terça-feira, 24 de janeiro de 2023

A VITRINE E A BALCONISTA

 Todos os dias a caminho do trabalho o rapazote parava na frente da loja, apreciava a vitrine por alguns segundos. Seguia seu caminho e repetia quando voltava para casa almoçar, depois no retorno para o horário da tarde e quando ia embora à noite.


Admirava a grande vitrine, mas seu interesse era a balconista que ali trabalhava. Jovem, bonita, elegante. Uma beleza simples que chamava atenção. Era do tipo mignon, rosto delicado, cabelos pretos lisos. Trajava vestidos de corte básico feitos em chita com estampas florais. 


Uma tarde de verão ela estava mais deslumbrante como nunca havia visto. Vestido de Petit Poá, cuja graça, suavidade e leveza deixavam seu corpo mais escultural e belo. Quanto ele parou na vitrine para apreciar os produtos expostos ela abriu um sorriso cheio de ternura, que o encantou mais ainda. 


Ela chegou na porta da loja e o convidou para entrar e conhecer. O coração do moço quase parou, pulava, parecia que iria saltar do peito. Ela falou com ele, e aquele sorriso encantador, era mais do que um beijo. 


Envergonhado, ruborizado pelo convite de conhecer o interior do estabelecimento com vitrines enormes, entrou timidamente. Nada falou, pois o nervosismo o deixava gago. Ela explicou cada produto e cada modelo, condições de pagamento  e documentação necessária. 


Ele nem sabia o que ela estava falando, o maior prazer era estar ao lado daquela bela moça que ele admirava todos os dias. Um pouco mais de idade que a dele. Ela tinha uns 18 anos e era balconista. Cuidava sozinha da loja. Ele com 15 anos, ainda office-boy. Mas estava nos céus por chegar tão perto, e receber aquele sorriso que ele nunca iria esquecer pelo resto de seus dias. 


Em certo momento ela passou a mão no produto, explicando a qualidade e tocou na ponta dos dedos dele, para que também sentisse a qualidade da madeira e do veludo. Ele só lembrava daquele rosto lindo do sorriso embriagante. E estava pertinho dela. Não ouvia nada do que ela falava, estava enternecido. Só voltou ao mundo terreno quando ela perguntou;


  • Te vejo sempre aqui olhando nossos produtos. É para alguém? Quando chegar a hora damos toda a atenção e temos carnê próprio para prestações. Temos vários tamanhos, materiais e adornos. 


Ele agradeceu, criou coragem e estendeu a mão para se despedir. Olhou nos olhos negros da menina balconista, segurou a mão dela por uns segundos, pois sentiu que não a veria mais. Seu coração não aguentaria vê-la todos os dias, admirar seu  sorriso e seu corpo naquele vestidinho simples, mas que a deixava divina.


No dia seguinte ele mudou de rua. Nunca mais parou na vitrine da funerária da cidade e nem ficou admirando os produtos em promoção. Não queria comprar, só queria ficar mais perto da balconista.


Nenhum comentário:

Postar um comentário