sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Onde andava sumido?

 Onde andava sumido?




Há exatos 30 anos eu trabalhava no jornal Folha de Hoje em Caxias, que funcionava na esquina da Tronca com Floriano, prédio da Triches, que era dono de um grupo de comunicação. 

Estava na Editoria de Economia e num período do ano, uma dita Força Tarefa ia fiscalizar casas noturnas. Era um grupo formado por fiscais da Prefeitura, Conselho Tutelar, Justiça de Menores, Corpo de Bombeiros e outros órgãos. Combinado era todos estarem na Praça Dante  Alighieri às dez da noite para seguir o roteiro já montado por um sargento do Corpo de Bombeiros, um sujeito bonachão, negro forte, alto bem humorado. Ele liderava o grupo.

Visitamos bares, restaurantes, casas de shows, casas de atividades suspeitas onde moças atendiam e bares da moda.

Cada visita, ele apresentava a o grupo e explicava a intenção:

  • Só vamos vistoriar a segurança da casa, saída de incêndio, condições sanitárias, extintor e se não há menor na casa- discursava em bom som o sargento, todo animado com o protagonismo. Todos com e planilhas para anotações e alguns já para autuações de alguma possível irregularidade e orientações.

E assim seguimos noite adentro até pelo menos 2 horas da madrugada quando chegamos em uma casa de respeito no final da Ernesto Alves quase na BR 116.

Chegamos em frente ao estabelecimento, nos reunimos na frente para esperar que todos chegassem e assim fazer a visita. Notei que o entusiasmo do sargento estava menor, mas poderia estar cansado, afinal com certa idade, gorducho e o calor poderia estar cansado após quase 5 horas de vistoria.

  • Será que precisamos ver esta casa, acho que todos estão cansados - questionou o sargento

  • Eu estou bem, acho que dá para fazer esta última- sugeriu o fiscal da vigilância.

  • Tá bom! Vamos entrar, podem ir entrando que já vou- indicou o bombeiro.

Entramos porta adentro e nos apresentamos. Veio a dama  proprietária da casa. Pouco mais de 1,60m vestido de oncinha, cabelo ruivo, lenço colorido no pescoço, três anéis de brilhante, salto alto e meia de fina seda. Perfume que já era seu cumprimento a metros de distância. Com sorriso aberto de boas vindas aproximou-se do grupo e fez com que todos se sentissem bem.

  • Sejam bem vindos à minha casa. O que posso fazer pelo prazer de vocês. Recepcionou a madame ajeitando o cabelo e logo estendendo a mão bem cuidada com anéis de brilhante, pulseiras feitas com farto ouro e unhas pintadas de vermelho pecado.

  • Viemos fazer uma vistoria e uma inspeção. Coisa de rotina. Explicou um fiscal, pois o sargento estava lá fora ainda. - Mas estamos esperando o representante dos Bombeiros- complementou o fiscal.

E meio sem graça, de cabeça baixa, surgiu o sargento que ficou atrás do grupo. Vamos prosseguir disse meio resmungando na meia luz, como se quisesse se livrar logo.

Lá da frente a proprietária da casa viu o último membro da Força Tarefa e falou alto:

  • Oi querido! Que bom que você apareceu. Onde andava, sumido. Tem umas meninas novas que querem dançar com você, pé de valsa.

  • Pessoal, acho que a casa está toda em ordem, tem até o alvará pregado ali na parede, podemos concluir nossa tarefa de hoje, já é tarde e vocês devem estar cansados. - Sugeriu o sargento.

Todos concordaram. Inclusive eu. Afinal era quase 3 da madrugada teria de ir para casa e no dia seguinte escrever a matéria. Mas antes passei no Vôo Livre para uma Antarctica fabricada em Caxias e uma Polar de Feliz.


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