sábado, 25 de janeiro de 2025

A TAL DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL JÁ AJUDA NAS CONVERSAS ATRAPALHADAS



Nosso grupo de amigos, senhores respeitáveis, todos com mais de meio século e alguns beirando os 80 está se rendendo à Inteligência Artificial. 


Na primeira assembleia de 2025, a sessão durou quase sete horas de conversas, risadas, mentiras, fatos verdadeiros e testemunhais. O papo começa animado, mas a memória de alguns já começa a falhar. Na segunda hora em diante ou quando o nível do copo vai baixando já precisamos da tecnologia.


Sorte que temos um membro do grupo, exímio na operação de um celular com programas de Inteligência Artificial. É só colocar a pergunta que o danado do bichinho sabe a resposta. E é certeiro, sem hesitação, com datas, nomes corretos e fontes. Incontestável.


  • Vocês lembram daquele que foi tal coisa lá naquele lugar? E os detalhes somem da mente.

  • Espera aí, acalma o nosso consultor “sabido” na procura.

  • Foi o fulano, que fez tal coisa entre anos tais e tais. Depois dele veio o cicrano que fez isto e aquilo. Impressionante a precisão dos fatos.

  • Isso aí está errado. Eu sei! Não foi nada disso, se altera outro que acha saber de tudo de memória.

  • Olha aqui…Nosso consultor mostra os fatos na tela e o colega se dá por vencido. Perdeu mais uma para a Inteligência Artificial.


Após horas de “conversaiada” chega a hora de dizer adeus e cada qual seguir adiante. E para finalizar a noite e ter uma boa digestão, um brinde bom uma dose de bom bitter, feito em São Martinho. 


Na calçada, na hora da despedida, novamente cada um com seu bichinho na mão chamando um auto para levá-los para casa. Alguns não conseguem digitar porque os dedos ficam enormes depois  de algumas doses. Sempre alguém salva digitando a chamada para o aplicativo.  Outros precisam de ajuda para entrar no carro porque as juntas doem e o mais sóbrio, faceiro e exibido mostra o tal aparelhinho com orgulho. Afinal salvou a reunião com sua memória virtual. Na próxima reunião acho que ele vem com notebook onde a tela e as lentes são maiores.


Anotei aqui para contar a novidade. Um deles, quer ser boxeador com 60 anos. Huumm. Novo Balboa. Conto semana que vem. 


imagem: dreamstime





domingo, 12 de janeiro de 2025

E A FEDERAL MANDOU O REVISTAR O ÔNIBUS

Nos anos 80 era modinha “importar” lança-perfume da Argentina para uso e venda nos bailes de carnaval, principalmente nos clubes sociais. Embalados pela canção de Rita Lee, que foi um sucesso danado em 1980.


Dois conhecidos, de Erechim, resolveram fazer uma importação para abastecer os vários bailes nos clubes sociais da elite, os populares e também aqueles promovidos, no interior do município onde a coisa fervia.


Planejaram a viagem, indo em uma excursão de velhinhos, daquelas que vão a Fóz do Iguaçú, atravessam ao Paraguai onde compram porcarias, bugigangas que chegando aqui nada funciona. E a viagem incluia um rolê por terras argentinas, onde tinham o contato da loja que vendia o tal produto, de boa procedência e qualidade inegável. Daqueles em que o dono repete: - La garantia soy yo!.


Os dois orelhudos partiram na excursão e lá compraram um estoque de lança-perfumes. Os dois espertos imaginaram que poderia haver fiscalização e desparafusaram o compartimento dos dutos do ar-condicionado do ônibus e ali colocaram a valiosa carga que renderia um bom dinheiro no Carnaval erechinense. Os “gringo tudo loco”, imagina.


Não previram a má qualidade das estradas. No solavanco das estradas, alguns tubos vazaram e o preparado se espalhou pelo ônibus todo e a velharada acabou respirando e inalando o éter do capeta. Uns ficaram eufóricos, animados com tamanha energia, tiravam as velhinhas para dançar. Outro queria fazer strip tease, um deles pegou o microfone e começou a cantar sucessos de Waldick Soriano e Nelson Gonçalves, outros vomitaram por cima do passageiro ao lado e uma velhinha gritou:

  • Ahh que saudades do carnaval de 54…

  • Aquele filho da puta do Jânio Quadros que apodreça no inferno…Vociferou um senhor  de quase 2 metros de altura e uns 130 quilos. Estava agitadão.


Em meio a confusão, os dois importadores se meteram lá no fundão, nos últimos bancos, já que na época os ônibus não tinham banheiros.


O motorista, em carro simples, sem cabine viu a situação e parou em um posto de gasolina perto de Medianeira, no Paraná. Todo mundo desceu e casualmente uma guarnição da Polícia Rodoviária Federal estava tomando um café no posto. Foram averiguar e sentiram o cheiro estranho.


Olharam a velharada alterada, agitados, olhos vermelhos e os dois mais novos quietos que nem nenê cagado. Não queriam nem descer do ônibus.


