sábado, 27 de abril de 2024

O TRIO AMOROSO NA MADRUGADA E A TRAIÇÃO QUE AJUDEI RESOLVER

 

Era um casal, que aparentemente se gostava muito e principalmente nos finais de semana as demonstrações de carinho ultrapassavam até mesmo Wando na canção Fogo e Paixão. 


Nos finais das tardes de sábado a movimentação começava. Bernardo iniciava o fogo na churrasqueira, Paula preparava as bebidas e a JBL ligada no spotify com a melhor seleção que os três apreciavam. Toni, era caladão e ficava só observando, nada fazia.


O cheiro do churrasco atravessava o muro e me atiçava. Também quero um belo pedaço desta carne. Não da vizinha Paula, que também era um espetáculo, mas da alcatra, maminha e às vezes picanha. Bebidas no gelo de boa qualidade. Vinhos de Vapolicella, nada de promoção de supermercado e cervejas só Heineken.


Da JBL saia a trilha sonora apaixonada com Roberto Carlos, Caetano, Betânia, Wando, Marisa Monte e lá no meio até um Reginaldo Rossi cantando Mon Amour, meu bem, ma Femme. Assim eram as noites de sábado. Ouviam música, comiam iguarias e churrasco, dançavam e às vezes a música ficava tocando e o trio ficava em silêncio. Dava para ouvir risadinhas, algo faziam….Depois retornavam a dançar de rostinho colado. Eu ouvia os tlec! tlec! de garrafas vazias sendo descartadas na lixeira


Mas teve uma noite que Bernardo quase furou os ouvidos da vizinhança repetindo várias vezes a canção Depois de Marisa Monte. Ouvia, tocava de novo e de novo e de novo. Acho que era um adeus, pois não o vi  mais. E Paula ficou reclusa por uns tempos até que outro carro começou a estacionar na frente da casa dela. E Toni, com cara de emburrado, ali sentado.


Certa noite lá pelas cinco acabou bebida, acabou comida e a fome bateu. Imagino que ninguém estava em condições de dirigir e nem pedir fast food. Paula sugeriu:


  • Tenho um pacote de grãos. É só jogar água para amaciar e  uns molhos.

  • Não sei, preciso de “sustança”, e não sou passarinho para comer alpiste ou qualquer outro grão, respondeu Bernardo. Mas mesmo assim ela preparou o prato e devoraram. Depois se fez silêncio até o sol raiar. Certamente dormiram com a pancinha cheia de bebida e de “grãos”. Toni nem bola. Nem experimentou.


Acordei às 6 horas, preparei um mate e fui para a frente de casa olhar o movimento, que não existe. Olhei por cima do muro e lá estava Toni. Olhava para mim e para a lata onde davam a ração dele. Entendi na hora. os “grãos” que comeram era a ração de grandão que ficou sem comida. Aturou a dupla a noite toda, enjoou de Marisa Monte, não lhe deram os “grãos” com molhos. E não tinha como reclamar.


Preparei uma porção generosa da melhor ração, com sachê de carne, e levei ao velho Toni que salivava e devorou em poucos segundos. Feliz, sorriu para mim e deitou na calçada. Teria o sono dos justos na manhã de domingo. Naquela tarde alguém deixou meu prato em cima do muro. Nada falaram. Toni virou meu amigo. Quando passo em frente da casa faz festa, abana o rabo, sorri e pula. Sempre é bom fazer novos amigos.



imagem:Stock de Arte


domingo, 21 de abril de 2024

A bela morena de cabelos sedosos na casa da mangueira


Com estes lindos dias de sol l de outono lembro de uma bela e formosa, que vivia com alegria, dentro de suas condições de vida simples, em um bairro de Pelotas, mais precisamente no Areal. E Pelotas é lugar de mulheres bonitas, como o sul do Rio Grande do Sul, e adentrando pela fronteira oeste. Havia uma lenda de que as mais belas viviam em Bagé, mas as alegretenses também eram de fechar o comércio. Deve ser a cruza por fronteiras não bem limitadas entre os três países do sul onde se encontram  Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul. Claro que o Rio Grande é um país, alguém vai duvidar?


Nesta época do ano a região fica mais bonita com a luz de outono e las morochas ficam mais belas, mais atraentes, mais sensuais. Ela, com sua alegria, estava sempre cantando e dançando ao realizar seus afazeres domésticos. Eu seguia diariamente para a empresa onde eu trabalhava na área de comunicação no Areal e sempre a via. 


Era pequena, tipo mignon, pele cor de cuia, cabelos pretos e sedosos que iam até a cintura. Sempre prendia uma flor do lado direito que a deixava mais delicada. Usava vestidinhos simples, feitos de chita, muito comum para quem tem pouca renda. Envolta neste algodão, que de longe parecia tão aconchegante e carinhoso com aquele corpinho lindo, ela dançava sozinha. Era tão graciosa em seus gestos e passos que encantava qualquer passante, era impossível não observar e admirá-la.


