Nelson e o Simca Jangada
Esta semana tive uma ótima surpresa. Quarta-feira de noite recebo uma ligação com DDD 051, da grande de Porto Alegre. Inicialmente, pensei não atender porque ligação sem identificação pode ser de empresas de telemarketing, mas atendi e a surpresa foi ótima.
Aqui é um índio véio lá do Voutoro. Se apresentou do outro lado da linha um velho amigo. Nosso vizinho lá de Erechim e pai de amigos infância do Clóvis, da Miriam e do Wagner. Nelson Guimarães, aos 82 anos está firme, forte e saudável; Porém com um defeito irrecuperável, incorrigível e imperdoável. torcedor do Sport Club Internacional.
Não falava com ele desde 1988, quando eu ia seguido a Porto Alegre, durante muitos anos. Moravam na Mariante, pertinho do viaduto da Protásio, e já se passaram 33 anos. É muito tempo.
Daí me recordei coisas boas da infância, quando éramos vizinhos, em Erechim. Os contatos eram diários. Ele e meu pai eram caçadores de velórios. Outra hora conto este causo.
Eram famílias conhecidas e os vizinhos eram mais do que parentes, conviviam, se ajudavam e tinham uma prosa diária com uma cuia de chimarrão.
Recordo do Simca Chambord Jangada do Nelson Guimarães. Carrão de dar inveja. Uma station wagon, motor 2.3 V-8. Beberrão, fazia uns 6 km por litro. Mas nos anos 70 a gasolina era muito barata. Dava para andar nestas banheiras. O nosso vizinho da frente o Nilton Tibursky tinha um Galaxie ou Landau. Coisa linda, um luxo. Na rua de baixo, na Farrapos tinha o Schwingel que exibia um Dodge Dart. Mas imagina o custo para encher o tanque.
Aos domingos de verão, tio Nelson levava os filhos e eu de contrapeso até o Colégio Agrícola Ângelo Emílio Grando, onde havia um açude em que a piazada tomava banho. Era uma água suja barrenta, mas era tudo alegria. Dava para fazer piquenique, tomar banho no calor e nem se pegava doença de pele. Voltávamos no final do dia, cansados mas todo mundo contente.
Em outra ocasião, Nelson atravessou o Rio Grande do Sul com a Jangada. Fez os 600 quilômetros de Erechim a Alegrete, onde viviam os avós maternos dos filhos dele. A viagem era uma aventura, pois era época sem rodovia duplicada, alguns trechos nem pavimentação tinha. Era buraco e poeira. E para turbinar a nave, misturou com gasolina de aviação, que se conseguia com amigos no aeroporto. O Chambord voava pela pampa gaúcha. Chegava a 100 km por hora e as velas ficavam azuis. Ultrapassava Opala, Corcel, Itamaraty, Aero Willys. Cruzando o Passo Novo, quase chegando a Alegrete, um peão de uma fazendo vendo àquela nave em uma carreira sem fim imaginou que era um moderno trem. Melhor que o Minuano e saiu queimando campo por lá.
Conversamos por telefone quase uma hora rememorando causos e situações que me deu pano para mais umas histórias. E como hoje é domingo e estou longe do açude do colégio agrícola, vou ficar por aqui mesmo, fazer um mate com erva da Barão e encher de quebra-pedra e carqueja dentro da garrafa térmica.
A história dos velórios? Conto semana que vem.
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