quarta-feira, 6 de maio de 2020

Este ônibus passa em Gaurama?

 Este ônibus passa em Gaurama?


Há muitos anos, quando nem existia asfalto de Erechim até Marcelino Ramos, a RS 331 era um atoleiro só. Os 53 quilômetros levavam várias horas para se fazer este percurso, passando por Gaurama, Viadutos e chegando na estância hidromineral de Marcelino Ramos, divisa com Santa Catarina.

Mas este causo é de um polaco que gostava de uma cachaça e pegava o ônibus ali na rodoviária velha, quando era na esquina das ruas Alemanha com Aratiba embaixo do antigo Hotel dos Goela hoje Alphaville.

Mas Boleslau vinha são, sem uma gota de cana pela manhã, bem cedinho no ônibus da Praia Bonita que fazia a linha. Vinha com um saco de algodão bem alvejado cheio de queijos. Já tinha clientela formada, vendia tudo, pegava os troco, passava no Zordan ou no Sonda, comprava o que precisava e final da tarde voltava a pegar o último ônibus para Marcelino, que passava pela localidade onde morava.

Mas o polaco gostava de uma branquinha. Tomava pura, sem gelo, estilo cowboy. Descia rasgando a garganta e cada gole dava uma tremida no espinhaço do polaco que virava o “martelinho” e falava alto ao bodegueiro: - Mais um Mercedinho”. Lá se ia mais um pila.

Conhecido de todos,quando estava na hora de saída do ônibus o próprio cobrador gritava de dentro do carro: - Vamo imbora polaco. Tamu saindo. Lá vinha ele trocando as patas e com dificuldade subia os 4 degraus do ônibus Mercedes da Incasel. Carro forte, que aguentava a buraqueira.

Certa tarde Boleslau estava muito atrapalhado. Para azar do motorista ele sentou ali do lado esquerdo na primeira poltrona, onde geralmente fica o cobrador do ônibus. Estava cansado, azul de tanto “martelinho”.

O motorista rezou o rosário de início.

  • Fica bem quieto, não vomita no meu carro que te deixo na porteira!.

  • Tá bom. - Concordou Boleslau com um bafo de múmia de dois mil anos.

Para piorar além da cachaça se atracou num vidro de ovo de codorna que estava no balcão. Por aí vocês imaginam.

Avisado foi, mas não se conteve. Mal o ônibus arrancou ele começou:

  • Motorista. Este ônibus vai para Gaurama?

  • Vai sim polaco. Fica quieto descansa - Garantiu o motorista.

  • Mas você tem certeza de que passa em Gaurama? insistiu.

  • Tenho sim, sou o motorista faço esta linha há 10 anos, respondeu pacientemente o chofer;

E assim foi por uns 15 minutos o polaco perguntando a mesma coisa.

Chegando logo após a Florestinha, antes do trecho da BR- 153 o polaco se levantou e bem alto questionou:

  • Este ônibus vai passar em Guarama? Já nem conseguia mais pronunciar o nome da cidade. E o motorista puto dos cornos com o passageiro respondeu:

  • Não, polaco, este ônibus vai para a puta que te pariu!

  • Mas e depois da puta que pariu ele vai passar em Gaurama?

Só se ouviu  o freio- motor, solavanco da parada, o hidráulico da porta abrindo e a polvadeira que não se via um palmo diante do nariz.

  • Desce polaco. Chegamos em Gaurama. Segue reto nesta estrada dá uns 20 km você está em casa.

Ônibus e os passageiros seguiram. O Polaco? Após 20 km de caminhada em estrada de chão certamente curtiu a ressaca e chegou em casa bem bonzinho.

Na semana seguinte comportou-se. Vendeu os queijos,bebeu graspa, mas se sentou lá nos fundos. Bem quieto.


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