O entregador de pizza
Malandro bom é o malandro esperto, espirituoso e rápido no gatilho. Quando cheguei em Joinville, vim para trabalhar no jornal e lá encontrei uma turma ótima, gente boa, que me receberam muito bem, se fizeram amigos, companheiros rapidamente. Era mais um na matilha!
Maioria jovens na faixa dos 23, 24 25 anos alguns casados, outros solteiros outros bígamos outros polígamos. Trabalhávamos em sintonia e não tem como não saber, desconfiar da vida pessoal de quem convive a maior parte do dia em um salão de 40 pessoas, que na época usavam máquina de escrever, réguas de paica e tudo era desenhado em papel e o jornal montado em grandes mesas de colagem (past up).
Sabíamos quem sai com quem, quem tem amante, quem tem casinhos, quem ficou com quem. Situação quase que normal. Ou romances de final de festa embalados apenas por algumas Faixa Azul que eram fabricadas em Joinville, considerada a melhor cerveja mundial do Brasil, devido a qualidade da boa água extraída em jazida própria alí no bairro América.
Mas um alemãozinho magro, mais feio que indigestão de torresmo, de óculos, falante, boa praça, sujeito educado e bom colega tinha fama de conquistador. Eu só pensava: este mal acabado, falta até reboco e cheio de namoradas e eu não consigo nem um oi. Mas deixa pra lá, um dia surge um chinelo velho para meu pé torto.
O alemãozinho era festejado pelos colegas e algumas lançavam olhares lânguidos para o sujeito. De canto de olho eu só observava. E corria a falação de que ele visitava com regularidade uma das colegas, casada, mas o marido trabalhava em outra cidade e vinha de vez em quando.
Semanalmente ele ia fazer uma visita, assistir um filme do Corujão (não existia internet nem Netflix) e levava o lanche porque a fome aumentava com tanta movimentação noturna. Não tinham dia para se encontrar. Todo dia era dia, afinal o marido não estaria.
Era uma terça-feira, dia tranquilo sem ter que preparar edições de final de semana. Lá pelas 20 horas ela saiu e foi para casa. Só deixou o bilhetinho na mesa: Passa lá!. Com sorrisão de lagarto e mais faceiro que mosca em rolha de xarope, o alemãozinho adiantou serviço, tratou de guardar tudo e nem tchau deu para a turma.
Dá-lhe calcanhar até uma pizzaria do centro. Escolheu uma gigante de 4 sabores (Calabresa, Margherita, Muzzarela e Napolitana) para agradar mais ainda. Aproveitou para levar um vinho do bom. Nada de garrafão. Gastou os tubos na compra de um Almadén, que na época era coisa de rico e só para ocasiões especiais, principalmente para quem ganha salário de jornal.
Saiu da pizzaria fazendo poeira na calçada. Já eram 21h30min. Sobe e desce calçadas, atravessa a rua rápido para não esfriar a pizza e nem esquentar muito o vinho que ele pediu gelado.
Esbaforido meteu a mão na fechadura, que deveria estar aberta como sempre foi o combinado. Ela estaria de penhoar esperando na cama, e o toca-fitas tocando Total Eclipse of the Heart de Bonnie Tyler. Ué, será que trancou? Pensou e forçou de novo a porta. Nada!
Pois não, o senhor deseja algo? - atendeu um homem aparentemente mais velho.
Não, nada é que sua senhora queria lhe fazer uma surpresa e mandou entregar esta pizza com este vinho - se desvencilhou rapidamente o alemãozinho malandro.
Quanto custa. Tenho de pagar? Questionou o marido.
Tá pago, tá pago, não precisa...disse o colega e saiu queimando sola.
Amor, adorei sua surpresa, só estranhei que o motoboy veio a pé. Coitado! Vamos comer? Convidou o marido colocando a pizza sobre a cama e o vinho no bidê com dois copos cristalcica.
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