Na sexta-feira, 13, após a quinta de Dia dos Namorados conversei com uma colega que estava soltando fogo pelas ventas. Mascando freio desde cedo e dando coice na cola. Perguntei o que houve, se a noite não havia sido boa e qual o motivo de estar batendo portas desde cedo.
Não te interessa, me deixa, seu metido. Respondeu ela rispidamente. Ouvi quieto e deixei a raiva consumir tal criatura.
Na tarde anterior comprou umas roupinhas, foi ao “instituto de beleza” porque teria uma noite memorável com um pretendente muito melhor do que os anteriores. Ela andava se exibindo que havia conhecido um empresário do transporte, muito bem sucedido e que os pés de chinelo do trabalho não tinham chance com ela e muito menos os vizinhos que desfilam de chevete velho e CG com escapamento aberto. Até torcemos para “zoiuda” se dar bem.
Passou uma parte do dia até que ela desabafou com uma das colegas e caiu no choro e depois nas risadas.
Me arrumei, gastei metade do meu salário, comprei vestido novo, lingerie, sapato novinho em folha, cabelo, unhas e um perfume novo. Eu deveria saber que tinha alguma coisa errada. Ele marcou de me encontrar no rodízio de pizza num bairro afastado. Cheguei lá a conversa estava agradável. Ele era atencioso e até esqueci o local. Paguei carro de aplicativo para ir até lá naquele fim de mundo. Mas tudo bem…
Mas como foi o resto da noite? perguntou a colega. Era tudo aquilo que dizia? Era um empresário de transportes, de logística com propriedades?
Nem me lembra disso. De certa forma sim. Ele tem uma camioneta pampa que faz fretes e tem um apartamento do Minha Casa Minha Vida no Rubia Kaiser, lá no final do Jardim Paraíso. Só descobri isso quando saímos da pizzaria, cuja conta ele deixou pendurada para acertar depois. Fomos na casa dele, afinal eu não iria perder a noite e a “boniteza”. Chegando lá sentamos no sofá coberto por um lençol para esconder a velhice e o desgaste do móvel. E a gota d`água foi quando veio uma jovem mocinha em trajes menores, que saiu do quarto em direção ao banheiro. Dei um pulo e perguntei quem era. Já me imaginei sequestrada e morta por um casal psicopata. Ele explicou que alugava um dos quartos para a tal moça. Mas sai correndo porta afora, apavorada, quando o sujeito voltou da cozinha com uma garrafa de vinho Vô Luiz adocicado, dois copos de cristal cica e veio em minha direção completamente pelado. Não tive dúvidas, peguei minha bolsa e sai correndo. Chamei um Uber e fui chorar em casa.
Amiga, mas que tragédia sua noite de encontro. Comentou a amiga.
Tragédia mesmo foi eu quebrar minha unha ao abrir a porta e o salto do sapato que caiu ao correr pela escada. E nem paguei a primeira prestação.
Sorte minha que fiquei de moleton, enrolada no edredom assistindo Amor sem Fim com Brooke Shields.
Fez bem, concordou.
Vamos tomar um café e esquecer o empresário de logística. Quem sabe no ano que vem você tenha mais sorte.
As duas continuam na copa, bebendo em silêncio, café preto sem açúcar.
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