sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O SENHOR É MEU PASTOR!

 O SENHOR É MEU PASTOR!


Por muito anos viajei por vários lugares do mundo. Em determinada época durante 9 anos seguidos fui a Paris, uma cidade que gosto. Mas só a circunferência de 4 km, que é onde estão as belezas da arquitetura, museus, boa comida, boa bebida, cultura e arte. Fora deste círculo vem a pobreza da periferia, os cinturões de miséria que hoje se alastram pelas calçadas, metrôs, marquises e avenidas.


Geralmente fico em hotéis da Place de La Republique, que são turísticos de baixo custo. Dalí uma caminhada de 2 km estou em Notre Damme e segue o circuito até Louvre, Tuileries, Eiffel, D`Orsay e os demais ícones.


Era um domingo 12 de maio de 2013, quatro dias antes de meu aniversário que comemorei numa visita ao Palácio de Versalhes. Garoa fina, um pouco frio, sai caminhar para comprar algo para comer, já que o café do hotel é caro (opcional) e ruim. Preferível ir na boulangerie da esquina e comprar uma baguette, alguns frios e vinho de preço médio e qualidade aceitável. Saí à direita pela rue du Malte, cheguei na esquina do Cafe Du Temple, olhei para os lados, só vi o caminhão lava-jato (limpeza) lavando as ruas. Sim jatos fortes lavam as ruas e calçadas por causa dos dejetos e cheiro de xixi que os imigrantes, principalmente africanos e do oriente médio, deixam pelas marquises dos prédios. A Boulangerie Artisan estava aberta desde cedo. Mas apenas uma vitrine com a janela  para a rua, algo impensável para nós. Os pães expostos num balcão. Ali mesmo onde tem fuligem, poeira e uma mania nojenta. Apalpam o pão. Soltam, pegam outro. Fazer o que, peguei um. Segui pela rue Faubourg, passei o açougue (boucherie)  e na outra esquina vi uma brasserie Cafe Grisette com doces lindos na vitrine, que me chamaram atenção. Alegria de gordinho.


Escolhi alguns para levar. Mas não me contive em comer ali mesmo um mille feuilles que de tão bonito e colorido dava dó de comer. Mas deixando de frescura é o folhado que tem em padarias locais. Segui minha romaria atrás do vinho. Lá você compra carne no açougue, pão na padaria, doce na doceria e bebidas na loja de bebidas. Mas o mercadinho estava fechado. Era cedo e sou madrugador. Todo lambuzado de creme e açúcar de confeiteiro, decidi esperar abrir. Estava pertinho do hotel, Só dobrar a esquina.


Uns minutos depois abriram a porta de rolo e as de vidro internas. Entrei, caminhei por entre os quatro corredores e cheguei na área dos vinhos. Comparei preços. - Não pode ser- pensei com meus botões. Aqui deve ser o único lugar do mundo onde a água é mais cara que o vinho. Acho que um litro de água custava 7 euros e uma garrafa de vinho 3 ou 4 euros. Fui olhando outros produtos como Foie Gras, escargots, patês, etc.


Uma das coisas que gosto e me dá prazer e tranquilidade é andar no supermercado. Mas este prazer foi interrompido:

Pastor, o senhor aqui. Não pode ser. Me abençoe pastor! O senhor acorda certo também? Onde o senhor está hospedado? Pastor, adorei sua pregação. Hoje vou mais cedo. - me abordou uma senhora de uns 40 anos. Fervorosa em sua admiração em me encontrar. Tentei falar alguma coisa para esclarecer que eu não era o pastor, que ela me confundiu.


Pastor, sou de São Paulo, estou aqui há anos, frequento a Pão da Vida há anos  e o senhor não imagina como estou feliz em lhe encontrar aqui. Sua pregação foi tão linda, mas tão linda que eu deveria ter gravado. Insistiu a devota. Apenas sorri e tentava falar algo para esclarecer o mal entendido. Nem peguei a tão sonhada garrafa de vinho. Comecei a caminhar pelos corredores e ela vindo atrás puxando conversa.


Como não iria me livrar da fiel devota resolvi entrar na brincadeira. Olhei para ela, peguei em suas mãos e disse:

  • Irmã, sou seu pastor e obrigado por estar lá. Hoje farei uma pregação muito mais bonita. Conto com você. Chegue antes para conversarmos. Seja abençoada. Amém!

Os olhos dela encheram de alegria, apertou minhas mãos bem forte e disse: Obrigado pastor. Saí rapidamente, sem levar o meu vinho. Consegui salvar o pão e os docinhos.

Eu com cara de pastor?  Huummm. Será? Glória a Deusxxx diria o Cabo Daciolo.


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