domingo, 30 de abril de 2023

O Tarzan do Petrópolis

 


Uma mesa de bar no fim de tarde com amigos, colegas de profissão sempre rende bons causos, como este que vou contar.


Há mais de 40 anos,por volta das 10 horas toca o telefone na redação do jornal. Só um plantonista nesta hora que ligava para delegacias de polícia, Polícia Rodoviária Federal e Estadual. Não havia boletins, nem rede social e nada unificado. Era discar número a número da lista imensa e colher informações anotando os ocorridos e se tivesse algo grave o fotógrafo iria mais tarde.


Naquela manhã o ramal da chefia tocava sem parar. Insistente.


  • Puta que pariu, que não pára de tocar essa bosta. Assim vou ficar o domingo todo aqui! Reclamava sozinho o repórter de plantão, um sujeito atarracado de pouco pescoço e vestindo bermuda o que lhe dava a aparência do mestre Yoda de Star Wars.


  • Redação do jornal, bom dia! Atendeu o repórter.

  • “Polamordedeus” Manda alguém aqui que o Nacinho loqueou. Falou a mulher do outro lado da linha.

  • O que houve, minha senhora? Insistiu o repórter.

  • Fala para mandar alguém aqui que ele está doido. Manda um padre também.

  • Mas o que houve?

  • Você vai ver meu filho, me manda bombeiros com escada, ambulância e um padre. Ordenou a senhora.


O experiente repórter ligou para a chefia, comunicou o fato, em seguida telefonou para os Bombeiros, Polícia Militar que tinha ambulâncias e correu atrás de um táxi. No caminho passou no bairro Floresta onde morava um padre dos bons e pelo jeito do fato requeria alguém experiente. Tocaram para o Conjunto Habitacional Monsenhor Scarzello, no bairro Petrópolis. A Brasília, duas portas, amarela pintada a pincel pelo taxista quase levantou vôo. Chegou a 60 km por hora na Monsenhor Gercino quando era paralelepípedo. Chegaram rápido. Domingo de manhã, pouco movimento e na época Joinville era conhecida como Cidade das Bicicletas, nada como hoje que cada um tem seu auto.


De longe já dava para ver o entrevero de gente e o colega em destaque. Taxista ficou de boca aberta, o Padre, com dificuldades, saiu do banco de trás da Brasília com seus paramentos e um reforço de água benta, pois “las brujas” estão soltas.


Logo chegaram Bombeiros, Polícia e a chefia.


  • Nacinho, desce daí. Deixa de ser lacaio. Ordenou o chefe.

  • Daqui não saio// Daqui ninguém me tira. Cantava a plenos pulmões uma famosa marchinha de Carnaval. Com voz meia englolada devido aos efeitos da loucuragem.


Um oficial da PM tentou negociação, bombeiros trouxeram a magirus e Nacinho, nada de descer. Corria de um lado para o outro no telhado da casa da Cohab, cantava a marchinha e de vez em quando um uivo, um urro e bradava.


  • Eu sou o Tarzan! Eu sou o Tarzan! OOOOHHHHHHUUUUUHHH!


Vizinhança dava risada, família envergonhada, colegas preocupados, afinal se cair é morte certa. Ainda vai dar gasto e o pessoal vai ter que fazer vaquinha para enterrar o vivente.


Aquela lambança durou um bom tempo até que a chefia experiente achou a solução. chegou mais perto da casa ao pé da magirus e argumentou:


  • Tarzan! O Padre acha que você está com o diabo no couro. A Polícia vai te levar por causa da confusão e perturbação. Os vizinhos estão putos que você acordou todo mundo num domingo de manhã. A Jane não quer papo com você. A Chita não vai mais pular de galho em galho. Se você descer tenho dois presentes que te mandaram:


Na minha mão direita um litro da melhor cachaça do Moppi, a amarelinha, envelhecida nos barris mais antigos e você conhece bem. Ele te enviou de presente e na minha mão esquerda uma maconha melhor do que esta que você fumou que teu compadre do Floresta te deu.


Desce, pega teus presentes e aproveita o domingo.


Lá de cima Nacinho parou o gritedo. Como se fosse um milagre, se fez o silêncio. Pensou, olhou a multidão. Estufou o peito deu mais um grito de Tarzan. - OOOOHHHHHUUUUU! E se atirou do telhado, caindo na cama de contenção dos Bombeiros.


  • Quero meus presentes! Cobrou a promessa tão logo estava estirado na cama elástica.


Fato verdadeiro. Nada de nomes porque alguns estão vivos, ainda, aqui em Joinville. Se o seu vizinho fizer alarido que é super herói. Nem chame o Padre Quevedo. Siga a fórmula e aproveitem o feriadão de primeiro de maio.


O Tarzan?  Naquele domingo secou a garrafa da “marvada”, de tarde enrolou uns três charutos de maconha e na segunda foi trabalhar. Chegou com cara de quem nem sabe de nada. Viveu mais 40 anos.






quarta-feira, 12 de abril de 2023

O gauchão de apartamento que se apaixonou pela equitação

 O gauchão de apartamento que se apaixonou pela equitação


Há um tempinho reencontrei um colega de trabalho, que nos conhecemos há uns 30 anos. Abraço cinchado, falamos um pouco da vida e o que aconteceu em três décadas. Depois de uma charla de meia hora decidimos ampliar as falas em outro dia. Me convidou para almoçar no domingo. Faria um churrasco gaudério.


No dia marcado fui no endereço do vivente por volta das 10h, esperando que o mate tivesse pronto e que já servido um martelinho de branquinha para tirar a poeira da goela.


