quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Porcada ruim

 Porcada ruim


Em cidades do interior eram comuns campeonatos de futebol na área rural. Aqui em Joinville tinha o famoso Copão Kurt Meinert. Lá em Erechim, havia certames fortes com disputas em Jaguarete, Aratiba, Cotegipe, Capo-Erê, Áurea, linha Gramado e tantas outras localidades.

Nunca fui aficionado deste tipo de esporte, mas tinha um colega de aula que gostava e levava a turma de caminhão.

Haveria um jogo grande lá no Flamenguinho de Capo-Erê num domingo de tarde. Me convidaram para ir junto, como nada tinha para fazer me juntei ao pessoal.

Meu colega pegou o caminhão, um Chevrolet D-60, motor inglês perkins diesel de 6 cilindros e capacidade de 5.8, cabine verde, carroceria de carga geral seca, lona impermeável dobrada. Mas seu pai com forte sotaque italiano recomendou:

  • Guri, non me vai fazê cagada. Òia lá o que von aprontá. Os puliça ton por aí- desfiou o rosário.

 E lá fomos nós recolher o pessoal. Ficaram de esperar na avenida Sete de Setembro, no Seminário Nossa Senhora de Fátima, saída para a transbrasiliana. Seguimos com o caminhão cheio, pessoal com fardamento completo nas bolsas e nunca faltava um engradado de Serramalte, fabricada na vizinha Getúlio Vargas.

Era um domingo bonito, pouco movimento, estrada quase deserta.Íamos pela rodovia RS-135, um trecho pequeno inferior a 20 km. Passado o posto de gasolina perto da Frinape havia um posto da Polícia Rodoviária Estadual. Para evitar problemas meu colega deu uma parada alí perto da Madeireira do Viero e mandou colocar a lona sobre a carroceria e todos ficaram quietos embaixo da lona naquela calorão. Estavam cozinhando.

Seguimos viagem, todos veículos passavam, mas não sei porque cargas d'água um policial parou nosso caminhão. “Deve ser coisa mandada do adversário” - pensei. “Vai dar cagada”, se apavarou meu colega motorista. “Bem que o véio avisou”, lembrou. Mas tentou manter a calma. E faltando apenas uns poucos quilômetros para chegar.

  • Boa tarde! Documentos do veículo e CNH - ordenou o policial rodoviário estadual. Prontamente foi entregue o documento do caminhão.

  • E sua carteira de motorista? - indagou o policial.

  • Esqueci em casa, saímos meio rápido - Eu sabia que era mentira, pois tínhamos 16 anos. “Agora vamos todos presos”, imaginei.

  • De onde vem e para onde vão? - Questionou o guarda.

  • De Erechim para Capo-Erê - respondeu.

  • O que tem aí atrás? Tá levando o que? - interrogou

  • Uma carga de porco para uma granja - respondeu rapidamente.

O policial segurando os documentos do caminhão, olhou desconfiado já que os porcos estavam em silêncio e com lona naquele calor. Não era uma caminhão porqueiro e nem tinha cheiro. Meu amigo suava frio, tremia com as mãos no volante pensando na bronca do véio e na surra de cinto que iria levar. Imagina cadeia, perder o caminhão e ainda ter que o gringo gastar em advogado. 

O guarda foi caminhando, cheirando, verificando a carroceria. Botou o pé no estribo subiu e levantou a lona. Lá estava todo o time deitadinho e quieto, sem nem um pio. Olhou, tapou a lona, desceu e voltou para a cabine. Voltou devagarito e pensou um pouco.


  • Carga de porco, né? Eu vi...piá de bosta. Acha que pode me enganar? Vou te dizer só uma coisa. Liga este caminhão véio , te arranca daqui. Não quero te ver. Esta tua carga de porco é tão ruim que nem para sabão serve. Volte lá pelo Toldo. Se passar aqui de novo, prendo o caminhão e vocês vão voltar a pé.

Apavorados seguidos os poucos quilômetros até o destino. Resultado da partida:  5 x 0 para o time local e a volta pela estrada de chão, esburacada e poeirenta. Melhor do que voltar a pé. E a porcada? Concordo não serviam nem para fazer sabão e muito menos para jogar futebol. Tudo Duroc!


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