Busca daqui, olha ali, revista malas e nada. Uma hora depois a PRF liberou o Mercedes de carrocerias Incasel e seguiram viagem. Mais 500 km até Erechim. Assim que cruzaram o Goio-Ên, os dois guapecas desparafusaram o compartimento onde haviam escondido o produto e retiraram as ampolas que não quebraram.


Foi um Carnaval divertido no Clube do Comércio, Atlântico, Caixeiral, Aceja e Cascata Nazzari. Ficou na história e nos bolsos dos dois que recuperaram o investimento com a venda de um produto importado de alta qualidade. E os frascos vazios, encheram com uma fórmula caseira que incluía éter, acetona e umas ervas, perfume Amor Gaúcho e até uma folhas de louro. 


Em sete semanas o Carnaval está chegando. Será que tem uma excursão de velhinhos? Vou reservar minha passagem.


domingo, 5 de janeiro de 2025

O ESPETACULAR FUSCA BORDÔ

Sempre gosto de minhas prosas com meu sobrinho Fábio de Erechim. Possui um repertório rico de acontecimentos na província. Hoje vou contar sobre o raríssimo Fusca Bordô que foi especialmente restaurado com tudo original a pedido de um empresário bem sucedido.


Um jovem novo rico, saído do Vale Dourado na área rural de Erechim, depois de “enricar” começou a satisfazer seus sonhos de garoto. Comprou casa boa, um apartamento em Itapema no litoral catarinense, sítio bem montado com trapiche para barco de pesca na barragem do rio Passo Fundo, moto de trilha e faltava o tal do mais desejado, o fusca bordô.


Este assunto chegou aos ouvidos de um conhecido que gosta de um brique, mais do que de mulher. Para fazer um negócio move montanhas.


Não teve dúvidas e pelas suas andanças pela região, entre Cotegipe e São Valentim, encontrou um “fuqui” encostado embaixo de uma pitangueira e coberto de folhas, cocô de pássaros e manchado de frutas esmagadas e já apodrecidas. Perguntou se o dono queria vender. Na hora o proprietário se livrou da tralha por 500 contos. Só para tirar a velharia do lado da casa.


Amarrou duas voltas de soga no parachoque e levou a máquina para casa dele. Passou lava jato e começou a restauração. Onde tinha furos de ferrugem, aplicou uma nova técnica de recuperação da lataria. Por dentro um papelão para dar sustentação e forma e pelo lado de fora massa para funilaria. Depois lixa na mão mesmo para ficar lisinho. Tudo lixado chegou a hora da pintura. Rolo de espuma e a tal tinta bordô. No estofamento uma napa bem vagabunda cobria o que sobrou da espuma e revestimento original.


Nas rodas, o pretinho nos pneus deixou novo e as calotas foram compradas em um ferro-velho do bairro São Cristovão onde vendiam produtos de procedência duvidosa. No espelho retrovisor um crucifixo pendurado e no vidro traseiro uma mãozinha dando tchau.


Incrementou o fuscão com um toca-fitas e para dar um toque de requinte aplicou um aromatizante para veículos para tirar os maus cheiros que ali persistem. Produto de alta performance trazido diretamente do Paraguai por Executivo de Fronteira conhecido no Alto Uruguai.


Carro pronto, encerado, velas novas pegou a primeira e briqueador foi na empresa do possível interessado. Pediu para falar com ele. Mandaram esperar. Quando o empresário chegou o nosso negociante se apresentou e já foi falando que iria realizar o tão acalentado sonho do novo amigo.


  • Encontrei uma pérola, uma jóia especial para você. Fiquei sabendo que tu queria um original fusca bordô. E trouxe para você ver.


O interessado olhou, entrou no carro, deu partida e se encantou com o aromatizador. Abriu o capô dianteiro, tudo limpinho com estepe e ferramentas. Abriu a parte traseira viu  o motor 1600 limpo, correia nova e brilhando com uma sprayzada de WD 40 com cheiro de baunilha.


  • Mas quanto vai me custar este auto?

  • Nem te preocupa. Um fusca raro e bem cuidado como este, único dono de uma professorinha de Erval Grande te faço por 30 mil.

  • Se quiser 25 pode pegar ali no caixa da empresa.

  • Veja bem, é raro, é bordô, motor zerado , suspensão em dia e olha só os pneus, bem pretinho. Imagina você andando na Avenida Sete de Setembro e na Maurício Cardoso. Do Ypiranga até o Vale Dourado, todo mundo vai olhar e te dou duas fitas do Monarcas, três dos Montanari e uma do Passarela.

  • Aí sim, tá fechado. Vamos lá dentro transferir…

  • Ahhhh. Bem, é que este é um auto de colecionador. Pode demorar um pouquinho a transferência, mas você pode confiar, porque comigo trato de brique é no fio do bigode.


Se alguém se interessar por auto raro e totalmente restaurado…é só falar. Documentação? Bem, isso resolve mais tarde.