Desde a madrugada pai e filho estavam sentados na calçada em frente a delegacia de polícia de Caxias do Sul, enfrentando o ar gelado e o vento. Esperavam a repartição abrir para falar com o delegado a respeito de uma injustiça e também visitar o detento, pois estavam com saudades. Desde a prisão do “nôno” suas vidas ficaram vazias. Não tinha mais graça colher a uva e pisar a fruta nas imensas gamelas para fazer o vinho.
Porco cane! Mas este tal de delegado “non vem trabaiá”. - Figlio di un rospo! Esbravejava o italiano agasalhado com um desgastado sobretudo de lã, fabricado pela confecção Alfred, marca famosa na cidade. Lá pelas nove horas da manhã apareceu o delegado, um sujeito de fora, magrinho, de terno, gravata, bigodinho e chapéu de lado.
Um policial convidou pai e filho para entrarem, pois ali estava frio e em seguida o doutor delegado os atenderia. O policial conhecido ofereceu umas cuias de mate e umas cuecas viradas ou grostoli, como queriam, fritadas na tarde anterior, que sobrou em sua casa e ele trouxe para a delegacia. Pouco tempo depois o doutor delegado pede que o cidadão entre para ouvir a reclamação,
Dotore, viemo ver o Nôno, uma visita e queremo que o senhor solte ele. Não fez nada. Non é criminoso, mas fica falando o tempo todo e nos diverte.
O delegado olhou, solicitou as fichas dos presos ao escrivão e não encontrou nenhum nôno, nenhum idoso e ninguém estava preso na delegacia.
Meu senhor, deve haver algum engano. Não temos prisioneiros.
Tem sim! Prenderam lá fora na “colonha” e trouxeram para cá. Queremos uma explicasson, agora. É tudo culpa daquele Getúlio aquele disgraziato. Eu tô vendo o “nôno” ali no armário.
Com o rumo da prosa o doutor delegado entendeu do que se tratava.
Ahhh! Entendo sua preocupação, mas é ordem federal, e não posso liberar o prisioneiro. Senão eu vou preso e as forças nacionais me levam daqui. É que o seu nôno é altamente perigoso de acordo com os governantes da Guanabara. O delegado encheu mais uma cuia, comeu mais uma cueca virada e questionou:
Mas porque nôno!
É igual meu pai, falava o dia todo, reclamava, cantava, nos divertia, ia junto para roça, para o parreiral e de vez enquanto cochichava e trocava palavras depois de uns bicchiere di tinto.
Vou fazer um acerto com o senhor. vou liberar o nôno para visitar vocês em casa, mas quando o sargento for lá buscá-lo, favor liberar o prisioneiro para voltar para delegacia. De acordo?
Giusto e grazie!
Esta história é quase ficcional. Ocorreu em Caxias do Sul e li durante visita no Museu Municipal sobre o confisco de rádios em colônias de colonização italiana em maio de 1945. Resolvi contar de uma forma diferente, mas parecida de como aconteceu para lembrar deste meio de comunicação que no último dia 13 de fevereiro se comemorou o Dia Mundial do Rádio.
E fica o convite para que ouçam a Rádio Joinville Cultural na frequência 105,1. Também estamos em plataformas de áudio e no streaming. Rádio Joinville Cultural.
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