sábado, 17 de maio de 2025

A CEGONHA VAI CHEGAR

 

Todos os dias as duas irmãs brincavam no pátio da casa, com a esperança e a inocência de que a cegonha chegasse logo. Afinal a mãe contou a novidade de que chegaria mais um bebê para se juntar aos quatro irmãos já nascidos, sendo três garotas e um mocinho mais velho. 


Sentavam em uma pedra grande na frente da casa, no meio da floresta, pois viviam em lugar ermo que pertencia a uma serraria que desmatava pinheirais e madeiras de lei. Mas nada disso importava. Os céus do sul, azul da cor do paraíso, renovava todos os dias a esperança da chegada da cegonha com a prometida criança, que elas deveriam ajudar a cuidar. Seria uma novidade e um entretimento.


Logo após o meio-dia de um sábado presenciaram a  movimentação diferente na casa e uns grunhidos como se fosse filhotinho de cachorro. As duas ficaram de longe, curiosas com o acontecido e espiavam para dentro da casa. Nada de alguém sair e dar conhecimento do ocorrido. 


Olhavam para o céu, espiavam para dentro da casa, subiam na pedra,desciam da pedra e nada da tal cegonha com um pano branco e uma criança enrolada, segurando pelo bico. A inocência as fazia acreditar.


Um pouco depois uma comadre da vizinhança surge com uma caixa de sapato e um ser magro, feio e doente. De tão pequeno e miúdo nem tinha como segurar nos braços. Era preciso uma caixa de sapatos para segurar o vivente, que pelo conhecimento,não vingaria. Não passaria daquela noite.


Olharam uma para a outra. Olharam para o céu e perguntaram:


  • E a cegonha?


  • Entrou pela janela e vocês não viram. Agora juntem lenha, busquem água no poço e esquentem mais água para dar banho neste bugrinho. Explicou a comadre e parteira da vizinhança.

 

A tal da cegonha com o bebê no bico não apareceu, mas o vivente sobreviveu e está gordo, bonito e lustroso que dá gosto de olhar. O fato é verídico, verdadeiro, com testemunhas e ocorreu em 16 de maio de 1964, no meio do mato, lá pelos lados de  Planalto/Alpestre/Faxinalzinho (Votouro).


E elas continuaram acreditando na cegonha? Sim, até ficarem mocinhas.


crédito imagem: Sempre Família




domingo, 11 de maio de 2025

EU VOLTO AMANHÃ!

  Neste domingo ele acordou cedo e foi logo encontrá-la. Entrou pé ante pé no quarto, sem fazer barulho, colocou as flores que trouxe em um vaso, bem na penteadeira. Eram rosas amarelas lindas, as preferidas dela.


Sentou ao lado da cama,  deu um beijo, segurou sua mão, fez carinhos em seu rosto e ficou olhando para ela longamente, O palpitar do coração ele sentia nas mãos que ele continuava segurando, a vida ele sentia no respirar pausado. 


Em seus pensamentos ele recordou cada momento bom e ruim, que ajudaram a construir aquela união. Tempos de dificuldades com muito amor, de necessidades com carinho, de perdas com esperança e assim foi a vida com amizade, companheirismo, justiça, admiração e principalmente amor.


Por longos minutos ele ficou ali observando, acariciando, admirando. Apenas as lágrimas desciam silenciosas de seus rosto. Limpou a face com a ponta do lençol. Levantou, novamente levou as mãos no rosto dela e acariciou, ajeitou o cabelo, beijou-a na testa.


Ele sabe que ela nunca ouvirá ou que voltará.


    -Mãe, hoje é seu dia, fica com Deus, eu volto amanhã. Disse o filho e saiu do quarto do hospital. 

Ele não viu, mas uma gota de lágrima saiu dos olhos da senhora e um pequeno esboço de sorriso. Amanhã ela estará esperando pelo seu filho, com todo o amor que pode haver dentro de um coração de mãe.