Definitivamente não se faz mais velórios como antigamente. Eram acontecimentos onde se reuniam amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos. Alguns iam para ocupar o tempo ocioso ou para se divertir um pouco.
Os velórios eram realizados nas residências das famílias, e o extinto ficava em posição nobre no meio da sala com os pés para a porta da frente, geralmente no meio de quatro velas. E o dito velório durava de um dia para o outro. E as notas fúnebres lida nas rádios fazia eco. Um contava para o outro. Mandavam até para rádios de outras cidades onde se sabia que tinham parentes.
Vinham parentes distantes para se despedir, vizinhança se revezava, a viúva dava chiliques e era amparada pela comadres e parentagem. Ou o viúvo ensaiava algumas lágrimas sob os olhares atentos de novas pretendentes.
Que pouca vergonha, a fulana nem esfriou e a vizinha já está “espichando o olho” para o viúvo - comentavam as jararacas.
Não se faz mais velórios como antigamente!. Ao anoitecer vinha mais gente e a cozinha era o local melhor da casa, ali estavam fazendo alguma comida boa para servir aos que vinham e iam e para os que passavam a noite. No pátio, nos fundos da casa sempre tinha um grupo com chimarrão, pipoca, pratão de bolacha Maria, um garrafão de vinho, uma cachacinha e no fim virava cantoria e contação de piadas. E aí atravessava a noite.
A seriedade voltava com o alvorecer. Alguns iam trabalhar curtidos pela noite, outros tomavam tenência e se chegavam perto do caixão. Afinal mais tarde o padre vinha para a missa de corpo presente.
A chegada do sacerdote era algo esperado e importante. Afinal conseguir um padre para ir em casa era muito difícil. As relações de amizade contavam, pois geralmente alguém ajudava na Igreja, ou era aparentado do líder religioso. Já o recebiam lá na rua e vinham em cortejo, entre choros e lamentações. Missa boa e válida tinha que ser com o Padre, nada de seminarista ou diácono. Para encomendar a alma e levar o distinto (a) para o Céu, só valia as bençãos de um Padre formado no Seminário.
Feita e encomendação, caixão fechado, choradeira, desmaios, corre-corre, vinha outra parte divertida. Às vezes atrasava para esperar um parente ou um filho que ainda não chegou para o último adeus.O cortejo. Seguiam o carro funerário os veículos e depois os ônibus. Sim, colocavam ônibus para os amigos que queriam dar seu último adeus. Se media a importância do morto pelo número de carros no cortejo. Alguns paravam o trânsito e o comério. De tão lindo o cortejo até parecia desfile de 7 de Setembro.
Eu gostava de ir nos velórios para andar de ônibus. Uma vez um colega passou na frente da minha casa e disse: - Vamos a Cotegipe (município distante 12 km) o ônibus vai e volta. O vizinho da rua ali de cima morreu e vai ter missa de corpo presente. - Não pensei muito. Vamos lá conhecer. Na época não tinha asfalto. Estrada ruim esburacada e lá se foi o cortejo com ônibus quase lotado. Chegando em Cotegipe, todos foram para a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, bem no centro. Eu e meu colega foram para o turismo pelas ruas do pequeno município. Não podíamos perder o ônibus para voltar. Andava uma quadra, esticava o pescoço para ver o movimento na porta da Igreja.
E eu nunca soube quem era o vivente que se foi.
domingo, 19 de janeiro de 2020
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