Bati palmas, veio no portão e me atendeu, entramos na casa. Nada de mate, pois o sujeito acha que dá câncer na garganta, já que ouviu falar de uma pesquisa. Fiquei quieto e não toquei mais no assunto. Olhei em volta e nada de carvão, nem uma paletinha de ovelha. Muito menos um daqueles copinhos de vidro pequenos onde se coloca uma dose de cada vez e se mete nos queixos até não ficar uma só gota. Mas tem que ser “daquela que mata o guarda”. Já comecei a ficar preocupado.


O tal gaúcho, nascido na vila IAPI de Porto Alegre, se dizia torcedor do São José, clube do bairro e conta a lenda que teria a maior torcida do Rio Grande do Sul ganhando de Internacional e Grêmio. Mas não tem nenhuma foto e muito menos camiseta ou flâmula do tal clube do coração. Aí já minha feição começou a mudar. Eu já parecia um bulldog, ou “bordoga” como se diz lá fora.


Lá pelas 11h30min ele veio com uma garrafa toda enfeitada, para não dizer afrescalhada, com um tal de Gin e uma latinha de tônica. O domingo ficou torto. Gin com tônica. Bebida de gaúcho? Mas nem nos costados com a Argentina. Eu já meio vesgo e tonto de fome. Ele saltou com essa:

- Deixei o churrasco já temperado com um preparado que vi no programa gourmet. É só botar aqui na airfryer que fica prontinho em meia hora. Confesso que aí saltou os butiá dos bolsos. Pensei em como sair dali, imaginei se alguém me telefonasse com um assunto urgente. Nada.


Ajeitou duas linguicinhas, duas sobrecoxas de frango temperada gourmeticamente, conforme viu na TV. Era o churrasco gaudério do malandro do IAPI. Esperei a sobremesa, pelo menos uma ambrosia, um arroz doce. Nada. Apenas uma barra de cereais diet.


Mas o melhor veio de tarde. Me convidou para conhecer o estábulo onde guardava a égua de montaria que comprara por R$ 15 mil. Sua distração era nos finais de semana a montaria. Escovava a égua de pelo cebruno. Dava umas voltas e no final da tarde de domingo guardava a bicha que ficava sob os cuidados de gente que entende.


Mandou o pessoal encilhar a danada e trouxeram um banquinho para o gauchão, quase 60 anos e com uma pancinha avantajada subir na montaria e dar uma campereada. Quando vi lá adiante o sujeito pilchado, já na sela vindo devagar com uma cavalariça puxando a égua pela rédea até levá-lo a porta da estrebaria,  entendi o investimento, os cuidados e paixão repentina  pela equitação.


Estou até pensando em meter a mão na guaiaca e investir nessa diversão. A visão das cinco irmãs cavalariças que cuidam dos animais é uma visão mais bela que as dançarinas de can can do Moulin Rouge em Paris.


As cinco morenas de crinas negras, sedosas e brilhantes vestidas em jeans dois números menores, bem como as camisas de cowboys com botões a menos e lenço de seda no pescoço. Chapéu com barbicacho colorado e botas de cano alto trabalhadas com ornamentos e esporas de prata.


Só me restou parabenizá-lo pelo investimento, pelo belo animal e desejar que aproveite por um bom tempo. Me despedi e ao sair ouvi uma das moças que veio recolher o animal:


- Senhorzinho, posso levar ela para a baia?

- Pode sim. Por hoje chega.

- Vou buscar o banquinho para o senhor descer.


Sai antes de ver a cena. Melhor ter a visão de quando ele aguentava 90 minutos em campo e mais prorrogação. Mas pelo menos aguentou duas horas em um show de Rita Cadillac. Tirou fotos e recebeu beijinho no rosto. Prometeu deixar a marca do batom da Cadillac por um longo tempo. 



domingo, 2 de abril de 2023

O privilégio de ser joinvilense

 


Desafio qualquer um a me apontar outro município que tenha tantas opções de vivência, lazer e cultura gratuitas para o povo. Isto é o privilégio de ser joinvilense.


Vamos às belezas naturais: rios limpos, turismo rural bonito e acessível, boa comida. Quem gosta de campo, em cima da serra tem  Campo Alegre. Para quem aprecia praias tem de sobra.


Temos cinema, inclusive com núcleo de produção local. Temos teatro da melhor qualidade com companhias locais e espaços super adequados como o Teatro Juarez Machado, Ajote, CEU Aventureiro e Amorabi, apenas citando os equipamentos públicos gratuitos. Existe um grande circuito de bandas de rock da melhor qualidade que tocam na noite, bem como grupos de música erudita, corais em alemão e orquestras. É só escolher.


Esta semana Joinville viveu o 5º Pianístico, quando recebeu grandes e talentosos nomes do piano mundial. Oportunidade para conhecer, ouvir vários tipos de música ao piano, seja no teatro, na belíssima Sociedade Harmonia Lyra, praças públicas, cafés, livrarias, restaurantes e dentro de empresas. Tudo de graça. Onde você vê isso?


E tem mais. Neste domingo, se você gosta dos Beatles tem os Concertos Matinais às 10h30min na Casa da Memória, junto ao Cemitério do Imigrante. Durante todo o dia temos ainda o Pianístico e de tarde show grátis de samba/pagode com Dudu Nobre e Karina, na Praça Dario Salles (espelho d`água).


E tem ainda shows de música e teatro em casas de shows privadas. 


E mesmo assim se você continua sendo uma pessoa chata e repetir:


-Joinville não tem nada pra fazer…


É hora de fazer sua malinha e partir.