domingo, 29 de setembro de 2024

A ESCOLHA DA ARMAÇÃO DOS ÓCULOS

Nesta semana que passou fui em algumas óticas para ver o preço de um óculos para ler. Tenho um e quero ter outro para deixar um em casa e outro no trabalho e assim evitar estar carregando todos os dias. Não que seja pesado ou difícil, mas posso esquecer, afinal sou um idoso com credencial de estacionamento.


Em uma das óticas estava ao meu lado um casal escolhendo armações. Enquanto a outra atendente me mostrava modelos de armações, eu estava ali no espelhinho experimentando até escolher uma que me deixasse com cara de inteligente e mais bonito que bebê em dia de batizado. Espichei as orelhas para ouvir a conversa alheia.


  • Qual destes ficou melhor? Perguntou a formosa dama, uma mulher de rosto bonito e corpo atraente. O acompanhante fez sua análise:

  • O primeiro te deixou super sexy e com este sorrisinho, me deixa te querendo mais com este olhar de safadinha. A segunda armação, de padrão rajado, lembra de forma distante um casco de tartaruga ou uma oncinha, pode te deixar selvagem, meu amor, mas está bonita. Esta terceira aí está bem professoral e depois de 30 anos em sala de aula…acho que tem que se libertar. Algum aluno pode te reconhecer e comentar - Professora, saudades da senhora.. Mas com todo meu amor eu te garanto que essa quarta armação é a que mais gostei. Você ficou ainda mais bela, é fica, elegante, atraente e te deixa sexy sem vulgaridade. Bela e misteriosa e teu sorriso encantador me deixa ainda mais apaixonado por você.


Fiquei só ouvindo a prosa do sujeito. Ela escolheu a armação de óculos que o acompanhante indicou. Pensei comigo mesmo, dama de sorte. Trouxe especialista  bom de conversa. Certamente não lhe faltarão beijos ardentes.


Perguntei para a atendente se tinha uma armação do mesmo estilo que a cliente ao lado havia escolhido. Afinal, eu já havia recebido uma consultoria completa. Infelizmente ela me disse que aquele modelo era exclusivo, havia apenas aquela peça e era só para óculos feminino.


Voltei para minha escolha, sem antes dar uma bela olhada na cliente que saiu. Era de encher os “zóio”, mesmo. Perguntei o preço da armação com as lentes indicadas pelo médico “zoista”, os que cuidam dos “zóio”. Ela escreveu o valor e disse, o senhor pode parcelar no cartão em até dez vezes sem juros.


Naquela hora meu coração quase parou, pois era mais do que eu ganho no mês. Agradeci a atenção e disse que iria pesquisar um pouco mais. Sai meio “tropicando” de “assustamento” com o valor. Vou ficar com  apenas um óculos mais um tempo. Afinal, carregar um óculos leve para lá e para lá não me custa nada.


Imagem:personagem  Edna Moda - Os Incríveis- Pixar/Disney


domingo, 22 de setembro de 2024

O CHURRASCO ESTRANHO

No 20 de setembro os gaúchos e gaúchas de todas as querências comemoram o Dia da Revolução Farroupilha, uma peleia que começou em 1835 e durou dez anos, há 189 anos. Entre lanças, pontaços, adagas, baionetas, patas de cavalo, o Rio Grande do Sul enfrentou o Brasil. 


Ao longo dos anos esta data é cultuada e se criou a Semana Farroupilha. Mas o gauchismo não é só de quem nasceu no Rio Grande do Sul. É um momento de liberdade, de esperança, de cultura, de bons valores, respeito, civilidade e também de relembrar vitórias, pelejas e contar vantagens e causos aos amigos. 


É como diz a letra da música Não Podemo se Entregá pros Home, de autoria  dos compositores: Francisco Alves / Francisco Scherer / Humberto Gabbi Zanatta e defendida por Leopoldo Rassier: Foi vencedora da Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana em  1982. E diz assim:  “O gaúcho, desde piá, vai aprendendo; A ser valente, não ter medo, ter coragem; E, em manotaços do tempo e em bochinchos; Retempera e moldura a sua imagem”.


Assim é o gaúcho. Meio papudo também. Para a gauchada só há dois times Grêmio e Inter, Os melhores cantores são os noss, desde Lupicínio Rodrigues, Nelson Gonçalves, Elis Regina, os melhores grupos gaúchos como Os Monarcas e os Serranos e uma montoeira de bons cantantes como os Fagundes que criaram o hino Canto Alegretense. E tem os rockeiros do Engenheiro do Hawai, Papas da Língua, TNT, Nenhum de Nós, Cascavelletes, Cachorro Grande e antes nos anos 70 todos ouviam Almôndegas, grupo criado por Kleiton e Kledir. Quem não lembra de Vento Negro, composição de José Fogaça que depois foi senador por vários mandatos e prefeito de Porto Alegre. 


E o churrasco ninguém sabe fazer. Só nós. E nesse aspecto fui convidado para um churrasco de 20 de setembro na casa de um amigo que tem um cunhado lá do hemisfério norte, ou de outro planeta. Não é que o vivente apareceu a caráter para homenagear a gauchada? 


Quando vi, me caiu os butiá dos bolsos. Calça jeans colada, cinto de fivela enorme dourada do rodeio de Barretos, bota country cravejada de ilhoses, camiseta Vans e lenço do Guns N` Roses. Cada uma deveria trazer algo para ajudar no churrasco.


  • Olá pessoal. Vim trajado como manda o figurino. Trouxe aqui linguicinha gourmet e sal do himalaia. Dizem que é milagroso. E tem também uma especialidade, uma cerveja artesanal de chocolate com pimenta, que é o último grito. Se apresentou a figura.


