sábado, 16 de março de 2024

O ABDUZIDO E A NASA

 



Nesta semana li que agora em Balneário Camboriú já está em funcionamento um Museu da Nasa, com artigos originais da Agência Espacial dos Estados Unidos e isto me trouxe lembranças de fatos verdadeiros ocorridos e que testemunhei.


Há alguns, quando se usava telefone fixo, toca a campainha do aparelho que tinha destaque na sala das residências. Trrrriiimmm! e assim ficou a se esgoelar por alguns segundos até que eu fosse do quarto até a sala. Do outro lado da linha uma mulher, esbaforida, aos prantos querendo saber se o marido dela estava comigo. Respondi que não, pois não o via há alguns dias. 


  • Mas ele saiu de casa dizendo que ia se encontrar contigo! Devolveu a  jovem senhora e tratei de saber mais detalhes. Vi que a situação era séria e o desespero da moça era enorme. Tratei de ajudar.


Na época liguei para as polícias rodoviárias federal, estadual, delegacias, 190, 193 e nada do vivente. Última ligação foi para o IML; Nada do corpinho do sujeito.


Nesta mesma época havia uma série de televisão chamada  Arquivo X que investigava o sumiço de pessoas, abduções, enfim assuntos da Área 51 que o governo norte-americano esconde, pois como diz a série : “ A verdade está lá fora” . Eles já estão entre nós.


E também surgiram no oeste catarinense os misteriosos agroglifos, que ninguém sabe como foram feitos. Surgiram da noite para o dia. E houveram relatos de pessoas que foram abduzidas. Alguns apareceram dias depois com um sentimento de “vazio interior”. Vá entender isso….


Tratei de buscar a verdade e achar o abduzido. Segui o caminho que ele fazia diariamente de carro de uma cidade para outra, pois morava em um município próximo e trabalhava em uma repartição federal de Joinville. Vi o Fiat estacionado às margens da BR e fui averiguar. Nada de batidas, nem acidentes e nem do vivente dentro do carro. Todo trancado. Um pouco mais adiante, em uma casa de diversão, cheguei mais perto bati palmas e duas mocinhas que trabalham na casa perguntaram o que eu queria, e logo disseram. Moço é muito cedo, a função só começa às seis da tarde. Tratei de explicar o assunto e me convidaram para entrar; Desconfiado e temeroso entrei já com o pé na porta porque se estoura uma rebordosa eu pegaria o trote bem rápido.


Entrei na sala, com cheiro de bebida, cigarros, e num sofá coberto com um pega-pulga estava o vivente babando. Se emocionou, esvaziaram a guaiaca e ali ficou. Babando, roncando e com cara de feliz. Tratei de acordá-lo e levar para o carro e que tomasse rumo e tenência. Assim foi feito. Questionei e ele me disse:


  • Estava indo para casa, vi uma luz vermelha no horizonte que me cegou. Estacionei e um grupo de ETs me tiraram do carro, me levaram para dentro do disco voador, me deram bebida e nada lembro. Fiz de conta que acreditei e escoltei o abduzido até a casa dele e tranquilizei a família.


Esta semana mais um caso semelhante. Três saíram para verificar uma chácara, pois pode ser um bom investimento. Até agora nenhum sinal  no whatsapp, nem a família se interessou. Mas já fiz umas ligações. Acho que vou ter que camperear com uma vela prometida para o Negrinho do Pastoreio.


Se nem assim o milagreiro encontrar a trinca, daí vou a Balneário Camboriú pedir intercessão técnica da NASA, pois quem sabe aparecem no radar ou quem sabe a abdução foi forte demais. 


A certeza é de que pelo menos um ranzinza os ETs vão devolver, pois já o fizeram mais vezes. Nem o espaço sideral o  atura. Só quem aguenta é o dono de um bar que vende vinho barato em garrafa PET. Vou começar por lá a busca do abduzido.


sexta-feira, 8 de março de 2024

O ESTANCIEIRO, O DELEGADO E A PACA

 


Por volta das dez horas da manhã, o prefeito da pequena cidade situada no sul do Rio Grande do Sul, quase fronteira com o Uruguay recebeu um ofício do governador. O documento dava ciência de que seria instalada a primeira delegacia de polícia do local. Também requisitava um imóvel a ser cedido pelo município para instalação da nova repartição. O novo Delegado iria se apresentar em duas semanas.


Don Antonio, como era conhecido por ser estancieiro com propriedades grandes que não respeitavam limites de dois países. Começava no Rio Grande do Sul e se estendia pelos campos orientais. Ali criava Nelore para carne, e Jersey para leite. Seu tambo no Uruguay produzia o melhor dulce de leche da região. Era afamado. E as ovelhas da raça bergamácia, ótimas produtoras de lã passeavam pelos campos, também sem saber dos limites fronteiriços.


