Anão e gago
Este causo é autobiográfico. Quando eu tinha cerca de 4 ou 5 anos era pequeno, mirrado, magro. As véia achavam que eu era anão, pois não crescia como deveria. Era só orelhudo. Mas vamos a questão do gago.
Como os passeios e visitas eram a pé, lá ia eu carregado. Arrastado pela mão ou no colo quando era para subir a rua Itararé, lomba íngreme lá perto de casa. Numa tarde eu e mãe fomos no hospital de Caridade visitar alguém que estava internado. Na época faziam esta selvageria, levar crianças em hospital para visitar doentes.
Feita a visita, conversaiada a tarde toda voltamos para casa. A distância não é longe, cerca de 1 km, mas para criança de 5 anos é uma maratona interminável
Voltamos pela rua São Paulo, passamos o Colégio das Freiras, Unetral e chegamos na avenida Sete de Setembro, atravessamos e na esquina da Ruy Barbosa, onde hoje tem um prédio e a Vip Modas só havia um muro meio quebrado. Sempre tive a curiosidade de ver o que tinha atrás do muro.
Mãe me levanta, quero ver. Pedi para a mãe.
Não tem nada é só um buraco - argumentou pacientemente.
Quero ver! Me Levante - insiti de birra.
Tá bom. Concordou me pegando pela cintura e levantando para eu descobrir o que tinha atrás daquele muro que me intrigava tanto.
Era um muro de tijolos a vista sem reboco, carcomidos pelo tempo. Algo Inseguro e impensável mantê-lo assim nos tempos de hoje. Erguido, me apoiei no muro e olhei. O susto foi grande. Era um buraco enorme, dava uns 6 ou 8 metros de profundidade. Foi um choque, me atirei para trás instintivamente e comecei a tremer. Dali em diante não prestei mais. Fiquei gago.
Ki ki ki ki , ka ka ka ka.. Eu balbuciava assustado e nada saia.
Assustada a mãe me leva para casa chamou a vó Elvira e tratam de ver o que fazer. Já tinham que criar um anão e agora um anão gago. Carga pesada.
Aí vieram as simpatias: Água doce, correm atrás de um pintinho para piar na boca; alguém ache uma concha do mar para dar água colhida na chuva, mas não pode ser concha de caramujo africano que tinha muitos nos terrenos úmidos. Outra simpatia fazer falar com a colher de pau da cozinha na boca para destravar a língua e por último beber água do papagaio.
E a vó Elvira tinha o “Rico” um papagaio que trouxeram do Mato Grosso, daqueles grandes, entrava e saia da gaiola. Só ficava com ela. Não queria conversa com ninguém. Muita água bebi do resto daquele papagaio.
Certo dia acordei falando. O que deu certo?
Acho que foi a água do papagaio. Será?
Tem até uma foto que não me deixa mentir sozinho.
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