terça-feira, 20 de agosto de 2019

Ypiranga e o piá chato

 Ypiranga e o piá chato


Neste domingo o Ypiranga de Erechim completou 95 anos, quase a idade de Erechim.

Seu monumental Estádio Colosso da Lagoa no final da avenida Sete de Setembro, até hoje chama atenção de quem entra e sai do município.


Mas quando foi inaugurado era distante. Era o final da rua, perto da BR e do asilo e na frente um grande chiqueirão de porco. Acho que era dos Tozatti.

Aos domingos, espetáculo na grama verde. Enfrentava o Atlântico, rival histórico (hoje não existe mais). O Tagúa, o Passo Fundo, Glória de Vacaria e quando vinham os grandes do coração gaúcho Grêmio e Internacional era casa cheia. Mais de 22 mil pagantes.

Aos domingos o programa era este. Após o churrasco do meio do almoço, pança cheia uma descanda e lá pelas três cada um com seu radinho de pilha iniciavam a caminhava rumo ao estádio. Dava uns 3 quilômetros a pé.


Após pagar ingressos na bilheteria, passava os portões do Colosso, a visão ampla de um estádio enorme, grama verde, arquibancadas bem cuidadas. Chamava atenção um enorme garrafão para doações de dinheiro. Coisa mais linda um garrafão cheio de dinheiro.

Sentados esperando o jogo e começa a incomodação:


  • Mano quero ir no banheiro - Lá vão ao banheiro.

Começa o espetáculo com o apito inicial do árbitro conhecido como Chita (alusão a macaca do Tarzan, muito popular nos anos 70). Todos com os olhos vidrados no clássico.

  • Mano, quero cachorro quente. Lá mais uma caminhada sem ver o jogo, pedindo licença entre as pessoas até chegar na barraquinha distante. Vai e volta.

  • Mano, quero ir no banheiro, de novo - Com paciência o irmão mais velho levanta o piá e leva de novo. Perde o primeiro gol. Estava esperando o mais novo.

Sentados finalmente, quase no final do primeiro tempo. Ypiranga vencendo por 1 x 0  o Atlântico. Colosso da Lagoa jorrando gente pelo ladrão. Um espetáculo. Intervalo de 15 minutos e lá vem de novo:


  • Quero pipoca. Imagina achar o pipoqueiro naquela multidão. 

Começa o segundo tempo. Equipes entram em campo. Os canarinhos de amarelo e o Atlântico de grená. Chita apita e inicia o espetáculo. 

  • Mano, quero laranjinha. O Piá não dava folga. Olham para os lados, nada do vendedor de refrigerantes. Lá se vão os dois novamente no meio da multidão em busca da Laranjinha Balvedi.


E assim foi todo o segundo tempo. E aos 40 minutos do segundo um chutão do meio de campo a bola voa e encobre o goleiro do Ypiranga: empate. Chita apita rapidamente nem dando tempo de reclamar. Não existia VAR. Foi uma chuva de radinhos de pilha no meio do campo que parecia uma tempestade de meteoros. A Brigada Militar escoltou Chita para o túnel. E depois na viatura levaram o trio de arbitragem. 



  • Mano, me leva tô cansado-

  • Que piá chato!. Reclamou o irmãos mais velho, e tinham mais três quilômetros para voltar para casa.

Obs: o piá chato era eu. Nunca levem um piá chato num jogo ou num show. Eu tinha uns 5 ou 6 anos.


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