Nos anos 80 era modinha “importar” lança-perfume da Argentina para uso e venda nos bailes de carnaval, principalmente nos clubes sociais. Embalados pela canção de Rita Lee, que foi um sucesso danado em 1980.
Dois conhecidos, de Erechim, resolveram fazer uma importação para abastecer os vários bailes nos clubes sociais da elite, os populares e também aqueles promovidos, no interior do município onde a coisa fervia.
Planejaram a viagem, indo em uma excursão de velhinhos, daquelas que vão a Fóz do Iguaçú, atravessam ao Paraguai onde compram porcarias, bugigangas que chegando aqui nada funciona. E a viagem incluia um rolê por terras argentinas, onde tinham o contato da loja que vendia o tal produto, de boa procedência e qualidade inegável. Daqueles em que o dono repete: - La garantia soy yo!.
Os dois orelhudos partiram na excursão e lá compraram um estoque de lança-perfumes. Os dois espertos imaginaram que poderia haver fiscalização e desparafusaram o compartimento dos dutos do ar-condicionado do ônibus e ali colocaram a valiosa carga que renderia um bom dinheiro no Carnaval erechinense. Os “gringo tudo loco”, imagina.
Não previram a má qualidade das estradas. No solavanco das estradas, alguns tubos vazaram e o preparado se espalhou pelo ônibus todo e a velharada acabou respirando e inalando o éter do capeta. Uns ficaram eufóricos, animados com tamanha energia, tiravam as velhinhas para dançar. Outro queria fazer strip tease, um deles pegou o microfone e começou a cantar sucessos de Waldick Soriano e Nelson Gonçalves, outros vomitaram por cima do passageiro ao lado e uma velhinha gritou:
Ahh que saudades do carnaval de 54…
Aquele filho da puta do Jânio Quadros que apodreça no inferno…Vociferou um senhor de quase 2 metros de altura e uns 130 quilos. Estava agitadão.
Em meio a confusão, os dois importadores se meteram lá no fundão, nos últimos bancos, já que na época os ônibus não tinham banheiros.
O motorista, em carro simples, sem cabine viu a situação e parou em um posto de gasolina perto de Medianeira, no Paraná. Todo mundo desceu e casualmente uma guarnição da Polícia Rodoviária Federal estava tomando um café no posto. Foram averiguar e sentiram o cheiro estranho.
Olharam a velharada alterada, agitados, olhos vermelhos e os dois mais novos quietos que nem nenê cagado. Não queriam nem descer do ônibus.
Busca daqui, olha ali, revista malas e nada. Uma hora depois a PRF liberou o Mercedes de carrocerias Incasel e seguiram viagem. Mais 500 km até Erechim. Assim que cruzaram o Goio-Ên, os dois guapecas desparafusaram o compartimento onde haviam escondido o produto e retiraram as ampolas que não quebraram.
Foi um Carnaval divertido no Clube do Comércio, Atlântico, Caixeiral, Aceja e Cascata Nazzari. Ficou na história e nos bolsos dos dois que recuperaram o investimento com a venda de um produto importado de alta qualidade. E os frascos vazios, encheram com uma fórmula caseira que incluía éter, acetona e umas ervas, perfume Amor Gaúcho e até uma folhas de louro.
Em sete semanas o Carnaval está chegando. Será que tem uma excursão de velhinhos? Vou reservar minha passagem.
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