sábado, 6 de agosto de 2022

O TIME DE FUTEBOL QUE DESCOBRIU O “PARAÍSO”

 O TIME DE FUTEBOL QUE DESCOBRIU O “PARAÍSO”


Era comum nas tardes de verão e inverno, a piazada bater uma bolinha num campinho em meio aos pinheiros, no bairro Cerâmica, em Erechim. Isto no final dos anos 60 e início dos 70. Contavam as horas para acabar logo as aulas e correr para casa, comer alguma coisa, ajudar a lavar e secar a louça,  estender as roupas, passar uma vassoura na casa. Escovão e encerar o chão só no sábado de manhã.


Em uma tarde de sábado, de calor acima da média a gurizada jogou três partidas com os dois times de irmãos e vizinhos. Era os de camisa contra os sem camisa. As traves eram de bambu e a rede? Resolveram usando sacos de ráfia, daqueles que se usava para embalar frutas, pois eram de redinha e passava o vento, chuva e sol. Já tinham um estádio monumental no pinheiral.


Todos na faixa de 10 a 12 anos, porém um mais esperto descobriu algo espetacular. Descendo uns 700 metros pelo morro da cerâmica em direção ao trevo do aeroporto passava um córrego, um riozinho de água limpa. Isso há quase 60 anos. Não tiveram dúvidas e se aventuraram pelo meio do pinheiral até chegar na sanga que deságua no bairro São Cristovão.


Começaram a se refrescar sempre lá no final da tarde em determinado ponto do rio. Um dia resolveram terminar o jogo antes porque tinham afazeres em casa e deveriam estar cedo para se arrumar e ir na missa na Paróquia de São Cristovão. Resolveram subir pelo riacho naquela tarde escaldante, em direção a Frinape para ver de onde vinha o rio. 


E bem na curva começaram a ouvir vozes, risos e uma conversaiada que não parava. Não tinham visão devido aos arbustos. Ficaram quietos e foram espreitando por trás da vegetação nas margens do córrego. 


Com certeza descobriram o paraíso. Era melhor que um pote de outo no final do arco-íris.  Um grupo de moças nuas, seminuas, conversando, lavando roupas e se banhando. Aí descobriram que as garotas da zona do meretrício, que ficava do outro lado do córrego às margens da transbrasiliana (BR-153) iam ao riacho todos os dias para lavar roupas e tomar banho nas tardes quentes porque as donas das casas não queriam que gastassem energia com chuveiro. Elas que esquentassem a água em bacias no sol se quisessem.


Aquela visão era melhor do que fazer 13 pontos na Loteca. E ali ficaram observando, observando e desejando. E o sol foi se pondo, as moças se recolheram porque em breve anoiteceria e a “função” iria começar com a chegada dos primeiros clientes.


A gurizada sumiu para casa, correndo pelo meios das araucárias. E um grupo de seis irmãos conhecidos da Cerâmica chegaram em casa com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança. Todos segurando a camiseta enrolada nas mãos postadas em frente aos calções. Entraram em fila indiana e correram para o quarto de três beliches. Cada qual na sua cama, bem quietinhos.


O pavor foi quando a mãe deles abriu a porta com uma vara de marmelo e mandou todos se recomporem. Colocou-os em perfilamento. Fez bater continência batendo a varinha de marmelo na mão e ordenou:


- Que papelão! Não quero nem saber onde estavam. Agora o “time do tico duro” vai direto para um banho frio, se arrumem que missa começa em 15 minutos e vamos pé. E foi chamando pelos nomes. Cada um que passava era um laçaço de marmelo no lombo para lembrar do acontecido.


Foi um corre-corre para ver quem ia para o chuveiro antes. Foram na missa das 18 horas, no domingo na das 10h e nada de futebol naquela tarde. A vara de marmelo continuava pendurava num prego na cozinha bem à vista de todos para lembrar de não mais se distrair no paraíso às margens do riacho.



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