Com estes lindos dias de sol l de outono lembro de uma bela e formosa, que vivia com alegria, dentro de suas condições de vida simples, em um bairro de Pelotas, mais precisamente no Areal. E Pelotas é lugar de mulheres bonitas, como o sul do Rio Grande do Sul, e adentrando pela fronteira oeste. Havia uma lenda de que as mais belas viviam em Bagé, mas as alegretenses também eram de fechar o comércio. Deve ser a cruza por fronteiras não bem limitadas entre os três países do sul onde se encontram Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul. Claro que o Rio Grande é um país, alguém vai duvidar?
Nesta época do ano a região fica mais bonita com a luz de outono e las morochas ficam mais belas, mais atraentes, mais sensuais. Ela, com sua alegria, estava sempre cantando e dançando ao realizar seus afazeres domésticos. Eu seguia diariamente para a empresa onde eu trabalhava na área de comunicação no Areal e sempre a via.
Era pequena, tipo mignon, pele cor de cuia, cabelos pretos e sedosos que iam até a cintura. Sempre prendia uma flor do lado direito que a deixava mais delicada. Usava vestidinhos simples, feitos de chita, muito comum para quem tem pouca renda. Envolta neste algodão, que de longe parecia tão aconchegante e carinhoso com aquele corpinho lindo, ela dançava sozinha. Era tão graciosa em seus gestos e passos que encantava qualquer passante, era impossível não observar e admirá-la.
Aumentava o volume do rádio e dançava sozinha ouvindo Roberto Carlos, Wando, tangos e boleros. Raramente levantava o olhar para ver quem passava pela rua. Vivia dentro daquele mundo introspectivo e possivelmente sua felicidade estava ali em coisas simples e belas, como música, dança, sol e seus afazeres.
Algumas vezes sentava num banquinho debaixo de uma mangueira, que nunca frutificou, e escovava os lindos cabelos , que com o sol de outono o deixava brilhoso, como se fosse uma rara seda negra. E a caneca de lata a acompanhava, possivelmente com café ou chá. Bebericava aos poucos e passava a escova nos fios de seda que cobriam seus ombros nus. Apenas o vestido de alças ela vestia e me deixava imaginando a escultura que deveria haver debaixo de seu estampado floral.
Numa manhã de abril vi a casa fechada. Imaginei que deveria dormir até mais tarde, porém incomum, mas na volta do trabalho verifico outra vez. Novamente a casa estava totalmente fechada e alguns dias depois já havia marcas do abandono.
Curioso, desci do ônibus em um ponto de parada antes da casa e perguntei num boteco sobre tal lindeza que ali morava e apontei para a casa. O bolicheiro me olhou com cara de assustado e perguntou:
Mas vivente, o senhor conheceu a moça da casa da mangueira?
Sim, sempre vejo todos os dias quando passo aqui e achei ela muito bonita. Respondi.
O bodegueiro fez o sinal da cruz e pediu que eu fosse embora e nunca mais voltasse. Tentei argumentar, saber desta reação e o que houve com a linda morena, sensual, de cabelos sedosos. Mas como ele ficou muito exaltado, sai logo. Já no próximo ponto do ônibus botando o pé na escada para subir ouço um chamado:
Ei moço, espera aí. Gritou uma senhora.
Sim, o que houve?
Você viu mesmo a moça daquela casa?
Sim, todos os dias quando vou ao trabalho e acho ela muito bela e um jeito especial, respondi
No es posible. Fue mi hija la que falleció hace mucho tiempo. Estás viendo fantasmas y no vuelvas a venir aquí con esta conversación. Toma tu curso. Recomendou a senhora em tom enérgico, mas também angelical.
Aceitei o conselho e diariamente quando passava de ônibus pelo local, evitava olhar para aquela casa da mangueira. Fechava os olhos por instantes ou olhava para outro lado e até puxava conversa com o passageiro do lado.
Melhor assim, vai que ela levante a cabeça e pisca para mim…..Si ella hace eso, mi corazón se detiene.
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