Para atender o governador, Dom Antônio tratou logo de desalojar uma casa antiga, histórica, porém de bela arquitetura bem na praça central, onde ficava a Prefeitura, a Câmara, a Paróquia de Santo Antônio e uma agência do Banrisul. Também tinha a Pensão Familiar de Dona Izildinha, que alugava quartos e tinha comida boa. As fartas refeições eram finalizadas por uma bandeja de doces, impossível de rejeitar.. Todos feitos pela doceira uruguaia, uma senhora negra de sorriso lindo e muito simpática. 


Chegado o dia de o Delegado se apresentar, apeou do ônibus, empoeirado, seguiu para a pensão de Dona Izildinha, onde lhe reservaram o melhor quarto, de frente e perto do banheiro. Comunicou que iria na Prefeitura. Dona Izildinha aconselhou o Doutor delegado a se banhar, trocar de roupa, almoçar e depois seguir seus compromissos. Assim o fez. A bandeja de madeira trouxe tanta fartura que o tal delegado ficou prostrado e quando a doceira chegou com os docinhos, ele primeiramente não aceitou. Estava acima do peso e aquilo seria um abuso. Mas os olhos da gula  o traíram. Começou com um pequeno negrinho, e como a bandeja ali ficou, foi experimentando os quitutes pegando um quindim, um bem casado, um folhado e chegou  na ambrosia. De pança cheia ficou sonolento, mas vestiu o paletó e iria se apresentar para autoridades locais. 


Dona Izildinha lhe aconselhou novamente:

  •  Doutor Delegado, melhor o senhor sestear e lá pelas três horas o senhor vai fazer suas tarefas. Aqui fecha tudo até este horário. O pessoal gosta de um cochilo após o almoço. Ele olhou porta afora e não viu uma viva alma na praça. Foi para o quarto deitou e cochilou. Lá pelas três alinhou a fatiota e cruzou a praça chegando na Prefeitura.


Já na porta do Paço Don Antonio lhe esperava com uma cuia de mate.


  • Buenas vivente. Me dê um abraço cinchado e seja bem-vindo. Afinal, um homem do governador e um homem da Lei sempre terá um rancho amigo.

  • Boa tarde Don Antonio. Muito obrigado pela hospitalidade.

  • Mas vamos deixar de salamaleque. A sua repartição está pronta. Mandei pintar, comprei móveis novos e ainda mandei reformar uma Toyota Bandeirante 4x4 para o senhor fazer as diligências. E precisamos de sua ajuda. Tem uns argentinos roubando gado e ovelha por aqui. Já denunciou o prefeito.

  • Vamos investigar a fundo " , respondeu o delegado.

  • Nem precisa é só gritar - Correntinos hijos de puta!

  • Mas quero convidar o doutor para um churrasco especial hoje à noite, na minha casa. Esteja lá às seis da tarde.


Lá pelo cair da noite o doutor delegado chegou no Casarão de Dom Antônio onde estavam todas as autoridades da cidade. Foi apresentado e alguns já estavam meio borrachos. Dom Antônio na cabeceira da mesa e do outro lado Dom Pipo, seu amigo. Ambos revezavam mandatos na Prefeitura. Na época não havia reeleição e assim por anos se combinaram. Uma vez cada um. Era comentário malicioso que a cidade tinha apenas dois homens. Um mandato para Dom Antônio e em seguida Dom Pipo, que tinha uma estância com ovelhas Suffolk, para produção de carne que ele trouxe da Nova Zelândia e também poleango (Polled Angus) de carne texturizada e saborosa. Mas Dom Pipo também tinha fama de chibeiro, doleiro, jogatinas em cassino do lado oriental.


  • Doutor Delegado, amigo do governador. A cidade lhe recebe de braços abertos e hoje vamos lhe presentear com um delicioso churrasco de Paca. É aqui dos meus campos. Meu capataz andou caçando, mas para o senhor saber aqui não matamos tatu, nem capincho. Mas o javali temos gosto de atirar bem no meio da cabeça. Enquanto isso, o delegado ouviu estampidos de tiro.

  • O que houve lá fora Dom Antonio? Questionou se levantando bruscamente da cadeira.

  • Calma moço é o meu capataz o seo Pacífico, que veio lá de Treinta Y Três, onde tenho uma propriedade.


Uma hora depois foi servida a Paca, colocada em frente ao doutor delegado, que cortou um belo pedaço e levou à boca. Saboreou e comentou com Dom Antonio.


  • Dom Antônio, não me leve a mal, mas esta Paca está com gosto de capincho. E como o amigo sabe não é boa carne porque dá doença.


