Este fato verídico, verdadeiro e com testemunhas ocorreu há um bom tempo no Votouro/Faxinalzinho. E meu parente Anildo Torres não me deixa mentir sozinho, pois sabe mais detalhes do ocorrido.
Quando as novas terras no norte do Rio Grande do Sul estavam sendo desbravadas, com corte de florestas, abertura de estradas e surgimento de povoados, muitos migrantes, imigrantes foram para lá tentar a sorte, iniciar novos negócios e tentar uma vida melhor.
Erechim já era uma cidade consolidada, pois já fez 100 anos. O antigo distrito de São Valentim virou município em 1945, mas o Faxinalzinho era uma localidade de passagem, pouso, alimentação para quem seguia para Santa Catarina, passando por Nonoai e descendo as barrancas do rio Uruguai até chegar no porto do Goio-ên e ali pegar uma balsa. Antes de entrar na balsa não havia um vivente que resistisse às bergamotas que caiam dos pés de tão carregadas que ficam até hoje.
Mas no Votouro, corria a fofocama de que o chefe da indiada tinha um tesouro escondido. Era ouro puro tirado das terras do Alto Uruguai, rica em pedras preciosas e águas termais.
Escondia seus achados, bem guardado. Era um índio maleva forte e era a própria lei da aldeia. Resolvia no braço as questões. Caso a bagunça fosse um pouco mais acalorada era com o rabo de tatu e se algum se altercava um pouco mais por causa dos efeitos da marvada pegava o camboim e fazia o julgamento e a condenação na hora. Mas se o ocorrido envolvesse mais de 4 ou cinco parentes ou visitantes, daí o três listras crispava do lombo da indiada e cada um ia para sua casa curar a bebedeira e esfriar as ideias.
Mas sabedores do tal tesouro, alguns começaram a planejar o resgate de tal riqueza.
Vamos fazer uma festa de aniversário para o véio - sugeriu um parente.
O véio é esperto, vai descobrir e o rabo de tatu vai lanhar o lombo da indiada - argumentou um primo.
Já sei, vamos aproveitar a festa da paróquia e a procissão. Ele não perde e a casa fica sozinha. Deu a ideia para outro aparentado.
No domingo de festa o pessoal começou cedo. O chefe da indiada, como de costume levantou na madrugada, afiou a prateada e seguiu para o salão paroquial. Em um galpão mais adiante uma turma pelava os porcos, depenavam galinhas, outros preparavam os espetos de madeira, outros principiavam o fogo numa vala no chão. As mulheres na cozinha preparavam saladas, cuscuz, pães e doces. E não podia falar um traguinho de cachaça para limpar a goela e tirar a poeira vermelha.
Lá pelas 10 horas chegou um padre vindo de Erechim, mas era nascido em São Valentim, de onde saíram muitos padres que se ordenaram no Seminário Nossa Senhora de Fátima de Erechim. O cacique estava no lugar de honra dentro da igreja, mas não soltou sua prateada atravessada na guaiaca, nas costas.
Enquanto acontecia a missa, os planejadores do resgate do tesouro aproveitaram para entrar na casa, que era grande, de madeira e alta. Construída em madeira de lei e assentada em cepos de cerne de angico.
Subiram a escada, abriram a taramela e pé ante pé foram direto no quarto. A cada passo rangia a madeira e os valentes engraçados paravam, olhavam e ouviam a cada passito. Vai que o véio volte com a prateada. Reviraram tudo. Até destruíram o colchão de crina. Nada em nenhuma peça da casa. Abriram o alçapão no forro da casa e nem reluz do tal ouro ou pedras preciosas.
Após a procura sem resultados de encontrar do tesouro do chefe da aldeia. Resolveram ir embora e voltar a lida na festa, a missa estava chegando ao fim e o almoço estava quase começando no salão paroquial.
Saíram da casa, fecharam a porta da sala e trancaram com a taramela de novo. Ao chegar no primeiro degrau da escada para descer, a visão do inferno. Era o próprio coisa ruim. Sim, era ele que estava embaixo esperando os parentes visitantes. tinha que descer por ali. Haja desculpa.
O cacique nem perguntou. Um por um passavam por ele e recebiam a Santíssima Trindade pelo pecado de cobiçar as coisas alheias:
Um relhaço com rabo de tatu, um pranchaço de três listras e uma benzedura com galho de camboim. Nem precisou usar a prateada.
A festa ocorreu normalmente e os caçadores de tesouro aproveitaram o sal grosso do churrasco para desinfetar e cicatrizar as feridas. Sal grosso e cachaça feita com cana de açúcar da região. Sobrou até para o padre que teve que jogar água benta para tirar o demônio do couro dos envolvidos.
E o tesouro? Parece que o véio havia enterrado lá para os lados do campo santo. Morreu sem ninguém se aventurar a cavar na sepultura. Huumm, será que compro uma pá?
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