Quer o sorvete seco de que cor, com carrinho ou estes com anel para dar para uma menina? Vai olhando aí enquanto atendo outro freguês.
Enquanto o bodegueiro cortava um pedaço de queijo e embrulhava em papel de procedência duvidosa, pesava uma volta de linguiça e enrolava em folhas do Correio do Povo, metia uma colher dentro da lata de margarina Primor e largava em cima da balança para pesar a conchada, a gente ficava olhando o balcão envidraçado e os baleiros, com amplo sortimento. Todo dia havia um gritedo de galinhas. A maioria dos botecos tinha um galinheiro e vendiam as penosas vivas. Amarravam as patas e a gente levava a bicha para casa. Era só torcer o pescoço, tirar as penas com água fervente, queimar as penugens nas labaredas do fogão à lenha, abrir a buchada, cortar e preparar em panelas de ferro.
As mãos cheias de moedinhas, largávamos em cima do balcão. Se faltasse alguns centavos não tinha problemas, depois o dono do armazém cobrava ou deixava para lá. Eram coloridos os bolichos e com ampla variedade de mercadorias. Desde pão, leite, charque, alpargatas, conservas, alguns tinham açougue e uma apartado para os apreciadores de uma caninha, uma Serramalte que bebiam na volta de uma mesa de bilhar. O carteado era inocente para alguns gringos aposentados que jogavam partidas por centavos ou pela conta da bebida. A carpeta forte era só nos clubes sociais dos cola fina no centro. Ali perdiam fortunas.
Mas eu sempre gostava mais das balas Banzé, de embalagem amarelinha e eram macias. Chocolate em formato de cigarro eram mais caros, e hoje a gente percebe como era ruim. Nada de chocolate, era pura gordura vegetal. Mas não dispensámos, nem mesmo as maria-mole, doces de abóbora, merengue colorido, pé de moleque, teta de nega, paçoca e a tradicional laranjinha Balvedi. K-suco era para o lanche da tarde, era beber e bancar o vampiro com os beiços vermelhos da tinta. Bolacha Maria empapada na boca e as merendinhas eram caras. Puro açúcar, mas era bom.
Com o progresso do comércio, infelizmente as pequenas mercearias, bares, bolichos, pulperias acabaram perdendo espaço e fechando. Deram lugar aos supermercados surgidos nos anos 70 e agora os atacarejos. Aos poucos a história, as lembranças vão morrendo.
Na minha infância, em Erechim, só ali perto de casa tínhamos um sortimento grande a começar pelo Bar do Preá ou Armazém São Jorge que tinha quase tudo. O Bar do Benjamin reunia uma gambazada embaixo de uma imensa árvore que dava uma sombra espetacular. Era a ala dos bebedores, maioria polacada, que colocavam cadeiras e mesas no sombreiro. Na rua de trás e ainda sobrevivendo tem o Canova, hoje o estabelecimento é tocado pelo Cláudio que estudou comigo nos Subúrbios. Armazém sortido com tulha para venda de produtos a granel. Vende uma erva-mate de boa qualidade daquelas que a gente abre a tulha e se serve da quantia a ser pesada.
Quando o seu Arlindo abriu um armazém bem em frente ao Clube 13 de Maio, era uma potência. Fez até inauguração com música ao vivo.
Subindo a lomba da rua Itararé na esquina o Bar Amarelinho do Fahl era bem posicionado e também sempre cheio. Do outro lado da rua Havia o Hübener, um mercado forte com bons produtos e atendimento muito cortês. Nesta rótula era como se fosse a quinta avenida de Nova Iorque. Bares, mercados e lojas. E tinha ainda o ponto de táxi do Piana, o açougue e o nosso barbeiro o Reato, falecido recentemente que trabalhava com o Cherubin.
Atravessando a movimentada avenida o Mercado Zordan era composto de várias unidades. Aqui eu abusava. O atendente do açougue e padaria me dava uma colherada de margarina Primor. Imagina meu refinamento e gosto. Saía todo bobo com a boca cheia de margarina. E não podia esquecer uma tripa de doce de leite Mumu, vendido em metro, com embalagens pequenas. Furávamos o plástico com os dentes para sorver o doce de leite que vinha dentro.
E mais distante havia Armazém Cichoski (Itália x Marcelino Ramos), o Bar do Carlão (no início da Av Sete de Setembro), Bar do Piccinini (no morro da polícia - próximo ao Imlau) e muitos outros que abasteciam as famílias, as comunidades, a gambarzeira em busca de um trago e a piazada que juntava moedas para comprar porcarias. Alegria dos dentistas.
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