Ainda sinto o aroma do banquete
Era um domingo de sol, claro, bonito. Estava pautado para cobrir uma festa de uma comunidade católica no interior de Caxias do Sul. Era tradicional. Não lembro mais se era na Vila Oliva, Fazenda Souza ou Santa Lúcia do Piaí, que não pertence a Caxias.
Seguimos viagem e chegamos a tempo de cobrir o evento todo pela manhã. A tradicional romaria, missa, jogo de futebol num gramado bem cuidado que dava gosto de ver. Anotei tudo, já estava com o texto montado na minha cabeça, as fotos feitas com farto material para o editor trabalhar de tarde.
Mas lá pelas 11h30min percorri os arredores e entrei no salão paroquial onde estavam sendo montadas as mesas com as delícias da culinária italiana. O aroma vinha de longe e como bom taurino gorducho não poderia deixar de fiscalizar do que se tratava. De longe senti os temperos os aromas de molho de tomate, de manjericão, alecrim, salsa, cebolinha, churrasco, frango assado com pimenta do reino por cima.
Uma senhora me viu ali e veio ao meu encontro.
- Bom dia moço! O presidente da comunidade disse que vocês são do jornal lá de Caxias. Separamos uma mesa para vocês. Não me façam desfeita de ir embora sem experimentar nossa comida. – Convidou apontando para a mesa e para as senhoras da cozinha.
- Vem aqui quero te mostrar minhas comadres, minhas filhas, e as mulheres daqui que estão trabalhando. Fui, entrei na cozinha e o espetáculo era maior ainda. Quando vi um leitão assado saindo do forno, quase não resisti em pedir uma lasquinha. O dourado dos cortes de frango brilhava mais que ouro. Quando despejaram a polenta na tabua de madeira aí meu coração quase parou. E a fornada de pão fumegando...sem descrição.
E o pratão de radicci temperado com vinagre da colônia. Era de babar. Em uma mesa longa de madeira, com farinha de trigo espalhada para não grudar a massa, estava o divino macarrão feito na hora, esperando para mergulhar no panelão de água quente e sair cozido, al dente, para receber o molho de tomate, ou alho e óleo ou um caldo de feijão. E o cheiro de manjericão a esta altura já tinha me dominado. Do lado de fora vinha o cheiro do churrasco que estava ficando no ponto esperando o meio dia onde o pessoal já estaria se sentando para almoçar. Mas já havia uns gringos com um garrafão de vinho tinto. Valentes. Vinho tinto ao meio dia é para quem é forte. Outros pediam uma “grade” de Polar de Feliz ou podia ser Antarctica de Caxias
- Me traga meia dúzia de faixa azul- ordenava um dos participantes empolgado com o dia bonito, comida farta e com a festa realizada anualmente. Depois disso todos deitaria embaixo de uma árvore no gramado e curaria a ressaca.
Já era cerca de 12h30min o fotógrafo chegou perto e disse: - Vamos embora? Falei que fomos convidados para o almoço pelo presidente da comunidade. Dai ele se emburrou, disse que não ficaria e que iria embora com o motorista. Tinha de levar as fotos e revelas (não existia fotografia digital.) e o chefe disse que “não deveríamos aceitar presentes de fontes”. O motorista, queria ficar e voltou para Caxias com um bico de beber água em jarro.
Voltamos, chegamos no jornal cada um fez sua parte, escrevi e só me restou voltar para minha cobertura na rua Sinimbú, perto dos Correios e preparar um banquete. Tinha uma latinha de sardinha, um pacotinho de miojo e preparei um belo almoço de frutos do mar.
Três décadas depois ainda sinto o aroma do banquete e aquela imagem magnífica dos pratos prontos para serem divinamente devorados.
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