Joinville é uma das cidades do mundo onde mais chove. É comum alagamentos em bairros e principalmente no centro, mas este fato terrivelmente verdadeiro aconteceu há uns 40 anos ou mais, com um, hoje, renomado arquiteto dos ricos e famosos. Na época era um remediado como nós.
Como tantos migrantes deu de costados por Joinville. Gostava de frequentar o centro e geralmente passava num dos botecos e fazia um sinal para o bolicheiro para que servisse um “traçado”. Esta bebida não é comum, mas preferida pelos que gostam de tango e de noite. Uma mistura de vinho branco com gasosa (soda).
Certa feita se apaixonou e não teve dúvidas marcou o casório. Poucos amigos e alguns colegas da firma se fartaram de pizza, Faixa Azul fabricada em Joinville e algumas senhoras bebiam só gasosinha. Terminada a comemoração era hora de ir embora.
O casal chegou em casa, na rua Itajaí, que na época era residencial e com aluguéis baratos. Abriu a porta e fez a cena de cinema. Pegou a esposa nos braços e a levou até o sofá cama que tinham comprado para o casamento. O dinheiro era curto.
Enquanto estavam se preparando para as núpcias começou a chover. Inicialmente uma garoa que foi apertando até chegar a um temporal que Deus mandava. Era chuva forte e para piorar era época de maré alta. Ele olhou pela janela e viu que a rua estava toda alagada e subindo. Começou a dar calafrio e perdeu a concentração nos carinhos, carícias que deveriam trocar na noite que deveria ser especial.
Volta e meia entre um beijinho e um afago ele pulava do sofá cama e dava uma espiada na rua. Ela já estava incomodada com ele. Ela fervia de desejos de consumar o ato do casamento, na tão esperada Lua de Mel.
Vem cá benzinho, Vem comemorar nosso casamento. Esta noite é especial. Dizia a jovem esposa. Ele voltava para o sofá cama bordô de courvin. Na vitrola um disco do Antonio Marcos rodava em som médio para não atrapalhar a vizinhança e também para que ninguém ouvisse o que estavam fazendo.
Mas a cabeça do desenhista estava na rua, pensando que a águas do rio Cachoeira estava inundando a rua Itajaí e com isso poderia entrar na casa terrea onde viviam. E assim foi por um longo tempo.
Um forte trovão com raio rompeu o silêncio da madrugada e o aguaceiro aumentou. Aí ele pulou do sofá cama vestiu uma roupa e correu para a porta.
Volta aqui, onde você vai com esta corda? Questionou a esposa.
Vou amarrar meu Chevette no poste. A chuva vai levar embora e Nem paguei a primeira prestação.
Se sair desse quarto, fica com o Chevette e nem precisa voltar. Sentenciou a jovem, atraente e fogosa esposa na primeira noite do casa.
Ele baixou a cabeça. Ficou com o olhar perdido e sem ação olhando para a porta e para o sofá cama, onde a bela jovem esposa o esperava como veio a mundo. E a cabeça fervilhando. Pagar três anos de prestação do Chevette e deixar o rio levar?
Bom, a chuva durou até o amanhecer quando o sol raiou e as águas baixaram. O domingo foi radiante, bonito com arco-íris no horizonte.
Quem passava por ali indo para a missa das 10 na Catedral se perguntava. O que faz este jovem dormindo no banco de um chevette amarrado num posto e segurando a ponta da corda?
domingo, 22 de janeiro de 2023
Assinar:
Postar comentários (Atom)
-
Nas festas da “firma” de final de ano sempre é com para ouvir façanhas, causos contados e requentados e outros inéditos. Estávamos pros...
-
Geralmente acordo de madrugada e neste domingo, meio sonolento vi dois olhinhos na porta, me observou e entrou sorrateiramente no quarto. Ve...
-
O monstro do Erechim Há 40 anos o serial killer aterrorizava a região Era 1980, quando comecei a estudar de noite na Escola Estadual Norm...
Nenhum comentário:
Postar um comentário