quarta-feira, 13 de maio de 2020

Nilton César e Ronnie Von

 Nilton César e Ronnie Von



Eu nem sabia quem eram, mas gostava de ouvir até furar o disco. Tinha uns 4 ou 5 anos e passava as tardes sentado no chão encerado e lustrado da casa de madeira  ou na poltrona do pai, que estava trabalhando. Tínhamos uma eletrola Victor ou General Eletric. Ítem de luxo, um móvel bonito que ficava como destaque  na sala (antes de existir TV). Abria-se as portas e ali dentro havia um possante rádio em ondas médias e curtas que pegava estações de todo o mundo. E uma gaveta com toca-discos. Nas laterais nichos para colocar os elepês e compactos de 33 ou 78 rotações por minuto. Na parte de baixo os alto-falantes cobertos por fina cobertura de uma seda perfurada. Coisa de luxo.

  • Não vai mexer e estragar o móvel do teu pai - recomendava a mãe. Mas eu era cuidadoso com estas coisas.

 Ela continuava na máquina de costura e eu me entretia na sala com os discos. Havia uma coleção de MPB em fascículos, outra de música erudita, muitos 78 rotações de tangos e boleros e dois disquinhos meus preferidos: Nilton César - A namorada que sonhei e Ronnie Von - A Praça.

Até hoje me pergunto as razões de eu gostar destas duas músicas e escutar várias vezes. Vai saber o que se passa na cabeça de um garoto de 4 ou 5 anos. Talvez eu gostasse da sonoridade, do estilo e da fantasia de uma época que não existiam clipes ou TVs . Os artistas a gente conhecia das revistas, de jornais ou só ouvindo. As novelas eram no rádio.

Mas era satisfatório e prazeroso ouvir Nilton César com seu sotaque carregado do R cantando : “Receba as flores que lhe dou/ Em cada flor um beijo meu/ São flores lindas que lhe dou/ Rosas vermelhas com amor/ Amor que por você nasceu” E assim ia. Terminava a faixa eu colocava de novo para desespero da mãe da vó.

E do Ronnie Von uma musiquinha quase infantil A Praça: “Hoje eu acordei com saudades de você/ Beijei aquela foto que você me ofertou/ Sentei naquele banco da pracinha só porque/ Foi lá que começou o nosso amor!. Pois é. Os dois ficavam roucos de tanto repetir para eu ouvir de novo. A agulha da eletrola furou os dois disquinhos e o “diamante” da ponta da agulha gastou.

Vá entender o gosto musical aos 4 ou 5 anos.


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