixando de lado o fazendeiro de pinhão, vamos ao Pinhão.  A colheita começou nesta quinta-feira, dia primeiro de abril e nem é mentira.

Fui várias vezes à Festa do Pinhão de Lages. Boa culinária, frio, vinho tinto e shows com artistas de renome. Uma baita diversão para o Brasil, que deveria descobrir mais os encantos da cultura local.


O pinhão, além de ser rico em vitamina, é usado em pratos típicos deliciosos e ainda é um fator de união de amigos e famílias. Quem não gosta de uma roda de chimarrão, com pinhão cozido ou assado? Nem precisa convidar.


Para quem segue aos campos de lages, já na subida da Santa ali depois de Pouso Redondo já começam a surgir os vendedores de pinhão cozido às margens da BR. Nas minhas andanças por Toda Santa Catarina, a parada era essencial. Ali na 470, na entrada da estadual 114 sempre tinha gente com um latão fervendo pinhão. Vendiam também frutas, salames e queijos. Era a festa. Garantida a gula. 


Nas inúmeras vezes que fomos a Lages ou municípios da região o Tebaldi (ex-prefeito de Jonville, ex-secretário estadual da Educação e deputado federal), fazia um sortido e seguíamos viagem roendo aquilo tudo. O trabalho ficava muito mais prazeroso com a pancinha cheia de pinhão e mais iguarias como amendoim torrado salgado, carrapinha, mandolate e outras coisas que vendiam nas estradas. Tínhamos estômago de avestruz.


Eu conhecia alguns preparos do pinhão como o cozido, ou assado nas grimpas (sapecado) ou na chapa do fogão à lenha, o tradicional e saboroso entrevero e mais alguns. Mas para minha surpresa a Embrapa do Paraná, lá onde o linguarudo diz ter fazenda, fez estudos e lançou livro onde apontam mais de 100 usos do pinhão, desde culinária com salgados e doces até remédios. 


E hoje como o sábado está com cara de poucos amigos, meio frio e com garoa fina resta jogar um punhado de pinhão na chapa do fogão e ficar matutando a manhã toda, com uma cuia de mate. Pensar no que? No que mais dá para fazer com o pinhão além das 100 utilidades? como pode o Negão mentir tanto? Quando vou poder ir a Lages passar frio e comer pinhao?


Bom sábado e amanhã Feliz Páscoa. Acho que dá pra fazer ovo de pinhão. vou ligar para o Negão ver se é possível home.É bom não exagerar ma doçura para não dar nó nas tripas