Se conheceram na faculdade e ataram um namoro que virou relacionamento sério e confiável. Nunca casaram no papel, sempre tiveram uma boa união, parceria, amizade e cumplicidade. Também sabiam dosar a liberdade. Não era raro fazerem viagens separados para dar um tempo na relação e não desgastar.
Foi assim durante mais de três décadas. Companheiros também de viagem e de bebidas, de planos conjuntos.
Num ano ele partiu com um amigo por um roteiro que incluia países da África, Europa e Ásia. Percorreram vários países que resultou em um livro de fotografias mostrando o cotidiano de africanos, paquistaneses, indianos e chineses. A cada retorno a saudade esperada e momentos de encanto.
Trabalhávamos juntos eu e César, casado com Carol. Por uma semana ele andava meio que nem cachorro que caiu do caminhão da mudança, meio caladão e perguntei o que havia.
A gata foi viajar. Pegou férias foi para a Europa ficar uns dias - explicou
Que legal, mas ela foi de excursão com alguma agência? - questionei puxando conversa na copa onde íamos seguidamente pegar um cafezinho.
Não, ela foi com um colega, planejaram a viagem e foram.
Um colega homem ou mulher? Perguntei em tom venenoso e sarcástico.
Qual que é, quer saber demais. Deixa de ser fofoqueiro, respondeu com uma risada.
Ué, não tem nada demais- despistei.
Ela foi com um amigo do trabalho, um colega. Acho que o cara é gay, mas eu confio na gata. Respondeu não dando margem a comentários.
Volta e meia alguém fazia uma piadinha sobre o fato.
Passados 15 dias fizemos um churrasco numa quinta-feira a noite, pois na sexta era véspera de feriadão e todos sairiam para algum destino
Todos chegaram, cada um trouxe algo para ajudar. Um trouxe cerveja de uma marca, outro de outra marca, gelo, refrigerante, pão com alho, um corte de alcatra, linguicinha, enfim tudo o que precisávamos. E assim adentramos pela noite. Lá pelas 23 horas a maioria já embalado com muita bebida começamos a fase do bate-bola. Cada um contando mentiras, vantagens e novidades. Lá pelas tantas, nosso personagem levanta e pede silêncio. Todos param e ele solenemente queria exibir aos amigos, aos colegas um presente que ganhou da gata dele, que esteve em tour pela Europa e ficou uma semana na Espanha tendo assistido uma tourada na Plaza de Toros de Las Ventas em Madrid onde se paga cerca de R$ 150 reais pelo ingresso.
Contou que a companheira Carol havia viajado para Espanha e lhe trouxe um souvenir. Abriu a mochila e desenrolou um cartaz, daqueles vendidos nos quiosques de souvenirs de pontos turísticos. Muito comuns em museus e casas de espetáculo da Europa. Era um cartaz anunciando uma monumental corrida de toros em Las Ventas e com o nome do nosso colega estava impresso. Ao abrir o cartaz todos se olharam, imaginaram a cena. Ela com o amigo pela Europa e ele com o cartão de toureiro. Huuummmmm.
Só um gritou lá dos fundos, meio bêbado ainda
Olè! Viva o touro. Todos caíram na gargalhada com El Torero que rapidamente enrolou o cartaz, enfiou na mochila e sumiu noite adentro.
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