Conhecíamos os vizinhos
Como era bom quando conhecíamos os vizinhos. Onde eu nasci e me criei, conhecíamos os vizinhos. Alguns viraram compadres outros eram tão amigos que eram como irmãos. Era comum os pequenos tratar os vizinhos próximos como Tio e Tia mesmo sem parentesco. Eram uniões de amizade, de solidariedade, de empatia de carinho, atenção e ajuda mútua. Todos sabiam da vida de todos, dos casamentos, dos filhos, dos problemas, das conquistas, das derrotas. Os bairros ou quadras eram microcosmos que conhecíamos bem e tínhamos segurança e liberdade.
As portas das casas nunca estavam trancadas. Entrávamos sem avisar, não havia nenhuma cerimônia nem mimimi. Não havia solidão. Passados mais de meio século é claro que lembro dos vizinhos: Santolin, Galli, Chiodi, Preá, Tibursky, Canova, Guimarães, Hubner, Setembrina, Fanin, Pichler, Malinowski, enfim muita gente. Hoje na minha rua, em Joinville, só conheço das duas casas do lado.
E no momento que estamos vivendo precisamos ficar mais distanciados e isolados. Dias atrás fui num supermercado e chegando na porta um rapaz veio ao meu encontro, visivelmente alterado. Deu um efusivo bom dia e veio em minha direção sorrindo. Mas uma alegria com olhar triste e semblante quase desesperador. Fala comigo, por favor. Eu não quero dinheiro, não vou te assaltar eu só quero alguém que fale comigo, ele repetia. Fiquei assustado, pensei em chamar a segurança, mas parei e ouvi. Ali mesmo em pé na porta do supermercado. Ele só queria uns poucos minutos de conversa com um ser humano. Só isso.
Agora lendo o jornal A Notícia na edição impressa de final de semana, publica uma matéria sobre os avanços da tecnologia na criação de robôs para que as pessoas conversem com este aplicativo, através de seu smart. É o tal de Replika que já é usado por mais de meio milhão de pessoas nos Estados Unidos. Triste o caminho da humanidade. Em breve vamos conversar com filhos e marido e mulher por aplicativos mesmo estando na mesma casa.
Ainda prefiro o contato com as pessoas, uma roda de chimarrão, um cafezão da tarde e um churrasco com os amigos, um passeio ao ar livre.
Já estou mateando desde às 5h esperando a cachorrada acordar. Pelo menos eles ainda me ouvem.
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