quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Autógrafo e a falsidade artística

 Autógrafo e a falsidade artística


Em 2008 foi um ano eleitoral para prefeitos e vereadores e um líder de votação expressiva queria se candidatar a prefeito. Me ligou para uma conversa e discutir o cenário, coligações, planejamento, plano de governo e demais detalhes que envolvem uma campanha eleitoral. Marcamos no Anthurium Hotel, um belo prédio onde foi a casa do bispo.


Cheguei pontualmente às 11h na hora marcada, ele não havia chegado. Aproveitei para caminhar pelo jardim do belo Palácio Episcopal. Um jardim com bosque, piscina, sala de jogos, pássaros de todos os tipos atraídos pelas casinhas de sementes e frutas.  A decoração era única. Cada quarto tinha sua própria identidade e o hotel integrava o Roteiros de Charme.


Me instalei em uma mesinha e pedi um suco de laranja com hortelã para refrescar o típico calorão de nossa cidade. Uns 15 minutos depois chega o pretendente a candidato. Me cumprimentou, sentou e já chamou o garçom e pediu de longe fazendo gesto e falando alto: três doses de uísque em copo alto com pouco gelo. Isto às 11h15min da manhã. Sujeito valente e decidido.


Entabulamos a conversa, falei das eleições anteriores, avaliei perspectivas e a coinversa andava. Mas fora do restaurante que era todo de vidro e dava uma bela visão para o jardim, umas três ou quatro garotas nos observavam. Riam, faziam sinais, seguravam algo nas mãos, que de longe eu não conseguia ver.


Comentei com meu interlocutor. - Deve ser com você, que é famoso e tem votos. Ele não deu muita bola e brincando me respondeu. - Acho que é contigo que tem cara de artista. Nem demos bola e continuamos a prosa. Mas elas continuavam na porta, esperando por um sinal, uma aprovação para se aproximarem. Chamei o garçom e perguntei o que estava havendo, quem eram e o que queriam. Ele me respondeu:

  • Elas pensam que o senhor é artista. É que a dupla Edson e Hudson fizeram show na cidade e estão hospedados aqui no hotel. Elas querem autógrafo, tirar fotos. Me informou o rapaz.

 Entendi. Ouvi e já mudei de postura. Me ajeitei na cadeira, estufei o peito, encolhi a barriga e já fiz pose de artista. Perguntei o que cantavam, uma música de sucesso. Ele me informou que eles haviam gravado recentemente uma música do Moacyr Franco, Ainda Ontem Chorei de Saudade. 


Após a conversa com o meu interlocutor nos despedimos, coloquei meu óculos escuros, passei pela porta onde estavam as garotas para ir embora e parei. Elas, com seus CDs a mão pediram autógrafo. Prontamente eu falei que não poderia dar autógrafo sem meu companheiro de dupla que estava no quarto dormindo ainda, Mas que eu voltaria com ele em seguida para atendê-las. E cantei um pedacinho da música: Ainda ontem chorei de saudade: “Você me pede na carta que eu desapareça…” e fui me despedindo em direção ao carrro. Entrei e falei ao motorista; - Toca logo vamos sair daqui. E elas ficaram lá gritando lindo, lindo, lindo. Imagina se os verdadeiros artistas aparecem?


Já fui confundido em várias ocasiões com alguns conhecidos. Na Prefeitura mais de uma vez me confundiram com o Norberto Sganzerla que era presidente do IPPUJ. Na Secretaria Estadual de Educação com o Cromácio, que era o diretor financeiro e no Anthurium com o Edson. Na cidade do Sganzerla, certa vez cheguei no Hotel Jaraguá de Joaçaba e a recepcionista lascou: Boa noite, que bom que o senhor voltou. Seu quarto está pronto. Dei uma risada e nem perguntei com quem me confundiu. Mais distante foi em Praga, na República Tcheca. Fui num restaurante bacana com cervejaria própria e serviam um delicioso goulash. Um senhor bem vestido que estava numa mesa com mais pessoas levantou-se e veio me cumprimentar. - Que bom revê-lo. Em breve falaremos. Estendi a mão, cumprimentei e fui para uma mesa. Depois fiquei sabendo que era o embaixador brasileiro na República Tcheca.


Sempre repito se eu fosse inteligente como o Norberto, rico como o Cromácio e talentoso como o dito cantor, ninguém me aguentaria. Seria insuportável.






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