sexta-feira, 1 de abril de 2022

Quase foi para a Seleção



Quase foi para a Seleção





Nesta sexta-feira (1/4/22) eu estava acompanhando pela televisão os sorteios dos jogos da Copa do Mundo deste ano, que será no Catar e me lembrei de uma conversa de boteco ocorrida há mais ou menos dois meses.




Em boteco as conversas dos habituais clientes são sempre as mesmas e geralmente ocupam as mesmas mesas e mesmos lugares, como se estivessem na firma. Isto estranhei quando cheguei em Joinville há 30 anos, passava em frente ao Barbante, na esquina das ruas Campos Salles e 15 de Novembro, onde numa noite fui apresentado a um alienígena horroroso, o tal de caranguejo. Coisa do compadre Ronaldo Corrêa. Mas eu morava na Campos Salles e diariamente ia na Blupão e numa mesa de canto diariamente cinco clientes, cada um no seu lugar e cada um com sua cerveja. Nenhum bebia nem um copo servido da garrafa do outro. Estranhos não eram bem vindos.




Mas voltando ao assunto, as conversas de frequentadores de bar são as mesas e muitas vezes repetidas. Depois do segundo copo, começam a contar vantagens.




Tem um que jura de pé junto que namorou uma ex-miss Brasil e depois atriz de renomado sucesso em televisão e cinema. Conheceu a moça quando era novinha em Blumenau. Outros enumeram suas conquistas amorosas, outros mentem sobre pescarias no Mato Grosso e rios do Paraguai, sobre como são exímios e espertos no doominó. Tem aqueles que viram valentes e que em certa feita enfrentou até uma patrulha de brigadianos e “cagou os policia de pau”. Será? Vamos acreditar. Pior que todos acenam positivamente com a cabeça, concordando, aprovando os comentários e alguns até aumentam o conto com um ponto.




Tem um colega jornalista, já veterano, decano e quase no bico do corvo que lascou uma de doer. Garante que foi um grande atleta de futebol, que era um prodígio, corria os 90 minutos, fazia gols que eram uma obra de arte, de dar inveja. Não sobrava nada para Hoppe, muito menos para Garrincha, Pelé, Maradona e muito menos para Cristiano Ronaldo e nem os ronaldos o Fenômeno e o Gaúcho.




Cada vez que tocam no assunto ele estufa o peito e começa:




No meu tempo, quando vim para Joinville para jogar…e segue a cantilena. Sempre tem um colega, como se diz no Rio Grande do Sul “queimador de campo”, se mete na conversa e dá seu testemunho de que o fulano era um jogador excepcional.




Nem precisava de aquecimento, alongamento e concentração. Chegada 15 minutos antes do jogo vestia o “fardamento”, calçava uma chuteira com número menor para ficar com raiva e depois, em campo, sentar a botina na bola contra os adversários.




Conversa vai, conversa vem, cerveja que abre, cachacinha para regular a lenta, bitter Mayerle Boonekamp para limpar o estômago da graça acumulada com o torresmo, salsichão e joelho de porco que estavam beliscando. E assim segue a conversaiada por longas horas.




Mas como toda mentira tem perna curta, numa quinta-feira de noite, nos encontramos no Bloco C, em frente a Anhanguera, no bairro Glória. O veterano depois de meia garrafa de vinho que trouxe lá de Pinheiro Preto, já havia analisado o futuro da reportagem, fim dos jornais, surgimento de portais de releases, morte das grandes e profundas matérias. Lembrou se suas conquistas amorosas, o que a maioria duvida da formosura das damas que ele enaltece em seus sonhos. E insistiu que foi um grande jogador de futebol. Porém não há fotos e nem testemunhos reais.




Vim para Joinville a peso de ouro. Era um jogador que estava predestinado a seleção brasileira. Bradou em alto e bom som com um copo de vinho na mão. Aqueles de garrafão vindo de Pinheiro Preto ficava aberto preso aos seus pés.




Lá dos fundos do boteco um senhor aparentemente da mesma idade do nosso amigo, já meio tontinho de umas quatro “marvada” levantou ofereceu um brinde e lascou:




Um brinde para ti meu ídolo. Lembro dos tempos de jogador! Ofereceu erguendo o copinho. A esta altura de peito estufado nosso amigo levantou, encheu mais uma “taça” com vinho. Era peculiar pois usava um vidro que vinha com conservas da Stein, que ele guardava até com o rótulo desgastado com o tempo.


Viu pessoal. Aqui há uma testemunha presente dos meus tempos de glória nos gramados. Conta aí para o pessoal se eu não era bom de bola mesmo. Desafiou.


Lembro sim, daquele jogo memorável, inesquecível e do seu gol.Relatou o ex-fã.


Você está falando do pênalti, drible ou cruzamento com gol de bicicleta? Se exibiu o papudo.


Estou falando do gol contra que você fez no Torneio do Porco, lá perto do Salão Jacob, no Piraí em 1968. Graças àquele pataço contra o seu goleiro, meu time venceu a segundona e levamos um porco de 100 kg para casa. Deu duas latas de banha.




Só restou ao meu amigo papudo encher o vidro da Stein de vinho tinto seco, tomar num gole só e sair porta afora. Até deixou o garrafão aberto e o chapéu sobre a mesa. Semana que vem ele se recupera. Acho que não vai mais comentar como era bom de futebol. Quanto a missa? Vamos acreditar mais algum tempo.

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