sábado, 8 de agosto de 2020

Presente para o pai



Presente para o pai




Era um dia assim como hoje, um sábado véspera de Dia dos Pais. Um amigo trabalhava em um loja de presentes e discos, na época em que não havia CDs. Eram os vinis que ficavam em grandes balcões separados por gêneros e artistas. Como todo sábado eu saia dar uma volta no centro, ver as vitrines e conversar com os amigos e passava na loja de discos onde meu colega trabalhava de balconista. Ele também era metido a jogador de futebol, queria um dia fugir para Porto Alegre e entrar na escolinha do Grêmio, e dançarino na pré-histórica era John Travolta. Rodopiava nas danceterias se achando a estrela do Saturday Night Fever.

Por volta das 10h parou na vitrine um rapaz bem simples e humilde,mal trajado e ficou olhando para as coisas bonitas daquela vitrine iluminada. Discos, presentes diversos, bichinhos de pelúcia, enfim uma variada oferta de artigos.

Lentamente entrou na loja, calçando botas visivelmente empoeiradas, uma camisa volta ao mundo, bombacha sem favo, chapéu de feltro marrom bem puído e segurava uma daquelas carteiras horríveis e bregas que homens usavam no final dos anos 70 e início dos 80, as chamadas “Capanga”.

Entrou, quieto andou pelos corredores como se estivesse procurando algo. Meu amigo chegou perto: Bom dia, o que o senhor procura? Estou campeando um disco do Teixeirinha - respondeu timidamente com voz quase inaudível de vergonha em falar com gente bem trajada e assustado com tantas luzes e som alto dentro da loja. Temos sim, o senhor pode vir aqui que vou lhe mostrar - prontamente solícito o vendedor levou o rapaz até o local onde estavam todos os discos de Teixeirinha, que foi o maior artista gaúcho e um dos maiores vencedores de discos do Brasil. Ele olhou todos e escolheu o lançamento daquele ano Menina Margarethe. Quanto custa? Este custa 5 cruzeiros. Mas eu só tenho 4,50 e quero dar para meu pai este disco que ele gosta de ouvir, relatou o rapaz. Espera que um pouco que vou falar com o dono.

Meu colega foi até o caixa e explicou a situação ao judeu que era dono da lojinha. Explicou que o rapaz queria dar o disco ao pai, mas faltava os 50 centavos de Cruzeiro, e que se poderia dar desconto.

Vende o disco com o desconto, mas só o disco. A capa não.Ordenou o lojista.


Mas daí o presente fica sem graça, e o que faremos só com a capa? Argumentou meu amigo.


Embrulha o disco num papel desses de presente, que nem vão notar e a capa você coloca na vitrine como mostruário. Determinou. Assim foi feito.



Fato ocorrido há 40 anos mas atual quando vemos hoje pela TV e redes sociais como algumas pessoas são tratadas por quem se julga mais rico, mais poderoso, mais importante. Caso como o do desembargador de Santos que se julga melhor que os outros e não quer usar máscara e humilha os guardas, o caso do entregador humilhado por um morador de um condomínio. Casos assim sempre existiram. Mas hoje as pessoas não se calam e contam com redes sociais como aliados nas denúncias. Sabe com quem está falando? Pois é este tipo de intimidação um dia vai acabar.

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