domingo, 15 de março de 2020

O CINTO DE CASTIDADE

 O CINTO DE CASTIDADE


Nos anos 80 foi noticiado para todo o Brasil um caso inusitado. O correspondente internacional da Rede Globo, Hermano Henning, apareceu em Erechim com a pauta muito estranha. Ele estava há 10 anos no exterior e voltou ao Brasil. Pautaram ele para cobrir o caso do Cinto de Castidade. Não precisa dar risada. Procurem nos jornais antigos de Erechim que vocês vão encontrar. O Ademar, que me dava aula no JB era o chefe de jornalismo da RBS. Ele deve lembrar da história.

E o causo ocorreu, como sempre em Campinas do Sul (Nino Bandoleiro, Come Gente e Cinto de Castidade) Este lugar deve ter alguma assombração que atrai tanta coisa assim.

Um agricultor, desconfiado da infidelidade da esposa, e impregnado pelo falatório no armazém, no boteco e nas rodas de véias fofoqueiras nas missas de domingo, estava com uma pulga atrás da orelha.

Por alguns dias ficou espreitando. Saia cedo para a roça. Pegava foice, facão, enxada e seguia com sua marmita. Só voltaria no final da tarde. Lida pesada, roça de feijão, mandioca, tomate, uma horta, duas vacas e cinco leitões. Trabalheira de sol a sol. Mas volta e meia voltava para perto da casa e ficava espiando algum movimento ou se ela saia para algum encontro, ou se recebia alguma visita. Passou algumas semanas e nada.

Mas o falatório continuava. E a coceira na cabeça cada vez mais latente.

Era um polaco calmo, nem era cachaceiro. Uns 30 e poucos anos, tranquilo, trabalhador e até bem humorado. Mas os comentários não paravam. “Deve ser ciume dessas véias gordas, feias e carolas”, pensou tentando se tranquilizar.

Não era afeito a bebidas. Preferia um chá de funcho que colhia no terreno. Fica bem mais tranquilo. Mas a fofocaiada lhe tirava a paciência. Nem ia mais na missa, mas daí para acabar com o assunto, preparou o cavalo, encilhou e atrelou na carroça. Percorreu uns 10 quilômetros até num ferreiro conhecido. Não sabia muito como falar, mas fez um desenho com umas medidas e disse para o ferreiro fazer umas soldas aqui, ali e colocar um cadeado. O ferreiro perguntou: Mas que é isso? E o polaco prontamente respondeu: - É para uma cachorra véia não dar cria. O ferreiro nem pensou muito, fez as soldas e entregou o artefato. Com sorriso largo o polaco voltou para a propriedade. Desceu da carroça pegou um cesto de vime onde guardava o artefato construído pelo ferreiro com seu projeto..

  • Muié - chamou ela que veio a sala.

  • O que foi hôme? - questinou singelamente.

  • Para acabar o falatório você vai usar isso aqui- exibindo o artefato

  • Você tá louco? E minhas necessidades? - indagou.

  • Eu fico com a chave. Faz de manhã e de noite quando eu voltar. Determinou

Mas o assunto se espalhou mais que rastilho de pólvora. O ferreiro lambanceiro se vangloriou de de ter construído o invento do polaco e que era uma solução para evitar ninhadas de cachorros. A curiosidade aumentou. 

Foi assim que chegou aos ouvidos de todos e a reportagem do Fantástico. Hermano Henning foi entrevistá-lo. Sorridente iria aparecer na TV e a esposa mais ao fundo toda envergonhada com a situação, escorada num galpãozinho onde guardavam as ferramentas e o debulhador de milho.

  • Mas o que levou o senhor a construir e colocar em sua esposa um cinto de castidade? Perguntou o repórter.

  • É que tem muito “gavion” aqui na volta! Respondeu com firmeza. 

As fofocas da infidelidade cessaram e começaram as repercussões do polaco louco que acorrentava a mulher. A vida como ela é.


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