terça-feira, 6 de agosto de 2019

Branco não entra

 Branco não entra


Já se passaram mais de 50 anos de minha memória sobre um clube que existia perto da minha casa. Cerca de 140 metros, na esquina da rua General Câmara o Esporte Clube Treze de Maio movimentava o bairro, principalmente nos finais de semana.


Grandes orquestras de bons músicos animavam os bailes que duravam a noite inteira. Gente bonita e bem vestida, pois usavam as melhores roupas. As costureiras e os alfaiates tinham trabalho e tudo tinha de estar pronto até o meio dia de sábado para dar tempo de se arrumar, fazer ajustes e ir no salão dar um jeito no cabelo e maquiagem.


Nos bailes não faltava uma copa bem atendida. Lanches e bebidas matavam a fome e a sede dos casais que gastavam a sola dos sapatos e lixavam o chão de madeira do prédio já antigo feita de tábuas de pinho de boa qualidade.


Era diversão toda a noite. E na saída para aqueles que abusavam um pouco da “faixa azul” (menção ao rótulo da cerveja Antarctica), os cuidados redobrados para não cair dentro do rio que cortava a avenida Farrapos até na Usina da CEEE.


Mas a peculiaridade é que era um clube de negros. Sim isto mesmo. Neste tempo de mimimi que vivemos, algo deste tipo seria impensável. Branco não entrava.


Minha mãe dona Lili e a vó Elvira apreciavam assistir os bailes, mas só podiam olhar pela janela. Éramos brancos.  Ficávamos do lado de fora e para mim levavam um banquinho. Eu subia no banquinho para poder enxergar pela janela um mundo diferente. Tinha cinco anos. Hoje não mais existe o clube, mas a recordação de um tempo de aceitação e tolerância são bons. 


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