terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

VOVÓ NAMORA UM OFICIAL DA MARINHA




Lá por 1982, um conhecido foi servir no Grupamento dos Fuzileiros Navais, no Rio de Janeiro, depois do Piscinão de Ramos, perto da Favela da Maré. Malandro, descobriu rápido que poderia ter a chave da cantina dos oficiais e assim ter uma certa mordomia. Tinha acesso livre, também aos alojamentos dos oficiais.


Andava sempre com dinheiro. Era desprovido de beleza, mas com a carteira cheia. Logo a marujada começou com o bizu. Nas folgas o malandro sumia, Era discreto. Pessoal do quartel achava que ia a São Paulo ver jogos do tricolor ou dar uma olhada no Olaria, que fica ali perto.


Passados alguns meses, um cabo que morava em Maricá reuniu a marujada extra-oficialmente e em tom nada amigável cobrou:


  • A avó de meu vizinho disse que está namorando um oficial da Marinha. O cara diz que é um grandão aqui do nosso glorioso Grupamento. Toda semana ela sai e pega três ônibus, atravessa a Rio-Niterói para ir numa gafieira da Lapa namorar o tal Tenente que já pegou uma grana legal da velha e agora quer que ela faça um empréstimo para comprar um Fiat 147, pois o Oficial alega que ainda não recebeu o soldo. Se eu descobrir quem está aplicando ...vai lá para a Ilha das Cobras.


Depois deste sabão em público, num calor de maçarico no Rio de Janeiro o nosso amigo marujo recruta pensou, pensou e desistiu de seguir carreira e desbravar os Sete Mares e ter um amor em cada porto. 


Na semana seguinte pediu baixa, passou no piscinão de Ramos, deu um mergulho para tirar a zica e seguiu para Porto Alegre onde vive até hoje na Vila IAPI,  onde torce pelo São José, o Zequinha,  clube local.


Semana passada puxei conversa com o  conquistador da terceira idade e tirei onda.


  • Oh marujo, a avó do cabo ou do vizinho do cabo quer o 147 de novo? E dei uma sonora gargalhada.

  • Era uma gata e dançava bem na gafieira. Justificou com sorriso sarcástico. Perguntei sobre o Fiat 147.

  • Mandei  tunar, botei um toca-fitas Tojo, zonzeira na caranga. Dei risada, me despedi e em seguida recebo uma foto no whatsapp de um quepe de oficial marinheiro. Era tudo verdade…





sábado, 17 de fevereiro de 2024

Nunca esquecerei o seu olhar

 


Já lhe falei tantas vezes que amor maior não há. O que sinto por você é algo tão grande, tão puro e verdadeiro que dói meu peito só em pensar em te perder.


São tantos anos juntos, e sua falta é algo que me angustia, me entristece e torna meus dias piores. Qual a graça viver sem você?


Esta rotina de acordar, olhar o telefone que não toca, o celular que não tem mensagens, amigos e amigas que me esqueceram, vizinhos que pouco saem na rua e às vezes nem cumprimentam, reforçam minha necessidade de ter você bem pertinho de mim.


Amei cada instante de sua companhia, de nossas caminhadas, de nossos passeios e não imaginava que você gostava tanto de praia. E os passeios no interior, nos campos de cima da serra, com relva úmida e sua energia era algo fabuloso. Eu sempre gostei de apreciar a beleza, de preferência sentado com um café preto na xícara. Mas o prazer maior era te ver andar.


E pensando nestes quase 20 anos de convivência, posso te dizer, você foi meu único amor verdadeiro. Sinto sua falta todos os dias , cada minuto e meu coração está doente, amargurado, triste em te ver assim.


Há tempos larguei o hábito de ver o celular e quem sabe receber uma mensagem de meus filhos, ou uma ligação de algum amigo ou amiga para me tirar desta rotina.


Hoje isso não tem mais importância. O que realmente importa é sua companhia, suas brincadeiras, nossos passeios e principalmente o significado de seu olhar. É e será insubstituível.


- Eu sempre vou te amar! - disse a senhora deitada no chão do quarto acariciando o corpinho de sua cachorrinha, que foi sua única companhia por duas décadas e seu maior grande amor de sua vida.


Beijou o focinho da bichinha, acariciou a barriguinha, as orelhinhas e seu pelo sempre bem cuidado. A cachorrinha abriu um sorriso largo e soltou uma lágrima de seus olhos. Sabia do sentimento verdadeiro da sua companheira de todos os dias e todas as noites.


