sexta-feira, 13 de maio de 2022

Nunca chegue perto do poço negro



Nunca chegue perto do poço negro




Era por volta das 10h da manhã quando um caminhão entrou pela pequena estrada de chão batido em direção a um sobrado que estava para alugar. Localizado a 800 metros da estrada principal. A pequena localidade não se via, da estrada principal asfaltada por estar encoberta pelas montanhas e era um belo vale, com uma sociedade recreativa e esportiva, alguns vizinhos, com casas bem distanciadas.




Duas moradoras antigas, sentadas na varanda da casa, de uma delas viu o caminhão estacionar e comentou com a outra:



Mudança, vizinhança nova. Será que eles sabem?


Acho que não. Já faz mais de cinco anos. E nunca conseguiram alugar ou parar gente aí.


Credo! Me dá até arrepio só de passar na frente.


Acho que ninguém falou nada - conclui uma delas.




Mudança retirada do caminhão, móveis carregados para o sobrado e o dia todo a nova família ficou na lida de limpeza e organização, sob os olhares atentos dos vizinhos. As duas continuaram até o final da tarde trocando guizos.




Não contentes com a curiosidade, caminharam alguns metros até a casa e bateram palmas. A dupla de cachorras rottweiler já vieram no portão e latiram com ferocidade, defendendo seu novo território. Recuaram assustadas com os dentes, boca babando e latido forte das cadelas. O dono chegou e cumprimentou-as.




Boa tarde vizinho, viemos dar boas vindas. Está tudo bem com vocês. É que faz muito tempo que ninguém mora nesta casa e como vocês vieram?

Viemos do outro município, lá o aluguel estava caro e esta casa enorme está com um preço muito bom. Respondeu o novo inquilino.


AAhhh! Tá bom. Mas o dono lhe contou tudo?


Sim, falou que posso usar tudo, tem o galpão para lenha, churrasqueira, espaço pra horta, galinheiro só me disse para não mexer naquele poço negro.


Sim, mas não falou mais nada?


Só isso que é importante. Mas me dão licença que temos muita sujeira para limpar e arrumar os móveis.

As duas foram embora com as línguas formigando com vontade de contar tudo o que sabiam.




Os novos vizinhos não apareciam muito na rua. E à noite as rottweiler não dormiam. algo as incomodava e percorriam o terreno o tempo todo, latiam, uivavam e não tinham sossego.




Em uma noite de lua cheia, estavam impacientes. A esposa levantou por volta das 3h30min e espiou pela janela dos fundos. A noite iluminada pelo luar viu algo assustador. Correu para a cama e chamou pelo marido que não queria acordar.

Tá louca muié. Tá vendo fantasma a esta hora?


Eu vi algo lá fora. Levanta. As cachorras estão agitadas


Não saio daqui nem se a Xuxa implorar, brincou ele


Me abraça, eu vi algo


Tá bom, deita aqui.

No sábado pela manhã, ele acordou, como de costume às 6 horas. Preparou um chimarrão e foi dar uma caminhada no pátio. Desceu as escadas e não acreditou no que viu.

Todas as mudas de Espada de São Jorge e Comigo Ninguém Pode estavam estraçalhadas e espalhadas por todo o terreno que estava esburacado.

As duas rottweiler surgiram de trás do galpão que servia para guardar lenha e ferramentas com pedaços de roupas, blusas, calças e sapatos. Ele correu para ver de onde tiraram aquilo. Tinha muito mais.




Correu para casa subindo as escadas aos pulos. Entrou no quarto acordou a esposa:

- O que você viu ontem à noite? Gritou tocando nela para acordá-la. ela não acorda. Nilcéia, por favor acorda! O que você viu? Acorda pelo amor de Deus, o que há com você? O que você viu? e nada dela acordar. Desesperado, envergonhado por não ter acreditado no que ela disse ter visto, corre até a rua, olha para os lados mas só vê cerração, pois estamos iniciando o inverno e o sol ainda não chegou. Volta ao quarto e ela não está mais na cama. Seu coração bate mais forte, sente dificuldades em respirar e ouve um barulho forte atrás dele.

- Assim você me mata! Disse ele para a esposa que saia do banheiro, muito cansada. O que você viu ontem?

- Você não acredita em mim.

- Acredito sim , me fala

- Vi um homem saindo do galpão da lenha, cabelos longos, olhos vermelhos, e com uma corda amarrada no pescoço. Ele olhou fixamente para mim. Há algo estranho. Afirmou, contando o que viu.




Sentaram na ampla varanda do andar de cima e ficaram olhando o pátio sem saber o que fazer enquanto as duas rottweiler sentaram à beira do poço negro com olhar fixo para dentro e rosnando para algo que os humanos não conseguem ver.




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