SP2, ESCOLTA E DESCONFIANÇA
Após minha formatura larguei meu trabalho na RBS-TV e Rádio Atlântida FM em 1988 e decidi seguir para Brasília. Era o ano da Constituinte e havia muito trabalho na capital federal com reais chances de crescimento. Faltavam jornalistas pois o mercado de comunicação estava efervescente.
Falei com o Cícero Moraes que era o gerente executivo e falei de meus planos. Pedi que as portas ficassem abertas caso eu voltasse. Conversa boa, pois as portas ficaram abertas e voltei um tempo depois para um cargo melhor.
Juntei todo meu patrimônio em uma mochila verde que ainda tenho como souvenir. Preparei tudo e embarquei sem lenço e sem documento no ônibus da Princesa do Norte. Após 36 horas desembarquei na rodoviária e tomei um táxi. Exibido falei ao chofer: - Hotel Nacional, por favor. O baiano me olhou viu minha indumentária e respondeu educadamente: Sim doutor. Em poucos minutos chegamos no imponente Hotel Nacional que na época era o melhor, onde se hospedavam delegações internacionais, senadores, deputados, empresários de grande porte. Hoje está decadente, mas há 32 anos era o top.
Me hospedei e do quarto liguei para o colega Gilnei Lima. Era tempo do telefone fixo para o apartamento dele. Havia dito a ele, que iria. E telefonei;
Gilnei, aqui é o Benhur, cheguei - disse.
Tá onde, vou te buscar - respondeu
Estou hospedado no Hotel Nacional - devolvi
Tá louco. A diária é teu salário do mês. Faz o seguinte. Desce rápido, cancela a diária e inventa que você vai ficar aqui em casa. - orientou
Meio assustado desci, falei do ocorrido, e o recepcionista consultou o gerente. Me cobraram só uma taxinha por ter usado o chuveiro e a toalha. Ufa. Ainda bem. Ele falou com a esposa, explicou minha situação e me levou para casa deles na 313 sul, lugar bacana. Um dos empregos dele era só para pagar o aluguel do apartamento de três dormitórios e dependência de empregada que era maior do que muitos apartamentos populares.
Instalado no domingo de manhã, almoçamos e de tarde eu já estava emprego no Correio Braziliense. Na segunda me arrumaram emprego na Rádio Capital. Vantagem de ter sorte e amigos.
Mas depois voltei, para assumir a chefia de jornalista da RBS TV em Pelotas, já que as portas ficaram abertas e o Cícero precisava de alguém. Mas esta introdução é para contar o causo de uma época sem celular, sem telefones e a satisfação de ter amigos e viver plenamente.
Voltei e uns tempos depois o Gilnei veio de férias. Passou na TV e combinamos sair de noite tomar uma Brahma no Laranjal, onde eu morava. Me apareceu com um possante SP2, um esportivo da Volks fabricado por pouco tempo nos anos 70, mas ainda um clássico.
Fomos no Balneário Santo Antonio, bebemos algumas, comemos peixe frito e outras coisas de boteco, conversamos e planejamos seguir para o centro, dar um rolê na avenida nos bares como Tulha e outros na volta do estádio do Pelotas, que era cheio de bares e restaurantes embaixo das arquibancadas.
Entramos no SP2 Gilnei bota a chave na ignição dá partida e nada. O carro só geme. - nhonhonhonho. Foi uma coisa de abrir o capô, ver as velas, dar uns tapas na bateria.Nda. Sem chances. Como já estávamos meio tontinhos decidimos então ir para casa e dormir. Abandonamos a epopéia. Mas ele não queria deixar o carro ali na avenida do Laranjal. Teve a idéia brilhante de empurrar o carro até lá em casa. Dava uns mil metros. Eu morava ali perto do Mercado Hilda, na avenida Rio Grande do Sul.
Já era mais da meia noite. Os dois empurrando o SP2, mas apareceu uma guarnição da Brigada Militar. Nos fez parar para verificar a atitude. Dois caras no silêncio da noite empurrando um carro. Pode não ser, mas parece que estavam roubando o carro.
Boa noite senhores - interpelou o policial
Boa noite senhor- respondeu Gilnei meio afastado. Felizmente não existia bafômetro.
O que houve?
Sem bateria, tentamos tudo, mas nada.
Por favor os documentos seus e do carro - requisitou o brigadiano
Gilnei começou a rir de nervoso. Tenta explicar. - Não tenho aqui deixei tudo em casa, Mas vamos levar o carro até ali na casa do meu amigo e deixar ali.
O brigadiano então disse que iria nos escoltar até minha casa, pegar os dados e daria um voto de confiança. Assim o fez.
Era tarde, embalados pelas Brahmas dormimos. Na manhã seguinte fui trabalhar e Gilnei ficou lá tentando fazer pegar o SP2.
Até aí tudo bem Difícil foi explicar para a esposa que não estava aprontando, Imagina a cara dela ouvindo a explicação.
Fui na casa do fulano, tomamos algumas cervejas, o carro não pegou empurramos mais de 1 km, fomos escoltados pela Brigada que nos liberou e dormi no sofá pequeno com os pés para fora.
Agora te pergunto. Você acreditaria? Acho que até hoje ela não crê nesta história, Mas é a mais pura verdade. Pior que na época ela pensava que eu havia o levado à perdição. KKK
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