Aumentava o volume do rádio e dançava sozinha ouvindo Roberto Carlos, Wando, tangos e  boleros. Raramente levantava o olhar para ver quem passava pela rua. Vivia dentro daquele mundo introspectivo e possivelmente sua felicidade estava ali em coisas simples e belas, como música, dança, sol e seus afazeres. 


Algumas vezes sentava num banquinho debaixo de uma mangueira, que nunca frutificou,  e escovava os lindos cabelos , que com o sol de outono o deixava brilhoso, como se fosse uma rara seda negra. E a caneca de lata a acompanhava, possivelmente com café ou chá. Bebericava aos poucos e passava a escova nos fios de seda que cobriam seus ombros nus. Apenas o vestido de alças ela vestia e me deixava imaginando a escultura que deveria haver debaixo de seu estampado floral.


Numa manhã de abril vi a casa fechada. Imaginei que deveria dormir até mais tarde, porém incomum, mas na volta do trabalho verifico outra vez. Novamente a casa estava totalmente fechada e alguns dias depois já havia marcas do abandono.


Curioso, desci do ônibus em um ponto de parada antes da casa e perguntei num boteco sobre tal lindeza que ali morava e apontei para a casa. O bolicheiro me olhou com cara de assustado e perguntou:


  • Mas vivente, o senhor conheceu a moça da casa da mangueira?

  • Sim, sempre vejo todos os dias quando passo aqui e achei ela muito bonita. Respondi.


O bodegueiro fez o sinal da cruz e pediu que eu fosse embora e nunca mais voltasse. Tentei argumentar, saber desta reação e o que houve com a linda morena, sensual,  de cabelos sedosos. Mas como ele ficou muito exaltado, sai logo. Já no próximo ponto do ônibus botando o pé na escada para subir ouço um chamado:


  • Ei moço, espera aí. Gritou uma senhora.

  • Sim, o que houve?

  • Você viu mesmo a moça daquela casa?

  • Sim, todos os dias quando vou ao trabalho e acho ela muito bela e um jeito especial, respondi

  • No es posible. Fue mi hija la que falleció hace mucho tiempo. Estás viendo fantasmas y no vuelvas a venir aquí con esta conversación. Toma tu curso. Recomendou a senhora em tom enérgico, mas também angelical. 


Aceitei o conselho e diariamente quando passava de ônibus pelo local, evitava olhar para aquela casa da mangueira. Fechava os olhos por instantes ou olhava para outro lado e até puxava conversa com o passageiro do lado. 


Melhor assim, vai que ela levante a cabeça e pisca para mim…..Si ella hace eso, mi corazón se detiene.





domingo, 14 de abril de 2024

O Oscar vai para ….




Nesta semana estava conversando pelo whatsapp com um amigo de longa data, personagem de muitos causos, pois o maleva é campeão e deveria receber o Oscar de interpretação como melhor ator e até de efeitos especiais. Ou até mesmo o Oscar Cara de Pau.


Conversamos sobre estes 32 anos que nos conhecemos e a prosa sempre é agradável e recheada de bons fatos da vivência. 


Não resisti à curiosidade e perguntei sobre o namoro com a mesma moça que dura 34 anos, e sem nunca ter comprado uma aliança, fazer uma cena, daquelas bem idiotas de o cara se ajoelhar e pedir em casamento. Nunca vi coisa mais ridícula! Houve um caso em Jaraguá que um  piá gastou o que não tinha, comprou aliança, contratou filmagem e músicos e quando a namorada desceu da escada rolante do shopping o boca aberta de joelhos com a cena toda. Ela olhou e disse : não me faz passar vergonha, pegou o outro rumo e sumiu na braquiária. Certamente para evitar isso ele nunca fez tal produção.


Conversa vem, conversa vai me disse que só dá certo pela confiança e liberdade. Cada qual nos limites de seus domínios, cada um com seu carro, seu quarto e sua casa. Assim dura um século.


Perguntei se ela não tinha ciúmes e ele dela. Afinal viajam às vezes de férias separados. Me relatou que não, pois de acordo com as palavras dele: - Ela me conhece! e deu uma gargalhada.


Mas a verdade é que eu imagino o seguinte. Ela nada teme pois o sujeito com 60 anos, pançudinho, careca, carro velho,problemas nas juntas e pouco dinheiro, não vai poder querer se passar por Brad Pitt e nem George Clooney. Assim ela sabe que ele só vai até o bar beber Gin, Run, comer torresmo e dar uma beiçada num martelinho e 20 horas está na cama com dor nos quartos (quadril) para quem não sabe.


Pelo jeito vai ficar mais 34 anos sem  os amigos serem convidados para  comer um churrasquinho no casamento do James Dean da Vila IAPI.