Obs: Em Joinville existe o Abrigo Animal, na Vila Nova-Piraí. Você pode ser padrinho, ou seja ajuda no custo e pode ir visitá-lo em horas que você tiver tempo. Caso não possa adotar. 


domingo, 11 de fevereiro de 2024

A prima freira, filha de tia Lucinda

 



- Amor, vou ter que acompanhar a minha prima Maria Adelaide, filha da tia Lucinda que chega hoje e vem para um retiro de orações, durante o Carnaval. Eu odeio Carnaval, você bem sabe, mas a prima precisa de alguém que a leve, cuide porque em cidade grande, você imagina o que pode acontecer com uma freira nova. A Tia Lucinda fez muitas recomendações. Disse Adãozinho, vizinho e colega de trabalho do Nestorzinho.


- Está bem, meu querido, tua Lucinda nunca a conheci, mas se você tem uma dívida de gratidão com a tia e com a filha dela eu entendo. Respondeu Francisleine Antonia, a mulher do Adãozinho. Ela era dona de casa, ajudava na Casa Paroquial e gostava de todas as tardes ir na costureira do bairro que ficava na rua de trás. 


Na costureira tinha papo para todas as tardes, e os assuntos eram variados. Também ali se encontravam desde donas de casa que mandavam fazer um vestidinho de chita, ou levar camisas e calças dos maridos para algum ajuste, cerzimento ou barra, pregar botões também. E as damas da sociedade folheavam as revistas de moda Vogue  para escolher seus vestidos e as damas da noite também iam na mesma costureira. Nos bons tempos usavam autos de praça e o chofer ficava esperando o tempo que necessário com o taxímetro rodando.


Na sexta-feira de Carnaval Adãozinho pegou a mochila que usava com fardamento do futebol de salão enfiou umas roupas e deu um beijo na testa da esposa.


- Tchau amor, vou lá ver o que a prima precisa, mas gostaria de ficar com você e te levar lá em Marcelino  Ramos para passar o dia, mas não posso faltar com a tia Lucinda.


- Entendo meu querido. Vá com Deus, se despediu Francisleine.


Adãozinho saiu de cabeça baixa, encenando contrariedade, afinal teria de ser cicerone de freira  em um retiro espiritual e deixaria a jovem e atraente mulher em casa. Dobrando a esquina chegou em uma casa bateu palmas e gritou:


- Nestorzinho, anda seu velhaco. Corre antes que nos vejam.

- Estou indo, estou indo - Respondeu Nestorzinho. Seguiram para a casa do Reginaldo, que havia levado um chifre da mulher e estava descornado.


- Reginaldo, ânimo, você vai conhecer minha prima "freira" e as irmãzinha do convento. Reginaldo até ensaiou uns passinhos de marchinha dando a entender que estava contente.


Foram de boteco em boteco. Uma Serramalte num. Rabo de galo no outro, faixa azul na sequência, e o dia se indo, chegando o escuro da noite de sexta-feira de Carnaval. No último bote pediram três martelinhos. Um gole só e viraram o copo de boca para baixo para mostrar que foi tudo.


Nos tempos que os bailes de Carnaval em clubes enchiam e eram divertidos, os do Clube do Comércio e do Atlântico, no centro de Erechim, eram para a elite, gente com dinheiro para boas fantasias, orquestras ótimas e quatro noites e um matinezão. E a banda saia pela rua às 5 horas da manhã em cortejo com os foliões. Já no Caixeiral ia a classe média para baixo. Enchia. Mas a dupla tinha acertado o retiro com as freiras no Aceja, que era um clube localizado bem na esquina da avenida Maurício Cardoso, atravessando o viaduto Ruben Berta, onde passava o trem. O clube era um sucesso e enchia para trabalhadores e damas de reputação duvidosa.


Passados quatro dias, volta o Adãozinho para casa, cansado, olheiras e com cheiro de cigarro e perfume barato.


- Bom dia meu amor. Você nem imagina como foi o retiro, A prima rezou muito por nós. A tia Lucinda mandou recomendações à você. A mulher nada  falou. Apenas entregou uma sacola de supermercado com restos de tecido e um papel.


No bilhete estava escrito:  Creide, sobraram estes retalhos da fantasia de freira. E tão logo possa me mande o dinheiro da costura. Espero que tenha agradado o rapaz. Não demore para me pagar. bilhete assinado pela costureira.


- Pois seu cara de pau , sem vergonha. A prima Maria Adelaide nunca existiu. É Mais uma mulher lá da zona, da transbrasiliana perto do aeroporto. Nunca ouve retiro e a ex mulher do Nestorzinho me falou que a mulher do Reginaldo, o corno viu você no Aceja. Vá criar vergonha na cara e lavar este focinho com sabão grosso.


Adãozinho ainda tentou:


- Mas será que fui enganado pela Tia Lucinda?


- Sai da minha frente que te quebro o chifre com a vassoura.


Mais uma do Nestorzinho que meteu os amigos em furada. Mas os bailes do Aceja, contam os antigos, sempre rendiam namoros quentes.