Olhei o vivente, pensei e preferi ficar de boca fechada. Como diziam os antigos: boca fechada não entra mosca. Dei uma bicada na cachacinha de Santo Antônio da Patrulha e larguei uma prancha de alcatra no fogaréu. Se ele jogasse o sal do himalaia por riba de meu assado, aí sim, iria começar uma nova peleja Farroupilha.  E dê-lhe pranchacho  de três listras e relhaço com rabo de tatu.


Parabéns gauchada. E não precisa nascer no Rio Grande do Sul para amar  e perpetuar a rica cultura gaúcha que está espalhada por todo o planeta Terra. Tudo começou há quase 200 anos na Nação Gaúcha, que fica aqui do ladinho de Santa Catarina.


domingo, 8 de setembro de 2024

SORVETE SECO COM CARRINHO OU COM ANEL?

 


  • Quer o sorvete seco de que cor, com carrinho ou estes com anel para dar para uma menina? Vai olhando aí enquanto atendo outro freguês. 


Enquanto o bodegueiro cortava um pedaço de queijo e embrulhava em papel de procedência duvidosa, pesava uma volta de linguiça e enrolava em folhas do Correio do Povo,  metia uma colher dentro da lata de margarina Primor e largava em cima da balança para pesar a conchada, a gente ficava olhando o balcão envidraçado e os baleiros, com amplo sortimento. Todo dia havia um gritedo de galinhas. A maioria dos botecos tinha um galinheiro e vendiam as penosas vivas. Amarravam as patas e a gente levava a bicha para casa. Era só torcer o pescoço, tirar as penas com água fervente, queimar as penugens nas labaredas do fogão à lenha, abrir a buchada, cortar e preparar em panelas de ferro.


As mãos cheias de moedinhas, largávamos em cima do balcão. Se faltasse alguns centavos não tinha problemas, depois o dono do armazém cobrava ou deixava para lá. Eram coloridos os bolichos e com ampla variedade de mercadorias. Desde pão, leite, charque, alpargatas, conservas, alguns tinham açougue e uma apartado para os apreciadores de uma caninha, uma Serramalte que bebiam na volta de uma mesa de bilhar. O carteado era inocente para alguns gringos aposentados que jogavam partidas por centavos ou pela conta da bebida. A carpeta forte era só nos clubes sociais dos cola fina no centro. Ali perdiam fortunas.


Mas eu sempre gostava mais das balas Banzé, de embalagem amarelinha e eram macias. Chocolate em formato de cigarro eram mais caros, e hoje a gente percebe como era ruim. Nada de chocolate, era pura gordura vegetal. Mas não dispensámos, nem mesmo as maria-mole, doces de abóbora, merengue colorido, pé de moleque, teta de nega, paçoca e a tradicional laranjinha Balvedi. K-suco era para o lanche da tarde, era beber e bancar o vampiro com os beiços vermelhos da tinta. Bolacha Maria empapada na boca e as merendinhas eram caras. Puro açúcar, mas era bom.


Com o progresso do comércio, infelizmente as pequenas mercearias, bares, bolichos, pulperias acabaram perdendo espaço e fechando. Deram lugar aos supermercados surgidos nos anos 70 e agora os atacarejos. Aos poucos a história, as lembranças vão morrendo.


Na minha infância, em Erechim, só ali  perto de casa tínhamos um sortimento grande a começar pelo Bar do Preá ou Armazém São Jorge que tinha quase tudo. O Bar do Benjamin reunia uma gambazada embaixo de uma imensa árvore que dava uma sombra espetacular. Era a ala dos bebedores, maioria polacada,  que colocavam cadeiras e mesas no sombreiro. Na rua de trás e ainda sobrevivendo tem o Canova, hoje o estabelecimento é tocado pelo Cláudio que estudou comigo nos Subúrbios. Armazém sortido com tulha para venda de produtos a granel. Vende uma erva-mate de boa qualidade daquelas que a gente abre a tulha e se serve da quantia a ser pesada.


Quando  o seu Arlindo abriu um armazém bem em frente ao Clube 13 de Maio, era uma potência. Fez até inauguração com música ao vivo. 


Subindo a lomba da rua Itararé na esquina o Bar Amarelinho do Fahl era bem posicionado e também sempre cheio. Do outro lado da rua Havia o Hübener, um mercado forte com bons produtos e atendimento muito cortês. Nesta rótula era como se fosse a quinta avenida de Nova Iorque. Bares, mercados e lojas. E tinha ainda o ponto de táxi do Piana, o açougue e o nosso barbeiro o Reato, falecido recentemente que trabalhava com o Cherubin. 


Atravessando a movimentada avenida o Mercado Zordan era composto de várias unidades. Aqui eu abusava. O atendente do açougue e padaria me dava uma colherada de margarina Primor. Imagina  meu refinamento e gosto. Saía todo bobo com a boca cheia de margarina. E não podia esquecer uma tripa de doce de leite Mumu, vendido em metro, com embalagens pequenas. Furávamos o plástico com os dentes para sorver o doce de leite que vinha dentro.


E mais distante havia Armazém Cichoski (Itália x Marcelino Ramos), o  Bar do Carlão (no início da Av Sete de Setembro), Bar do Piccinini (no morro da polícia - próximo ao Imlau) e muitos outros que abasteciam as famílias, as comunidades, a gambarzeira em busca de um trago e a piazada que juntava moedas para comprar porcarias. Alegria dos dentistas.