O apito mágico
O apito mágico era ouvido há muitos metros de distância. Eram duas passadas na boca do vendedor que ecoava pelas ruas do bairro. Tinha um efeito maior que o ultrassom. Ouvidos afinados, ouvíamos mais que cachorros.
O encantador do apito fazia qualquer um largar tudo e sair correndo para a rua com alguns trocados. Estava passando o vendedor de picolé ou de algodão doce.
“Picolé. Sorvete e moreninha” gritava o picolezeiro empurrando em dias de sol escaldante o carrinho. Era tudo sortido. Tinha picolé a cinquenta centavos daqueles de gelo sabores limão, laranja, abacaxi. Os de creme e chocolate custavam um pila. E tinha a “Moreninha”, um sorvetinho embalado com casquinha redonda e cobertura de chocolate. Este custava mais. Era de um pila e cinquenta centavos.
Os faladores da rua diziam que o picolezeiro lambia os picolés antes de vender naquelas tardes de sol mais quente que o deserto do Sahara.
Outra atração do apito mágico e encantador era o vendedor de algodão doce. O carrinho era uma festa. Decorado com balões, geralmente pintado em cores primárias para chamar a atenção da criançada. O luxo era escolher a cor na hora. O carrinho com um queimador a gás protegido por uma caixa de vidro como se fosse carrinho de pipocas, mas a mágica era fabulosa. O cheio de açúcar queimado entrava pelas narinas, aguçava o paladar e a gente ficava com água na boca. O algodoeiro, vamos chamá-lo assim, despejava o açucar, o queimador rodava e começava a formar fios bem fininhos do algodão que ia enrolando numa haste de madeira. Eram das mais variadas cores. Conforme a essência que misturava trocava a cor e o sabor.
Cercávamos o algodoeiro. Cada um querendo primeiro o seu. Saíamos grudendos mascando o doce que derretia no contato com a boca e se transformava num açúcar doce. Mãos grudendas esfregávamos no calção, na camiseta e seguíamos a brincadeira. Amanhã eles voltariam.
Dentes? Claro que cariados, prejuízo aos pais que gastavam em dentistas. Mas era bom.
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