Dom Antonio respirou fundo, se serviu de uma caña de Santo Antônio da Patrulha e tomou num talagaço. Todos ficaram em silêncio, afinal que petulância desse piazote que se acha autoridade. Dom  Antônio tirou o Taurus da cintura e colocou em cima da mesa. De trás das costas puxou a prateada que ficava presa na guaiaca e da cadeira puxou o rabo de tatu feito com couro de cruzeira. Com todo arsenal em cima da mesa na frente do delegado, sentenciou:


  • Seo moço , doutor Delegado. Esta carne é de Paca, está boa e o senhor está gostando muito. Espero que tenha apreciado este agrado que estamos lhe fazendo e pelo adiantado da hora seria bom o senhor embarcar na Toyota e seguir para a pensão de Dona Izildinha. Amanhã se apresente na repartição.


Sem ao menos se despedir, o doutor delegado seguiu o aconselhamento de Dom Antônio e seguiu para a porta, onde Dom Pipo o esperava com alguns peões para fazer a guarnição até o carro.


Na manhã seguinte foi encontrado um bilhete no quarto de pensão


Dona Izildinha, obrigado pela hospitalidade, mas fui designado para outro município bem longe daqui.


Dom Antonio e Dom Pipo, agora em época de reeleição continuam se revezando, mas já pensam em colocar os piás na política. O guri mais novo de Dom Antônio está com 50 anos  e o do meio de Dom Pipo, está trabalhando com contrabando de eletrodomésticos para o Uruguay, mas os dois se afeiçoam com coisas da política.


Ahh, sim a cidade continua sem delegado. Mas nada acontece também. Só correntinos ladrões de gado e ovelha. 


crédito imagem:pt.vecteezy.com







quinta-feira, 7 de março de 2024

Amor à primeira vista




Não te faça de boba, pois sabes que quando botei meus olhos em cima de você, foi sim, amor à primeira vista. Me encantou sua beleza, suas curvas majestosas e as saliências que me encantaram.


És bela e sedutora. Encantadora que arrasou meu coração. Fiquei sem saber o que dizer. Suava frio, mãos úmidas e boca seca. 


Com tantos dotes e atrações, impossível não dizer Te amo.


Nunca te deixarei e meus pensamentos nunca te traíram.


Você sempre soube que cai de amores por você desde o primeiro dia, quando desci de um ônibus da Reunidas, com uma mochila verde, algumas roupas à procura de uma oportunidade. Você me acolheu e aqui estou há 32 anos.


Mesmo que eu vá embora, meu coração estará com você eternamente. 


Neste 9 de março vou comemorar nosso amor com um delicioso chineque do Keunecke. Afinal o dia merece.


Joinville, eu te amo.


domingo, 3 de março de 2024

40 anos de profissão

 Naquele ano de 1984 o Carnaval foi no início de março. Cheguei na rodoviária de Pelotas, que ficava no centro. De táxi fui até uma pensão da Dona Hilda, na rua General Osório, quase esquina com Dom Pedro II, onde ultimamente funcionava um restaurante.


Devidamente instalado com mais 12 pessoas no quarto principal que dava vista para a rua, começava um novo ciclo de vida. Guarda-roupas era dividido, um só banheiro para dezenas de pessoas, mas era perto da Universidade Católica de Pelotas. Esta travessia do Rio Grande do Sul, 700 km que separam Erechim de Pelotas marca o início da minha profissão na área de comunicação que agora completa 40 anos. Foi o início da faculdade de Comunicação Social-Jornalismo. Em seguida comecei a trabalhar em rádio como locutor e redator, depois jornal, TV, assessoria de comunicação. Troquei de cidades e acabei me estabelecendo em Joinville. Os decênios com final 4 me dão sorte.


Em 1984 passei no vestibular e minha classificação foi 1º lugar no curso de comunicação. Dez anos depois fiz concurso na Prefeitura de Joinville e também 1º na classificação para jornalista. Não! Nada genial, apenas um sujeito de sorte. Mesmo vale para os cargos que assumi ao longo destes anos. Para cargos de chefia tenho consciência de que haviam outros melhores e mais qualificados candidatos, mas como sempre agi como prudência, respeito aos demais e bom senso e principalmente com apoio dos amigos, novamente a sorte me ajudou e a fé me ajudaram.


Em junho vou completar 30 anos de Prefeitura. Não pretendo parar, me aposentar e me questionaram isso. Relatos de muitos é que não aguentam, Repetem o mantra atual do “sextou”. Isso nunca teve importância para mim. Nestes quase 50 anos de carteira assinada sempre tive disposição para trabalhar em finais de semana, feriados, horas diferenciadas. Em grandes empresas de comunicação se tem folga por escala e geralmente é a cada quinzena.


Mas neste período de quatro décadas fiz muitos amigos que ainda os cultivo. Conheci boa parte do planeta e até hoje tenho prazer, satisfação de ir trabalhar.


Brinco com meus filhos que eu nunca trabalhei na vida, pois como tenho feito o que gosto neste tempo todo, sempre foi prazeroso, divertido e gratificante.


Hoje aproveito o sol,missa das 9 na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no bairro Glória,  mas amanhã cedo estarei bem cedinho no trabalho e assim será enquanto forças eu tiver.