- Amor, vou ter que acompanhar a minha prima Maria Adelaide, filha da tia Lucinda que chega hoje e vem para um retiro de orações, durante o Carnaval. Eu odeio Carnaval, você bem sabe, mas a prima precisa de alguém que a leve, cuide porque em cidade grande, você imagina o que pode acontecer com uma freira nova. A Tia Lucinda fez muitas recomendações. Disse Adãozinho, vizinho e colega de trabalho do Nestorzinho.
- Está bem, meu querido, tua Lucinda nunca a conheci, mas se você tem uma dívida de gratidão com a tia e com a filha dela eu entendo. Respondeu Francisleine Antonia, a mulher do Adãozinho. Ela era dona de casa, ajudava na Casa Paroquial e gostava de todas as tardes ir na costureira do bairro que ficava na rua de trás.
Na costureira tinha papo para todas as tardes, e os assuntos eram variados. Também ali se encontravam desde donas de casa que mandavam fazer um vestidinho de chita, ou levar camisas e calças dos maridos para algum ajuste, cerzimento ou barra, pregar botões também. E as damas da sociedade folheavam as revistas de moda Vogue para escolher seus vestidos e as damas da noite também iam na mesma costureira. Nos bons tempos usavam autos de praça e o chofer ficava esperando o tempo que necessário com o taxímetro rodando.
Na sexta-feira de Carnaval Adãozinho pegou a mochila que usava com fardamento do futebol de salão enfiou umas roupas e deu um beijo na testa da esposa.
- Tchau amor, vou lá ver o que a prima precisa, mas gostaria de ficar com você e te levar lá em Marcelino Ramos para passar o dia, mas não posso faltar com a tia Lucinda.
- Entendo meu querido. Vá com Deus, se despediu Francisleine.
Adãozinho saiu de cabeça baixa, encenando contrariedade, afinal teria de ser cicerone de freira em um retiro espiritual e deixaria a jovem e atraente mulher em casa. Dobrando a esquina chegou em uma casa bateu palmas e gritou:
- Nestorzinho, anda seu velhaco. Corre antes que nos vejam.
- Estou indo, estou indo - Respondeu Nestorzinho. Seguiram para a casa do Reginaldo, que havia levado um chifre da mulher e estava descornado.
- Reginaldo, ânimo, você vai conhecer minha prima "freira" e as irmãzinha do convento. Reginaldo até ensaiou uns passinhos de marchinha dando a entender que estava contente.
Foram de boteco em boteco. Uma Serramalte num. Rabo de galo no outro, faixa azul na sequência, e o dia se indo, chegando o escuro da noite de sexta-feira de Carnaval. No último bote pediram três martelinhos. Um gole só e viraram o copo de boca para baixo para mostrar que foi tudo.
Nos tempos que os bailes de Carnaval em clubes enchiam e eram divertidos, os do Clube do Comércio e do Atlântico, no centro de Erechim, eram para a elite, gente com dinheiro para boas fantasias, orquestras ótimas e quatro noites e um matinezão. E a banda saia pela rua às 5 horas da manhã em cortejo com os foliões. Já no Caixeiral ia a classe média para baixo. Enchia. Mas a dupla tinha acertado o retiro com as freiras no Aceja, que era um clube localizado bem na esquina da avenida Maurício Cardoso, atravessando o viaduto Ruben Berta, onde passava o trem. O clube era um sucesso e enchia para trabalhadores e damas de reputação duvidosa.
Passados quatro dias, volta o Adãozinho para casa, cansado, olheiras e com cheiro de cigarro e perfume barato.
- Bom dia meu amor. Você nem imagina como foi o retiro, A prima rezou muito por nós. A tia Lucinda mandou recomendações à você. A mulher nada falou. Apenas entregou uma sacola de supermercado com restos de tecido e um papel.
No bilhete estava escrito: Creide, sobraram estes retalhos da fantasia de freira. E tão logo possa me mande o dinheiro da costura. Espero que tenha agradado o rapaz. Não demore para me pagar. bilhete assinado pela costureira.
- Pois seu cara de pau , sem vergonha. A prima Maria Adelaide nunca existiu. É Mais uma mulher lá da zona, da transbrasiliana perto do aeroporto. Nunca ouve retiro e a ex mulher do Nestorzinho me falou que a mulher do Reginaldo, o corno viu você no Aceja. Vá criar vergonha na cara e lavar este focinho com sabão grosso.
Adãozinho ainda tentou:
- Mas será que fui enganado pela Tia Lucinda?
- Sai da minha frente que te quebro o chifre com a vassoura.
Mais uma do Nestorzinho que meteu os amigos em furada. Mas os bailes do Aceja, contam os antigos, sempre rendiam namoros quentes.
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