Quando a professora Inês desceu as escadas da faculdade, fez com todo cuidado, pois dia de chuva e piso molhado sempre há riscos. No último degrau o calçado e o piso tramaram contra ela e lá se foi para o chão. Torceu o tornozelo e se espalhou. Foi um corre corre dos colegas para ajudá-la.
Rapidamente chamaram um professor doutor em fisioterapia para uma avaliação e saber o que fazer.
Professora Inês, há quanto tempo não vejo a senhora. Me deu aulas na quarta série. Vamos ver o que houve. O diagnóstico foi que seria melhor levá-la ao hospital pois o entorse precisa de faixas e talas para evitar a piora.
Chamaram o serviço de emergência dos bombeiros, e nova surpresa. O socorrista ao vê-la questionou:
Oi diretora, o que houve. A senhora não se lembra de mim? Tenho boas lembranças até mesmo de seus conselhos na secretaria. Mas vamos levá-la e tratar do tornozelo. E lá se foi a professora na ambulância dos Bombeiros até o hospital da cidade. O motorista da ambulância a cumprimentou, sem muito entusiasmo porque estava com a missão de levar a professora para um salvamento importante. Mas recordou. - A senhora antes de ser diretora me deu aulas, também. Chegando lá foi prontamente atendida pela equipe de plantão.
Olha só quem chegou! Exclamou a enfermeira chefe do plantão. Professora Inês, há quanto tempo? Veio nos visitar e nem temos um biscoitinho com chá para lhe oferecer, brincou a mocinha. Ela lembrou a professora de que foi aluna dela no curso de enfermagem, já na faculdade. Encaminhou aos procedimentos, feito o raio X, veio a médica plantonista com os exames, olhando contra a luz. Inês, olhou e viu que não era estranha aquela moça. Claro, frequentava sua casa, pois era coleguinha de seu filho, quando adolescentes.
Mas veja só, quem aparece… Inês que bom que a senhora está aqui. Disse a médica plantonista. Mas corrigiu. Bom não é, mas sempre é bom rever pessoas que nos ajudam a construir nossas vidas e carreiras. Enquanto a médica conversava explicando a situação de que havia apenas um rompimento de um tendão e assim inchou o tornozelo, o médico ortopedista chegou em seguida e já ordenou:
Deixe que eu assuma daqui.
Mas eu conheço a professora Inês há tempos..argumentou a médica.
Eu conheço há mais tempo ela me alfabetizou, respondeu o ortopedista em tom de brincadeira.
Por algumas horas a professora Inês foi paparicada por seus ex-alunos, hoje encaminhados na vida. Mas fiquei sabendo deste causo porque a vi com uma bota imobilizadora ortopédica.
Boa tarde professora, virou criança com botinha Ortopé? Provoquei em tom de brincadeira. Ela me olhou, pensou e respondeu
Escute meu senhor. Não lembro de quem seja, mas é uma lesão no tendão e não sou criança para usar botinha Ortopé. Fiquei meio desconcertado com a resposta,mas ela emendou a prosa e me contou a história acima. Esclareci
Nós trabalhamos juntos na Secretaria de Estado de Educação. Daí ela lembrou. Me despedi e a confortei:
Professora a dor vai passar e a senhora vai ficar com o pé novinho em folha. E com tanta manifestação de carinho, apreço e gratidão vai lhe fazer melhorar mais rápido. A senhora deixou muitas coisas boas em cada coraçãozinho dessa piazada que hoje estão encaminhados. Comemore isso. Me despedi e segui em frente. Dei uma olhadinha para trás e vi Inês secando lágrimas. Devem ser gotas de felicidade pela gratidão de seus ex-alunos.
Não faço mais piadinha sobre botinha Ortopé. Mas o jingle era bonitinho. Era assim: Ortopé, Ortopé, tão bonitinho. Tênis e botinhas, sandálias, sapatinhos….
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