Querem roubar minha merenda
A primeira tentativa de me enviarem a escola foi infrutífera. Não que eu não gostasse de aprender ou era indisciplinado. Nada disso!
Me matricularam no “lariscola” e após adulto que procurei saber o que era este nome estranho. Daí concluí que era uma creche chamada Lar Escola, que ficava ali na rua Padre Feijó, esquina com a Sarandi, em Erechim, onde hoje tem uma igreja.
Mas voltando ao “lariscola” a minha irmã Pepita é que tinha o trabalho de me arrumar, preparar o lanchinho que levava na lancheira. Eu gostava muito de merenguinhos feitos em casa no forninho do fogão à lenha. Uma delícia.
Lembro que ao entrar na sala deixávamos os brinquedos e a lancheira em cima de uma mesa próximo a porta e seguíamos cada qual para seu lugar. Ali tínhamos atividades de creche, brincadeiras no pátio, desenhos e nos divertíamos com brinquedos em determinadas horas.
Mas desconfiado de deixar minha lancheira carregada de merenguinhos naquela mesa não me deixava tranquilo. Volta e meia eu ia até o mesão ver se não tinham metido a mão Nada me fazia concentrar nas atividades,nem desenhos, nem brincadeiras, nem caminhão de bombeiros. Meu olhar fixo de psicopata mirava minha lancheira. Alí estavam meus preciosos merenguinhos. Eram tostados, dourados crocantes por fora e cremosos por dentro. Cada mordidinha uma explosão de sabor.
Mas a gota final foi um dia que vi a professora mexendo no mesão. Na minha mente macabra ela estava tentando pegar meus merenguinhos. Imagina, Uma ladra e eu ficaria sem os preciosos. Tive um plano infalível. Imaginei uma missão difícil. Resgatar minha merendeira e mantê-la comigo.
Não tive dúvidas, esperei ela ir para o canto da sala atender outra criança e deslizei pela cadeira até o chão embaixo da mesinha, quando eu me rastejei por baixo das mesas para chegar até a lancheira e verificar minha preciosa carga. A professora me pegou com a boca na botija como diz o ditado, mas no meu caso com a boca no merengue, literalmente. Pela orelha me conduziu, carinhosamente, até meu lugar.
Eu sei, tenho certeza!. Ela queria meus merenguinhos, ninguém me tira isso da cabeça. Não deu certo a primeira tentativa de ficar na creche. Voltei à escola anos depois na Escola Estadual dos Subúrbios, hoje João Germano Imlau. Não precisava levar merendeira. Serviam pratões cheios no meio da manhã e com o frio e geada nesta época do ano estava aí o estímulo.
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